terça-feira, 31 de março de 2015


#PreconceitoNao:

 A Mulher Gorila e o Homem Desumanizado...


"...Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo;
cada homem é parte do continente, parte do todo;
se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor,
 como se fosse um promontório, assim como se fosse
 uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte
de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte
da humanidade; e por isso, nunca procure saber por
quem os sinos dobram, eles dobram por ti...!””
 Meditações VI- John Donne.

                              Em 30 de Abril me deparei com esta postagem na Rede Social Twitter:
                              A minha primeira reação foi a lembrança do filme Vênus Negra, que conta a história da Sul Africana Saartjie Baartman, de quem falarei mais adiante. O choque como uma mulher negra, lutadora incansável contra o racismo, foi imenso, foi aterrador! Logo procurei me certificar de quem era Monga, a mulher gorila. Para meu espanto, esse é um show chinfrim exibido em parques e circos de quinta, feito com espelhos, para assustar os bobos.
                         Mas, o pior é que a Monga, mulher gorila foi na verdade uma pessoa real, mais uma mulher explorada, como tantas são ainda hoje, no tráfico humano, na televisão, por cafetões, por maridos e tantos outros.
                           Julia Pastrana era uma indígena mexicana, nascida em 1834 com hipertricose (doença que faz nascer pelos pôr todo corpo) e também com hiperplasia gengival (responsável por suas feições simiescas).                     
                         Diz a história que foi vendida pela mãe a um tal Theodor Lent, que casou com ela e a exibia em feiras, circos e lugares baratos, como Monga, a mulher gorila. Outros dados dão conta que Julia trabalhava para o governador de Sinaloa chamado Rates que a levou a Nova Iorque para mostrá-la a amigos cientistas e jornalistas.
                         Tutela de Rates, Julia se apresentava em shows, onde expunha sua aparência monstruosa, mas também demonstrava sua inteligência, delicadeza e voz belíssima. Não demorou muito para que outro homem mostrasse interesse pelo “espécime” e comprasse Julia: J. W. Beach passou a mostrá-la como um híbrido de mulher e orangotango, com o aval de um doutor Brainerd, que a reputou pertencente a uma espécie distinta.
                         Após várias viagens pelos Estados Unidos, Julia caiu nas mãos de Theodore Lent, que a levou para uma turnê na Europa, com enorme sucesso. O público se impressionava com a cultura e boas maneiras de Pastrana, além de sua bela voz. Julia foi até escalada para um trabalho “sério” em teatro, em Leipzig, onde interpretava uma mulher de voz linda, coberta sob um véu, que se revelava no final da peça. O próprio Charles Darwin se encantou com Pastrana, citando-a no prefácio: “Variação de Animais e Plantas Domesticados”: “Uma mulher admirável, com uma barba grossa e masculina.”
                         Aos 26 ela morreu de parto e o seu bebe dias depois, a criança também tinha hipertricose.  Lent mumificou os dois e continuou a exibi-los até morrer lá pelos idos de 1921. Depois disso a múmia de Julia Pastrana ficou sendo exibida em espetáculos duvidosos até ir para o Instituto de Oslo. Somente em 2013 uma ativista mexicana solicitou a múmia de Julia Pastrana para ser enterrada.
                            A segunda história que quero contar é de Saartjie Baartaman, uma negra sul africana pertencente à tribo khoi-san, que tinha grandes seios e grandes nádegas, de baixa estatura, coxas grossas, enganada que ficaria rica na Europa era exposta, como Julia, num Show de horrores. Saartjie era colocada numa jaula de onde saía gritando assustando a todos como um animal selvagem. Era uma mulher de feitios "Inusitados" para os europeus. Foi exibida pela Europa, onde foi alvo de chacotas e humilhações, charges.                    
                            Depois foi exaustivamente estudada por "médicos europeus", diante de tantas violências, foi levada a se prostituir e tornou-se alcoolista, morreu 1815 provavelmente por varíola. Seu esqueleto, órgãos genitais (as mulheres de sua tribo tem uma peculiaridade quanto aos lábios genitais) e cérebro ficaram em exposição (como teoria da revolução racial) até 1974. Somente em 2002, Nelson Mandela reclamou seus restos mortais, que foram levados para África do Sul.  Sobre Saartjie existe um filme, que se encontra no Youtube “Vênus Negra”.
Duas mulheres em tempos distintos vivendo a mais miseráveis das vidas, mas, tão atuais. Quantas Julias e Saartjies existem pelo mundo, barbarizadas, humilhadas, violadas de todas as formas. O sexismo, o preconceito com a pessoa com deficiência, os nossos preconceitos, por mais que os mascaremos, acabam abrindo brechas e aparecendo como neste post dessa criatura infeliz.
                         Em respeito a Julia Prastana, a Saartjie Baartaman, eu lhe convido a repensar seus conceitos, eu lhe convido a ir ao encontro da sua humanidade. Porque elas duas e as outras tantas mulheres somos eu e você...
Para Candida pensar não dói... Já o preconceito...

