Uma Visão do Brasil Real:
Este seu
olhar quando encontra o meu
Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar
Doce é sonhar, é pensar que você
Gosta de mim como eu de você
Mas a
ilusão quando se desfaz
Dói no coração de quem sonhou.
Sonhou demais...
Mentiras Sinceras...
Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar
Doce é sonhar, é pensar que você
Gosta de mim como eu de você
Mas a
ilusão quando se desfaz
Dói no coração de quem sonhou.
Sonhou demais ...
Dói no coração de quem sonhou.
Sonhou demais ...
Ah! se eu
pudesse entender
O que dizem os seus olhos
O que dizem os seus olhos
Tom Jobim
– Esse seu olhar
Não sei
dizer sinceramente se a “alma humana”
é nosso “baú do tesouro”, pois que
guarda tudo o que nos é “mais precioso”, ou
a nossa famosa “boceta de Pandora”, que
acumula também a “origem de todos os
males” em nós. É na sua essência, ora Luzbel o “anjo de luz”, ora Lúcifer o “anjo
caído”, segundo o seu livre arbítrio momentâneo, pois ainda que seu “invólucro de barro” pertença à “terra e a ela um dia voltará”, sua
energia voa soberana, como cantava John Denver, “alguns dias alto como uma águia e em outros no mais profundo
desespero”.
À “alma coletiva” brasileira a que se dá o
nome de “Nação”, como poderíamos
conceitua-la e/ou compreendê-la em seu multifacetado caleidoscópio? Pelo seu “perfil ideológico”? Pelo seu “perfil regionalista”? Pelo seu “alinhamento partidário”? ...
No Brasil,
desgraçadamente, essa alma coletiva se define pelos enquadrados abaixo da “linha da pobreza” e dos acima desta,
mas abaixo da “linha da riqueza” e suas
necessidades. É esse “perfil nacional”,
que tem decidido a representação política nos últimos 50 anos. Os pobres
almejando tornarem-se “classe média”
e a classe média temendo cair abaixo da “linha
da pobreza”. Não existe melhor cenário que este para se explorar o uso das “mentiras sinceras” em solo tão fértil
como esse.
O produto
mais vendável das mentiras sinceras é a “felicidade
virtual”, um poderoso alucinógeno das massas, que faz um cidadão se sentir
envergonhado se o seu “grau de
felicidade” for inferior ao da “média
dos iludidos”, ou discordante da “maioria
dos ilusionistas”. Essa é a razão do famoso “nós contra eles” encontrar tanto eco.
Em outros
tempos a “guerra declarada” contra os
“tubarões”, ou seja, grandes
empresários, banqueiros e intermediários, aconteciam porque o “contingente coletor de renda” ela
composto exclusivamente dessa categoria. Entretanto, a partir dos anos 60 uma
grande massa de trabalhadores passou a auferir salários mais altos e o Governo
passou a considerar “salário = renda”
e começou a tributá-lo também.
Ao contrário do que
muitos pensam, “operários de linhas de
produção” também passaram a se incluir nessa “nova classe média”. Nos anos 60 trabalhei em “função técnica de nível médio” na indústria automobilística do ABC,
o “sonho de todo assalariado” e meu
salário era inferior a muitos “proletários”.
Foi a partir
dessa época que o perfil urbano das grandes cidades passou a mudar com a
multiplicação da construção de edifícios de apartamentos para acomodar essa
nova “classe média”, além do acesso
ao “carro próprio”. Foi o início do
sucesso da “sociedade capitalista
brasileira”, mas foi também o início da “deserdação”
dessa classe média pelo Governo.
Direitos
constitucionais foram sendo suprimidos pelo sucateamento da “obrigação governamental” de
fornecimento de serviços de qualidade em educação, saúde, transporte e
segurança, o que provocou um distanciamento cada vez mais crescente entre as
categorias C, D, E da sociedade. É evidente, que não me refiro às “atuais classes” C, D, E, visto que as
anteriores perderam nesse intervalo mais de 20% do seu poder aquisitivo,
incluída a “classe média operária” pela
robotização da indústria.
