domingo, 28 de junho de 2015


#SerieRelacoes:

 

O Amor e o Homem!


“...O amor é o estado no qual os homens têm

mais probabilidades de ver as coisas

tal como elas não são...!”

 

Nietzsche

 

                        Em encontros anteriores iniciamos uma discussão sobre As Relações entre dois seres, entre Casais. Neste caso foram casais heteros, até pela pouca informação já comprovada das relações de casais homossexuais. E analisamos dois contextos: O dos adolescentes, os jovens de hoje, e, após, dos casais, digamos mais antigos, de uma ou duas gerações anteriores. Os comentários e correspondências eletrônicas que recebi, em função destas crônicas foram entre o surpreendente e o que já sabemos. Ao menos em uma ampla maioria. O surpreendente é que muitos seres estavam com o “automático” tão ligado, envoltos em suas rotinas que, muitas vezes, as relações tinham “terminado” e continuavam juntos sem saberem o porquê... Dei as respostas? Longe de mim tal prepotência. Mas apenas liguei o famoso “botãozinho” que os levou a pensar em si mesmos e no trato da relação a dois. Muitos descobriram onde estava o problema que os “ligava” ou os fazia permanecerem juntos. Outros acharam a resposta para terminar o “suplício” de uma vida a dois, “falsa”. Confesso: Surpreenderam-me tais colocações, respostas e, principalmente, certo espanto de como se isso fosse uma novidade descoberta agora pela ciência. Ou seja, os seres não mais dialogavam. Não mais “alimentavam” o encantamento na relação.


                        A partir de um material, após ter lido ambas as crônicas, uma grande amiga de intelecto privilegiado neste assunto remete-me um material de pesquisa muito significante e atrevo-me a tentar escrever sobre as diferenças de entendimento do amor. Entre o Homem e a Mulher. Ou seja, como cada gênero vê, sente, discerne, percebe e, consequentemente, ama.  Parte-se do pressuposto, já colocado nos encontros anteriores que de certa maneira: “Ama-se o desejo de amar e não o objeto deste desejo”. Em “outras palavras:” Eu (muito mais a mulher) amo muito este desejo de desejar do que a mulher que é transformada neste mesmo objeto.

“Para amar, é necessário reconhecer

que se tem necessidade do outro”.

                             É assim que começa uma longa conversa com o psicanalista e pesquisador Jacques-Alain Miller, em uma tradução de Maria do Carmo Dias Batista. O pesquisador começa afirmando: “Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que creem serem completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias”.

Espera um pouco: quer dizer que as formas de amar, enxergar e entender o amor para homens e mulheres é tão diferente? Na essência e na base do entendimento e compreensão sim. Este “botãozinho” que o pesquisador Miller fala significa achar o ponto exato da atração de uma mulher pelo homem. Ou seja, a historinha medíocre e hipócrita de que o homem se apaixona através de sua libido, ou seja: “uma bela bunda ou belos peitos”, está mais para a vulgaridade do que para uma análise mais profunda. Um simples brilho no queixo, ou o olhar de uma mulher pode provocar sentimentos arraigados no homem que ele próprio desconhece.