  Nota do Editor:
Candida é autora do Diário
http://blogdakhandy.blogspot.com.br/ 

Entendimentos & Compreensões de
Candida Maria Ferreira da Silva
Assistente Social, Teóloga, Especialista em
Infância e Violência Domestica pela USP.
- Rio de Janeiro – RJ -
Outras fontes:
http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/04/vida-e-morte-pastrana/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Saartjie_Baartman/

 

domingo, 29 de março de 2015


Série #PensarNaoDoi:

De Boas Intenções
O Inferno Está Cheio!
 “O Diabo (...) o espirito orgulhoso (...)
não tolera ser motivo de chacota...!”
 
Thomas More
  
                        O mês de março para os gaúchos é mês de renovação. Os que possuem laços mais estreitados com os costumes do estado costumam dizer: Que assim como as árvores e muitos bichos (animais) trocam a casca e a pele, o “taura” (homem/mulher forte, valente) também se recolhe e se renova para enfrentar o inverno. Esse mostram suas caras algumas vezes até o final de abril. Dá um descanso para o sulista no mês de maio quando, geralmente, temos uma temporada mais amena. O gaúcho chama de “veranico” – um pequeno verão antes de começar o inverno.
                        Mas março também é consagrado historicamente pela alusão das “águas de março”. O título ficou famoso, com a música cantada pela grande gauchinha Ellis Regina. Mas também por ser o mês da contrarrevolução, em muitos aspectos, e o contra golpe das Forças Armadas Brasilesas contra o comunismo em 1964. O que muitos desavisados ou ainda mal informados chamaram de Ditadura Militar.
                        Hoje, meio século depois nossa amada pátria e mãe gentil já sabe a diferença entre um golpe contra a entrada do comunismo no Brasil àquela época com o que estamos vivendo hoje. Agora sim uma ditadura socialista – disfarçada de democracia – mas arrombada de seus alicerces com a verdadeira face deste tipo de desgoverno ou sistema que alguns ainda o chamam disso.
                          Eis que os chamados “herois populares” se transformaram nos “demônios” da existência de duas gerações. A que viveu os anos ditos “de chumbo”, de 1964, acompanhada da nova, a de agora.
                        Somente podemos saber o que é bom ou ruim se tivermos algo para comparar. Finalmente o Brasilês esta tendo esta comparação e vendo que de “falsos ídolos” a “encantadores de serpentes”, passando até por alguns que se diziam “bem intencionados”, lotamos o inferno. Não o de Dante, mas sim muito mais de nossas Ilusões Perdidas. Agora em referencia a obra de Balzac.
O curioso desta frase – utilizada no título inicial – é sua origem:
                             Ela é de autoria de um teólogo e santo famoso, o francês São Bernardo de Clairvaux (1090-1153). Muito místico, travou grandes polêmicas com o celebre namorado de Heloísa, o também teólogo e filósofo escolástico Pedro Abelardo (1079-1142). Conselheiro de reis e papas, São Bernardo pregou a Segunda Cruzada, destacando-se no combate àqueles que eram considerados hereges por ousarem interpretar de modos plurais a ortodoxia católica. A frase foi brandida, não apenas contra seus desafetos, mas também a seus aliados, e tornou-se proverbial para denunciar que as boas intenções além de não serem suficientes, podem levar a fins contrários aos esperados.
                             Pedro Abelardo e Heloisa são símbolos dos namorados, na França, por seu amor proibido. Suas sepulturas recebem rosas vermelhas, às toneladas, no dia dos namorados na França.
                            Assim parafraseando São Bernardo, em nosso Brasil atual, podemos também brandir não apenas contra os corruptos, agora famosos em todo o mundo, mas também os corruptores, seus ditos aliados que de uma hora para outra, na intenção de inocentarem-se de suas ações, entregam as listas em rolos de seus, até então, comparsas.
                             Nossas boas intenções ainda permanecem intactas, enquanto for aludida a grande parte do povo Brasilês. Perdoando-se, como bons cristãos, os hereges que colocaram tais personagens no cenário tétrico político de nosso amado Brasil. Eis que hoje estes já estão quase “convertidos” após arrependerem-se de seus pecados. E se sentirem também injustiçados por suas escolhas. Estas que levaram muitos outros irmãos, estres crédulos de um Brasil purista, ao mesmo barco que naufraga pouco antes de chegar a costa. Agora todos parecem querer ajudar aos outros a chegar com muito esforço até a praia mais próxima.
                            Vendo que mesmo ao construir uma nova nau estarão sem um capitão para seu comando. Enquanto isso, efetuam conversam entre si. Admitem seus “pecados”, mesmo que muitos não aceitam as “penitências” a que estarão todos, crentes e descrentes sujeitos a tais sacrifícios em nome de um crédito ofertado a falsos “santos”, cujas promessas não somente, não foram cumpridas, como dilaceraram muitas esperanças ainda depositadas no coração de muitos de seus irmãos.
                            O novo período, após este “invernico” será passar pelo derradeiro frio e gelo do inverno esperançoso de que venha uma primavera florida, perfumada. Desta forma, acalmar almas e aquietar corações desconfortados durante um longo período de turbulências em que muitos já não sabiam nem quem eram e onde estavam.
                             Mas assim como o gaúcho se acostuma às intempéries, tenho fé de que os brasileses, mesmo acostumados a altas temperaturas externas, passem agora pelos “outonos” de suas vidas e um inverno de corações “gelados” por suas escolhas.
                            Porém também podemos ter fé e esperança, de que agora convertidos não creiamos mais em “falsos profetas”, nem de seres que se dizem dotados de boas intenções, pois descobrimos que destes o inferno já esta lotado.
Podem pensar... Não Dói!
Por vocês... Por seus filhos e, é claro, pelo Brasil!