Na escola
e postos públicos de saúde essas classes sociais começaram a se desencontrar e
com isso começou a se estabelecer um “quisto”
de estratificação social. Quem tinha tudo a perder, após arduamente conseguido,
(classe média), começou a ser vista
como uma classe de “reacionários”, pois
que “fora de sintonia” dos problemas
enfrentados nos degraus mais baixos da “pirâmide
social”.
Foi no
final dos anos 70 com a publicação da Lei da Anistia, que a “esquerda” vislumbrou a possibilidade de
um “retorno ideológico” à atividade
política, consciente de que seu fracasso em 1964 devia-se a seu distanciamento
das “bases proletárias”.
Do lado dos
políticos, Leonel Brizola fundou o PDT, após intensa “briga” no TSE com Ivete Vargas pelo direito de titularidade da
sigla do PTB. Brizola mudou seu foco de 64 de “esquerda revolucionária” para a da “social democrata”, filiada à Internacional
Socialista de Willy Brandt da Alemanha. Sua intenção evidente era usar do “populismo trabalhista” tão em voga na
América do Sul nos anos 50 de Getúlio e Juan Domingo Perón.
Já a “esquerda intelectual” Uspiana buscou
respaldar-se na classe média operária e foi do Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC, a mais poderosa entidade sindical da época, que se diz ter suas lideranças
indicadas, sob influência, de Golbery do Couto e Silva, para afastar a
influência histórica do PCB que surgiu o Partido dos Trabalhadores. O discurso
e método lembrava muito “o meio
esquerdismo”, que consagrou Jânio Quadros.
Sou dos anos 50 e da
Vila Maria onde surgiu o fenômeno Jânio, para me lembrar dele, sentado em
caixotes de cerveja e comendo sanduiches de mortadela sobre o palanque nos
comícios, com sua “farda” da CMTC
cheia de caspa sobre os ombros. Foi fruto do “método” e da “ideologia
atravessada”, que a “esquerda
intelectual” se retirou, só sobrando “trabalhadores”.
O restante da história é conhecido.
Foi dessa “classe média operária”, que começou a “cultura do ódio” contra a “classe média
burguesa”, como forma de se diferenciar em privilégios e direitos, ainda que em
seus empregos tivessem direito à assistência médica extensiva a familiares,
refeitório industrial grátis e associação de empregados cooperados, (um supermercado), subvencionada pelas
empresas.
Mas isso
era preciso para se tornar os “descamisados
brasileiros”, exceto no discurso, que não poderia atacar os “tubarões”, pois que era uma associação
de benefício mútuo. O PT, inteligentemente, descobriu um riquíssimo “filão eleitoral”, que é o dos “excluídos”, que evidentemente não eram
representados pela “nata operária”
dos filiados ao Sindicato.
Quem
tiver dúvidas sobre isso, que leia do discurso de João Pedro Stédile num “encontro de apoio” à Presidente em um
evento do MST no Rio Grande do Sul na semana passada. É puro ódio, inclusive
contra a “classe média operária”
urbana. Não importa quem sejam os “eles”,
desde que não sejamos os “nós”.
O mal para o
PT é que o “eleitorado” começa a não
mais enxergar os “moinhos de vento” e
Don Quixote começa a ficar cada dia mais isolado e a cada dia mais evidente a “causa pública”, que realmente
defenderam em 12 anos de Governo: um projeto de poder montado sobre uma “república podre”.
Nem o
dinheiro me faz feliz, nem pago para ver amanhã. Só não quero mais uma vez
ouvir: ponho só a cabecinha...
Quando as “mentiras
sinceras” tornam-se “verdades nuas e
cruas”, só resta cantar:
Dói no coração de quem sonhou.
Sonhou demais...
Ah! se eu
pudesse entender
O que dizem os seus olhos
O que dizem os seus olhos
Das
Percepções & Pensamentos Partilhados
Antônio
Figueiredo - Escritor & Cronista -
São Paulo
– SP -
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