                           Aqui precisaríamos adentrar nos estudos da Análise Transacional, método psicológico criado em 1956, pelo psiquiatra Eric Berne. Sim o que trazemos da mãe ou do pai, ainda escondidos no inconsciente do dito homem. De outra forma; Como fomos criados e amados registramos e acabamos transferindo tudo isto para o contexto do amor em uma relação com uma mulher. Repito: Aqui estamos analisando o amor para o Homem. A mulher será uma segunda discussão.  Esta bem. É agora que você deve pensar: Esta simplesmente complicando tudo? Não, repito: jamais esqueçam: O ser humano é complexo não complicado. Mas amamos complicar. É uma forma de escape, de defesa. Foi perguntado a Miller se a psicanálise explica ou ensina alguma coisa sobre o amor? Antes devo lembrar-lhes que tanto a psicologia como a psicanalise nasceram dos pensamentos pesquisados e analisados durante séculos por filósofos. E isto vem desde os pré-socráticos, passando pelo próprio Sócrates e depois analisado um pouco mais por Platão. De onde vem a tal expressão de “amor platônico”. Mais tarde, os filósofos da igreja, mesmo que com sentido religioso, mas, principalmente, em Nietzsche e Schopenhauer é que Freud, e mais tarde seus discípulos que acabaram criando novas vertentes, novos pensamentos sobre o que o grande mestre tinha dito, formularam o que hoje estamos discutindo. Estes foram Lacan, Jung e mais tarde Eric Berne, assim como muitos outros, mas de menos importância. É aqui que Miller responde: “Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor. Trata-se desse amor automático, e frequentemente inconsciente, que o analisando dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém, o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela é, de fato, difícil de suportar”. Esta bem. Mas onde entra o homem, o macho nesta história toda? Primeiro vamos tentar entender o que é “amar verdadeiramente”: Miller deixa como resposta: “Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa questão “Quem sou eu”?”. Lembram aqui do: Amo o desejo de amar mais que o objeto? Eis a complementação.


E o homem? Ser completo sozinho só um homem pode acreditar nisso? Miller responde enfaticamente:

Acertou! “Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem”. “O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se assegurar de sua falta, de sua “castração”, como dizia Freud.” E isso é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade. Então amar é mais difícil para os homens? A resposta de Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho, assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a “degradação da vida amorosa” no homem: a cisão do amor e do desejo sexual. E as fantasias no homem? Miller diz:  Está bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo clássico, comentado por Lacan, é, no romance de Goethe, a súbita paixão do jovem Werther por Charlotte, no momento em que a vê pela primeira vez, alimentando ao numeroso grupo de crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade maternal da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo, retirado de minha prática, é este: um patrão quinquagenário recebe candidatas a um posto de secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de imediato seu fogo. Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o desencadeante: ele havia nela reencontrado os traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos, quando se apresentou ao seu primeiro emprego. Ele estava de alguma forma, caído de amores por ele mesmo. Reencontram-se nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por Freud: ama-se ou a pessoa que protege aqui a mãe, ou a uma imagem narcísica de si mesmo.




Espera um pouco então o problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres; e as mulheres, o que os homens esperam delas… A resposta de Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica é que o diálogo de um sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde a saída não existe. Pensar não dói...

Já para o homem amar... É um pouco mais complicado!

 

Entendimentos & Compreensões


O Homem e a Mulher no Amor

Transpirado da Entrevista do psicanalista

e pesquisador Jacques-Alain Miller

Enviado pela minha sábia amiga

Reny Martins

Arquivos da Sala de Protheus.

sexta-feira, 26 de junho de 2015


#FábulasDoCotidiano:

 

 “A Fábula da Fofoca!”


“... A calúnia é como uma moeda falsa: muitos que
gostariam de tê-la emitido, fazem-na
circular sem escrúpulos...!”

 

Diane de Poitiers –Maximes de La Vie,4.
Duquesa Francesa.

 

 

                           Embora associado a um hábito feminino, estatisticamente os homens são mais fofoqueiros. Em termos de conteúdo, pesquisa recente revelou apenas uma diferença significativa entre a fofoca masculina e feminina: os homens gastam muito mais tempo falando de si mesmos. Do tempo total dedicado à conversa sobre as relações sociais, os homens gastam dois terços falando sobre suas próprias relações, enquanto as mulheres só falam de si mesmos de um terço do tempo.


Porque estamos dissertando sobre isso:
Bem a tal de fofoca já causou desastres gigantescos: Guerras, falências de empresas – a mais conhecida no Brasil é a do Banco Sul Brasileiro, originada em um café na cidade de Porto Alegre, RS, -  espalhou-se rapidamente, fazendo com que todos os correntistas retirassem o dinheiro. O banco sem o famoso “lastro” foi a bancarrota. Descoberto mais tarde ter sido originado por bancos concorrentes.