 

Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Percepções do Brasil Atual
Pesquisa:
Nossos Ditos & Mitos
Deonísio da Silva – Edit. Mandarin – 1998

quarta-feira, 25 de março de 2015

Uma Visão do Brasil Real:
 
Mentiras Sinceras...
 Este seu olhar quando encontra o meu
Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar
Doce é sonhar, é pensar que você
Gosta de mim como eu de você
Mas a ilusão quando se desfaz
Dói no coração de quem sonhou.
Sonhou demais ...
Ah! se eu pudesse entender
O que dizem os seus olhos
 
Tom Jobim – Esse seu olhar
 
                                        Não sei dizer sinceramente se a “alma humana” é nosso “baú do tesouro”, pois que guarda tudo o que nos é “mais precioso”, ou a nossa famosa “boceta de Pandora”, que acumula também a “origem de todos os males” em nós. É na sua essência, ora Luzbel o “anjo de luz”, ora Lúcifer o “anjo caído”, segundo o seu livre arbítrio momentâneo, pois ainda que seu “invólucro de barro” pertença à “terra e a ela um dia voltará”, sua energia voa soberana, como cantava John Denver, “alguns dias alto como uma águia e em outros no mais profundo desespero”.
                                      À “alma coletiva” brasileira a que se dá o nome de “Nação”, como poderíamos conceitua-la e/ou compreendê-la em seu multifacetado caleidoscópio? Pelo seu “perfil ideológico”? Pelo seu “perfil regionalista”? Pelo seu “alinhamento partidário”? ...
                                    No Brasil, desgraçadamente, essa alma coletiva se define pelos enquadrados abaixo da “linha da pobreza” e dos acima desta, mas abaixo da “linha da riqueza” e suas necessidades. É esse “perfil nacional”, que tem decidido a representação política nos últimos 50 anos. Os pobres almejando tornarem-se “classe média” e a classe média temendo cair abaixo da “linha da pobreza”. Não existe melhor cenário que este para se explorar o uso das “mentiras sinceras” em solo tão fértil como esse.
                                    O produto mais vendável das mentiras sinceras é a “felicidade virtual”, um poderoso alucinógeno das massas, que faz um cidadão se sentir envergonhado se o seu “grau de felicidade” for inferior ao da “média dos iludidos”, ou discordante da “maioria dos ilusionistas”. Essa é a razão do famoso “nós contra eles” encontrar tanto eco.
                                   Em outros tempos a “guerra declarada” contra os “tubarões”, ou seja, grandes empresários, banqueiros e intermediários, aconteciam porque o “contingente coletor de renda” ela composto exclusivamente dessa categoria. Entretanto, a partir dos anos 60 uma grande massa de trabalhadores passou a auferir salários mais altos e o Governo passou a considerar “salário = renda” e começou a tributá-lo também.
                                  Ao contrário do que muitos pensam, “operários de linhas de produção” também passaram a se incluir nessa “nova classe média”. Nos anos 60 trabalhei em “função técnica de nível médio” na indústria automobilística do ABC, o “sonho de todo assalariado” e meu salário era inferior a muitos “proletários”.
                                  Foi a partir dessa época que o perfil urbano das grandes cidades passou a mudar com a multiplicação da construção de edifícios de apartamentos para acomodar essa nova “classe média”, além do acesso ao “carro próprio”. Foi o início do sucesso da “sociedade capitalista brasileira”, mas foi também o início da “deserdação” dessa classe média pelo Governo.
                                      Direitos constitucionais foram sendo suprimidos pelo sucateamento da “obrigação governamental” de fornecimento de serviços de qualidade em educação, saúde, transporte e segurança, o que provocou um distanciamento cada vez mais crescente entre as categorias C, D, E da sociedade. É evidente, que não me refiro às “atuais classes” C, D, E, visto que as anteriores perderam nesse intervalo mais de 20% do seu poder aquisitivo, incluída a “classe média operária” pela robotização da indústria.
