quarta-feira, 17 de junho de 2015


 

 

Meia Palavra...


Palavras, palavras, palavras.
Eu já não aguento mais.

Palavras, palavras, palavras.
Você só fala, promete e nada faz.

Palavras, palavras, palavras.
Desde quando sorrir é ser feliz?

Cantar nunca foi só de alegria.
Com tempo ruim
todo mundo também dá bom dia!

 

Palavras – Gonzaguinha

 

Diz a sabedoria popular, que “para um bom entendedor, pingo é letra” e diz mais ainda que, “para bom entendedor, meia palavra basta”, entretanto, a sabedoria mineira adverte e contrapõe, que “em boca fechada não entra dentadura”, que a meu ver é o discurso mais adequado a estes tempos em que tudo parece ser tão virtual, que um “amontoado de palavras” se materializa à visão nacional geral em cimento, ferro e dinheiro no bolso.

Contudo, na semana passada lendo uma crônica da Prof. Dra. Jane Glasman na SALA DE PROTHEUS, (Como entender a Língua Portuguesa...), foi que me dei conta de que tudo é pura culpa da nossa “complexa” Língua Portuguesa Brasileira, ou “Brasilesa”, como prefere meu “amigo hospedeiro”, posto que tenha suas raízes regionalistas, na interpretação cultural específica e até mesmo uma “raiz ideológica”.

Foi aí então, que comecei a entender o “discurso oficial” dos últimos 13 anos: a Língua Portugueça Bernardina da Squerda Basilela. (“Prendam a língua” para falar, ou se quiserem e preferir, “contorçam o idioma” no pau de arara semântico, porque é o “politicamente correto” atualmente e assim o exige a Fonética dessa Novilingua).

Confesso que nunca fui um entusiasta da Lexicologia. Falta-me cultura e principalmente aquele “espírito arqueológico” de escavar, peneirar e depois pincelar a ancestralidade das palavras. Contento-me em conhecê-las e saber do seu conteúdo expressivo na “comunicação”, pois afinal é para isso que as “palavras” servem.


Mas sem dúvidas sou um fanático em organizá-las sintética e logicamente de forma que quem me lê, ainda que discorde do meu texto em conteúdo, não tenha a menor dúvida do que busco expressar e essa regra é no mínimo um “respeito devido” na “boa comunicação”.

Ouvi muito por toda minha infância: “Filho, os teus maiores patrimônios são o teu nome e a tua palavra. Um será o guardião do outro”. Lembro-me de ter ouvido também: “A palavra é sempre reta”. E foi assim que aprendi a interpretar tanto a palavra do pregador religioso, quanto a do político e do jornalista. Aquele por “cuidar do bem-estar celestial” e estes pelo seu comprometimento com o nosso “bem-estar terreno”. Era assim que encarava estas “missões desapegadas” viventes da palavra. Princípios, palavras e entendimento comuns.

Lembro-me muito bem, que naqueles tempos era muito mais fácil separar-se a verdade da mentira, o honesto do desonesto e as ações das intenções, visto que a quantidade de palavras nos mais diferentes idiomas era muito menor e assim diziam exatamente o que queriam dizer no seu mais amplo sentido.

Entretanto o desenvolvimento tecnológico, a integração linguística internacional pela adição de palavras de outros idiomas ao vernáculo nacional, além da globalização cultural, fez crescer substancialmente os vocábulos em todos os idiomas e foi aí que se começou a ter palavras diferentes para explicar coisas idênticas, apenas diferentes em mínimos detalhes e com isso em nome de um “purismo linguístico” passou a imperar o charlatanismo da “comunicação por falácias” ou “meias verdades”.


Aos muitos amigos estrangeiros que se queixam do “jeitinho brasileiro” os relembro, que ainda seja o brasileiro extremamente criativo, não o é o suficiente para ter inventado toda a malandragem existente no mundo. Somos meros herdeiros da esperteza multirracial, que é este “pote de miscigenação” chamado Brasil. Esquece-se que foi o rigor da lei em seus países de origem, que os fez gradativamente honestos. Porém, nem por isto estão isentos de manipulação por parte de seus governantes. Este é um “mal do mundo moderno” e, portanto, um mal de todo mundo.

A valorização extremada da juventude nos tempos atuais é outra contribuinte para que a memória seja cada vez mais curta e a politização permanente sobre assuntos mais momentâneos não permite a criação de uma sólida “filosofia política” e por isso os partidos brasileiros tem a vida tão curta, posto que criados para a “emergência pontual” e não para dar uma “visão de futuro”, que seja passada a esta e às futuras gerações.

Só quem “viveu seu tempo” como observador sabe da enorme evolução política do povo brasileiro nos últimos 50 anos, mormente nos tempos atuais da “comunicação virtual”, no qual a “ideologização” perde importância frente ao pragmatismo da adequação aos novos desafios impostos por essa mesma vida moderna. É na crise que um povo avança e aprende e que se reafirma o descompasso entre o “discurso político” e a vida prática do cidadão comum.


Para este pouco importa se “Privatização” é diferente de “Concessão”, ou se o “Bolsa Família” é “Distribuição de Renda” ou um “Mecanismo Condicional de Transferência de Renda”, posto que é do fruto do seu trabalho, que são gerados os recursos para a “manutenção do Estado”. Interessa-lhe se seu sacrifício é solitário ou tem a solidariedade desse mesmo Estado e seus agentes para que valha.

Crescentemente o povo vem aprendendo a distinguir os “tempos de saliva doce”, com os da “baba raivosa”, consciente de que os Governos não criam nada e que tudo que é criado é com a sua “contribuição em trabalho duro” e ao Governo cumpre tão única e exclusivamente aplicar esse “esforço” de maneira clara, transparente e espartana.

O brasileiro espera do Governo apenas uma “meia palavra”, mas que signifique “uma frase inteira e inteiramente verdadeira”...

 

 

Das Percepções & Vivências

De Antônio Figueiredo

Escritor & Cronista

São Paulo – SP -

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