A mais comum de todas as fofocas é relacionada a maridos e mulheres e suas relações, digamos não muito convencionais. historiador Bernard Capp, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, afirma que: "a rainha inglesa Elizabeth I,” por exemplo, “foi intenso alvo de fofocas entre 1560 e 1570. (...) Ela tem um caso? Está grávida? Teve um filho ilegítimo?” Boatos assim eram muito comuns entre os ingleses. Há uma fábula que explica bem não só a fofoca como as consequências desta.
A confissão entre os cristãos é um ritual comum da religião. Foi muito mais forte até a metade do século passado.
Houve épocas em que a igreja ouvia a confissão diariamente de seus fieis. Quase uma forma de controle de uma população, ou dos próprios “fieis”.
Uma fábula envolvendo exatamente uma confissão nos dá uma ideia mais clara das consequências da fofoca e do fofoqueiro. Em uma confissão, o padre ouve, dentro do confessionário, além das palavras ritualísticas, a este momento, uma mulher.


Ela diz:

- Padre, fofoca é pecado?

- Depende minha filha! Responde o sacerdote.

- O que você contou as outras pessoas?

 A mulher narra um fato, fofoqueiro, obviamente, envolvendo pessoas da comunidade.

Ao final da confissão, o sacerdote, simplesmente, diz a fiel:

- Esta semana, ou antes, de uma grande tempestade, quero que você pegue uma faca, um travesseiro de penas e vá até o lugar mais alto que puder. Onde estiver o vento mais forte. Neste local você esfaqueia o travesseiro todo, fazendo com que as penas todas saiam do travesseiro.

A mulher não entendendo muito pergunta:

- Esta é minha penitência?

Ao qual o padre responde:

- Sim minha filha, faça isso! Depois volte e me conte como foi.

Assim foi. Em um dia de ventania, precedendo um temporal, a mulher subiu no alto de sua casa com um travesseiro e “esfaqueou-o” fazendo com que as penas todas fossem levadas pelo vento.

Satisfeita por ter cumprido a penitência e sentindo-se mais leve, retorna e dorme tranquilamente. Passada a tempestade, a mulher retorna ao confessionário.

- Fale minha filha! Diz o padre;

- Fiz a penitência que o senhor mandou. Peguei uma faca e cortei todo o travesseiro...

-E o que aconteceu, interrompe o padre...

- As penas voaram todas ligeiramente padre! Responde a Fiel.

A que o padre como derradeiro exemplo diz.

 - Agora quero que você busque todas as penas que o vento levou e coloque novamente no travesseiro.

A mulher espantada diz:

- Mas padre isso é impossível!

Ao que o padre conclui:


- Exatamente, é impossível recolher todas as penas que o vento levou. A fofoca é exatamente igual. Uma vez proferida é impossível buscar ela de “volta” de todos os lugares onde passou e da mente de todas as pessoas que a guardaram. Portanto pode não ser um pecado, mas é um ato tão vil como se o fosse. Pois espalhamos aos quatro ventos inverdades sobre um determinado fato ou pessoa. Após não conseguiremos mais corrigir o que foi feito.

- Obrigado Padre!

Foram as ultimas palavras da mulher levantando-se do Confessionário.
Assim o que sair de sua boca pode fazer o bem. Mas também pode causar tanto mal quanto um temporal devastador na vida de uma ou de muitas pessoas.
Pensar não dói... Já a fofoca pode causar dores atrozes em muitos seres. Em seus familiares, amigos e ao mundo... Tenha um dia alegre... Sem fofocas!

 

 

Entendimentos & Compreensões
Fábulas do Cotidiano & Expressões Populares
Tesouros da Fraseologia Brasileira,  Rio de Janeiro –
Freitas Bastos – 1966
Arquivo da Sala de Protheus