                                     Na escola e postos públicos de saúde essas classes sociais começaram a se desencontrar e com isso começou a se estabelecer um “quisto” de estratificação social. Quem tinha tudo a perder, após arduamente conseguido, (classe média), começou a ser vista como uma classe de “reacionários”, pois que “fora de sintonia” dos problemas enfrentados nos degraus mais baixos da “pirâmide social”.
                                     Foi no final dos anos 70 com a publicação da Lei da Anistia, que a “esquerda” vislumbrou a possibilidade de um “retorno ideológico” à atividade política, consciente de que seu fracasso em 1964 devia-se a seu distanciamento das “bases proletárias”.
                                    Do lado dos políticos, Leonel Brizola fundou o PDT, após intensa “briga” no TSE com Ivete Vargas pelo direito de titularidade da sigla do PTB. Brizola mudou seu foco de 64 de “esquerda revolucionária” para a da “social democrata”, filiada à Internacional Socialista de Willy Brandt da Alemanha. Sua intenção evidente era usar do “populismo trabalhista” tão em voga na América do Sul nos anos 50 de Getúlio e Juan Domingo Perón.
                                    Já a “esquerda intelectual” Uspiana buscou respaldar-se na classe média operária e foi do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a mais poderosa entidade sindical da época, que se diz ter suas lideranças indicadas, sob influência, de Golbery do Couto e Silva, para afastar a influência histórica do PCB que surgiu o Partido dos Trabalhadores. O discurso e método lembrava muito “o meio esquerdismo”, que consagrou Jânio Quadros.
                                     Sou dos anos 50 e da Vila Maria onde surgiu o fenômeno Jânio, para me lembrar dele, sentado em caixotes de cerveja e comendo sanduiches de mortadela sobre o palanque nos comícios, com sua “farda” da CMTC cheia de caspa sobre os ombros. Foi fruto do “método” e da “ideologia atravessada”, que a “esquerda intelectual” se retirou, só sobrando “trabalhadores”. O restante da história é conhecido.
                                     Foi dessa “classe média operária”, que começou a “cultura do ódio” contra a “classe média burguesa”, como forma de se diferenciar em privilégios e direitos, ainda que em seus empregos tivessem direito à assistência médica extensiva a familiares, refeitório industrial grátis e associação de empregados cooperados, (um supermercado), subvencionada pelas empresas.
                                  Mas isso era preciso para se tornar os “descamisados brasileiros”, exceto no discurso, que não poderia atacar os “tubarões”, pois que era uma associação de benefício mútuo. O PT, inteligentemente, descobriu um riquíssimo “filão eleitoral”, que é o dos “excluídos”, que evidentemente não eram representados pela “nata operária” dos filiados ao Sindicato.
                                   Quem tiver dúvidas sobre isso, que leia do discurso de João Pedro Stédile num “encontro de apoio” à Presidente em um evento do MST no Rio Grande do Sul na semana passada. É puro ódio, inclusive contra a “classe média operária” urbana. Não importa quem sejam os “eles”, desde que não sejamos os “nós”.
                                   O mal para o PT é que o “eleitorado” começa a não mais enxergar os “moinhos de vento” e Don Quixote começa a ficar cada dia mais isolado e a cada dia mais evidente a “causa pública”, que realmente defenderam em 12 anos de Governo: um projeto de poder montado sobre uma “república podre”.
                                  Nem o dinheiro me faz feliz, nem pago para ver amanhã. Só não quero mais uma vez ouvir: ponho só a cabecinha...
Quando as “mentiras sinceras” tornam-se “verdades nuas e cruas”, só resta cantar:
 Mas a ilusão quando se desfaz
Dói no coração de quem sonhou.
Sonhou demais...
Ah! se eu pudesse entender
O que dizem os seus olhos

