“... Porque a todos é concedido ver,
mas a
poucos é dado perceber (...).”
Nicoló Maquiavelli
Aprecio o que
escreveu o argentino Jorge Luis Borges. Adorei aprender a “ler” com suas histórias. Ele gostava de dizer que se o escritor
não levasse o leitor para o contexto nas primeiras páginas, o livro não merecia
ser lido. Tenho-me feito esta pergunta quando preciso de alguma informação
sobre algo. Televisão, jornais, revistas, ou virtualmente.
Borges
afirmava: (...) Sem leitura não se pode
escrever. Tampouco sem emoção, pois a literatura não é, certamente, um jogo de
palavras. É muito mais. Eu diria que a literatura existe através da linguagem,
ou melhor, apesar da linguagem (...).
Neste
aspecto, acredito estamos nos tornando “birutas”.
Sem a pejoratividade, por favor. Biruta
é aquele aparelho utilizado nos aeródromos ou mesmo na marinha, para saber a
procedência dos ventos. De outra forma, quero dizer, com isso que, com o que recebemos,
diariamente, da dita “imprensa”, seja
de que tipo for, estão ou estamos nos tornando “birutas”,ou simplesmente desaprendemos a pensar por nós mesmos.
Você
já reparou em qualquer tipo de imprensa que possuímos hoje, se eles erram em
alguma coisa o que fazem? Apenas um pequeno rodapé (noticia minúscula no pé da página) nos casos de jornais, ou um: “... na edição de ontem erramos o nome de
fulano ao chamarmos de sicrano”. E o que mais?
Acreditamos
em tudo o que ouvimos, vemos ou lemos. Não acredita nisso? Experimente colocar
em canais de televisão, horário de noticias, por favor, o resto deixo para seu gosto definir o que assistir, diariamente:
Somente o lado “cão”, na linguagem jornalística, o lado pior do mundo e do dito
“ser humano”. E isso vende.... Dizem eles. Se vende, alguém lê,ouve ou
assiste... Logo...
Há
algum tempo atrás isso seria chamado de “cortina
de fumaça”, algo feito, para, na verdade, esconder, de fato, o que esta
acontecendo. E tudo funciona em nome da tal de “receita, audiência, tiragem” e, agora na internet, em número de
páginas sobre o assunto.
Então
coloque, por exemplo, já que esta lendo isso em um blog, de fato, em alguma
página de busca ou pesquisa, no computador, uma pergunta sobre “mortes no trânsito”: em menos de 0,26
segundos, certamente aparecerão mais de duas mil páginas sobre o assunto. Sim, eu disse duas mil páginas, de jornais, blogs,
revistas e outras “cositas mas” da
tal de internet. Algumas, certamente, impublicáveis.
Não satisfeito? Assista
somente três noticiários, tenha paciência, somente até começar o assunto depois
pode desligar, ou então, não precisa comprar (só não deixe o dono do local perceber) pegue três revistas
consideradas sérias (ainda temos esse
numero no Brasil, não se preocupe), e tente descobrir se em nenhuma delas
há o assunto. Se conseguir vai ganhar um sorvete. Ops: perdão, um chimarrão aqui do sul ou então um chocolate quente,
ou ainda um café – da Bahia é claro -.
Este
é somente um exemplo de como nos direcionamos a favor do vento. Igual às
Birutas. Talvez venha daí a pejoratividade: “tu
tá um biruta hoje”, ou seja, vai para onde o vento te levar, ou pensa de
acordo com qualquer opinião que ouça leia ou veja.
Os
antigos gregos, artesãos do bom senso (tudo
que é razoável, sábio, inteligente) nos diriam para começarmos a pensar um
pouco mais sobre tudo. Principalmente sobre o excesso de informações que
possuímos, hoje, e não sabemos, exatamente, o que fazer com elas.
E
quando a dita “imprensa” faz de tudo,
apenas pela “receita” (faturamento)
ou pela audiência, ou vendagem dos impressos, ou páginas na internet, nos
ofende; está no fundo escondendo, o que está de fato acontecendo, e na pior das
hipóteses está nos chamando além de birutas,
de babacas sem cérebro, (agora sim
pode colocar a pejoratividade) que
ainda não aprendemos a pensar por nós mesmos.
Dificuldades?
Muitas. Jornais seriíssimos, televisões abertas (por favor, retire da lista as religiosas, que são em grande maioria), revistas
em mesmo nível?
Viu
como as respostas vieram rápidas em sua mente! Pouquíssimos (ou as).
O
restante é quantidade. Nada de qualidade ou pensamento profundo que nos faça
ficar alertas sobre a leitura, como fazem os livros de Borges, ou então sobre
grandes literatos brasileiros. Não os cito por serem desconhecidos pela grande
maioria. Portanto palavras dispersas.
Ler
(tirando todos os erros da língua,
principalmente na escrita, que é uma tragédia nacional) já é uma
dificuldade incrível para o brasiles. Mas o que esperar do brasiles, cuja
média anual de leitura é de 4 livros, porém, apenas 2,1 até o seu final.
Em
tempo: As mulheres leem mais que os homens. Como dizia Nelson Rodrigues: “... Somente o profeta enxerga o óbvio...!”.
No
fundo, ao menos aqui, parece, estamos descobrindo que ler e pensar não dói...
Entendimentos
& Compreensões
Esta
Crônica foi publicada na sexta-feira, 25.01.21013
abre.ai/Konvenios
Espetacular esse texto. Disse tudo o que eu gostaria de ter dito, mas com uma habilidade que eu jamais teria.
ResponderExcluirRealmente o que impede nosso lindo país é falta de mentalidade crítica do povo!