 

Das Percepções & Pensamentos Partilhados
Antônio Figueiredo - Escritor & Cronista -
São Paulo – SP -

domingo, 22 de março de 2015

#PenarNaoDoi:
 
Um Estado Democrático Ou Demoníaco?
 - Ensaio sobre liberdade e igualdade -
“...Legisladores ou revolucionários que prometem
simultaneamente a igualdade e a liberdade
são sonhadores ou charlatães...!”
Johann Goethe
                         A democracia pressupõe igualdade de direitos e deveres, mas perante a quem ou ao quê, cara pálida? Que igualdade é esta, imposta na sociedade com tributação diferenciada por classe social?
                          Que igualdade existe na perversidade imposta por uma ideologia política, que obriga as gerações futuras a corrigir "desigualdades históricas"?
                         Onde está a igualdade no trânsito, que mata mais por falta de estrutura básica de circulação do que a propagandeada falta educação dos motoristas?
                         Que igualdade é pré-requisito para a tal democracia? Será que a solução não está um pouco mais longe dos olhos do poder e mais perto da base da vida dos indivíduos, considerados livres?
                              Hoje, o poder da lei ė tão contraditório quanto um adolescente que passa o dia expondo a vida nas redes sociais. Pouco olha as pessoas de casa, mas cobra mais atenção dos pais. Um poder que gasta mais energia em encontrar culpados a quem acusar, do que fazer o que lhe cabe na função que ocupa.
                            E, pelo exagero de maquiagem, seja do marqueteiro político, seja do cirurgião plástico, seja ainda dos esteroides anabolizantes estampados sob as peles tatuadas das academias, o indivíduo se vê como uma pessoa incompleta. Sem igualdade real e concreta, sente-se insuficiente no meio de tudo. Dependente deste tudo vazio, sem noção clara de absolutamente nada.
                             Nessa incerteza estrutural, atendemos prazeres imediatos, anestesiamos a angústia na hora, tão rápido, quanto o vazio da satisfação disponível. Fugindo de perdas naturais, reprimindo os próprios erros e os repetindo na proporção da falta presente, enquanto uma nova realização instantânea é alimentada pela ansiedade.
                               Um vazio existencial repetitivo, onde a fragilidade dos laços humanos reais e sólidos, só oferece espaço para dois papéis. Alguns atuando como predadores e o resto, sobrevivendo como presas desamparadas.                        
Infelizmente, tais personagens, sejam eles sociais, econômicos ou naturais, quando identificados na mesma espécie, sugere somente uma palavra, canibalismo.
                             Todos carentes de referências morais claras, que lhes imponham a responsabilidade cruel de ser igualmente livre. Talvez ainda, reconhecer o outro, também como igual, mas diferente, um simples outro, tão distintamente livre, nos mesmos limites que a igualdade se impõe a todos.
                             E ambos, tão insignificantemente iguais perante ao resto e tudo mais, por serem igualmente responsáveis também entre si.
                            Deixar de exigir respeito aos próprios limites e sim, oferecer o mesmo tipo de respeito exigido. Preservar a partir de si, o limite do outro. Sem respeito ao limite do outro, nada mais tem valor, o limite que não vale a um, muito menos importaria ao outro.
Num mundo sem limites, as mulheres são abusadas, física ou socialmente.
                              Entretanto, seguem lotando as salas dos cinemas, absolutamente encantadas com um personagem masculino que impõe sua autoridade com violência física de forma clara e abusiva. Por outro lado, o homem que se atrever a lembrar de que "a mulher apanha" e que talvez isso seja desrespeitoso, corre sério risco de guilhotina na própria cozinha.
                                   O "casaquinho" que a mãe insiste em vestir na filha é rejeitado, por vergonha das amigas da balada. Qual o mal de levar o respeito do pai, a proteção da mãe e usar ambos para ter a coragem autêntica de voltar antes da balada sem se submeter ao medo inútil da vergonha?
                                  A autoridade do respeito corre sério risco de ser decapitada já em casa e proteção simbólica causa vergonha na rua. No entanto, a autoridade romanceada da violência encanta mais do que provocação intelectual da educação. Pena que a realidade do crescente número de agressão física de mulher, desencanta, e muito.
                                  Sem reconhecimento claro de qualquer autoridade na vida real, seguem as pessoas romanceando a vida virtual. Renova-se a assinatura da angústia a cada final de semana de ressaca, a cada "gatinho" que não liga no outro dia, a cada mulher "pega" entre sexta e domingo, dissolvendo o mal-estar na esperança de outra final semana diferente, mas que se repete exatamente igual.
                             Anestesiado no tempo, parece que o ser humano escolhe dissolver a própria vida num liquidificador sempre disponível, onde hélices imediatas giram no ciclo do prazer, angústia e medo, acionadas pelo simples toque dos dedos. Na esperança de vencer os dois últimos, os dedos funcionam procurando o primeiro, mas o tempo passa e, imediatamente, as outras lâminas alcançam a vida. Num tempo considerado imediato pela eminência do próximo prazer.  
                            No entanto, o que se faz dessa vida, nesse tempo que passou entre as hélices, acaba dissolvido e alguns poucos sonhos reais (naqueles que ainda têm a capacidade de sonhar) se perdem. Mais tarde, a inconsistência da vida concreta se mostra cruelmente real. 
                          Neste momento aparecem outras duas lâminas, desamparo e indiferença. Seja do mundo predatório já experimentado, seja daquelas mesmas autoridades decapitadas no passado, muitas mortas ou distantes demais para serem acusadas do vazio dissolvido.                
                             Estas cortam de verdade, nem que seja simplesmente na memória, a alma se prende na angústia e no medo, girando na velocidade dos dedos ávidos por prazer, que terminam o serviço todo. No final, jaz o indivíduo na submissão a qualquer autoridade, desde que seja clara, presente, servindo até a abusiva.
                             Nessa brincadeira, abusam do poder de tributar em nome de serviços e estrutura nunca entregues. Abusam do poder de multar, culpando os motoristas sobreviventes das estradas que não existem. Abusam do poder de legislar para interferir na autoridade da escola em reprovar, em nome de uma "proteção" da criança que estuda pouco. Abusam das mulheres em baladas, carros, rua e em casa e, em nome do desamparo, todas aceitam caladas, engolem na vida adulta o que não quiseram ouvir dos pais guilhotinados no passado.
                            Abusam do marketing, em nome da proteção de um hierarquia política obscura. Abusam da ausência de autoridades claras, em nome de uma responsabilidade totalitária inexistente. Abusam desta responsabilidade, em nome de uma democracia desigual. Abusam desta tal democracia, em nome de "desigualdades históricas".
                             Por fim, abusam do direito, em nome de uma liberdade meramente virtual. Enquanto isso, dissolvem-se vidas encantadas no sonho de uma autoridade que torne concretos os limites que tornariam todos iguais, passo a passo, respeitada a liberdade em cada parte desfragmentada da sociedade. Igualdade e liberdade sólidas, materializadas nas autoridades reais de cada ambiente, plenamente reconhecidas nos limites que lhes cabem atuar, desde a base da casa, passando pela escola, até o topo da política.
                             Diferente disso, segue o sonho de que não doa muito a próxima porrada do galã, que saiu do filme e acordou dentro da casa de alguém que já sonhou com a balada da próxima semana, cujo pai sonhava na próxima votação do congresso, numa sociedade esperançosa na próxima eleição, votada por pessoas que, simplesmente, estão à espera da próxima mensagem elogiosa no WhatsApp. Twitter, like no Instagram.
                            E, caso este texto acabe no Face book, Twitter, coitados dos que não "curtirem", não serei mais amigo de vocês e irão arder no fogo do inferno por toda eternidade. Tanto lá, quanto no paraíso, terão que experimentar igualdade e ver que tipo de liberdade seria possível cultivar aqui na Terra.
Pode pensar... Ainda não dói...!
Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Dos meus diálogos com
Michael Nedeff  Chehade
Especialista em Direito.
Amigo & Irmão de alma.