#SerieRelacoes:
O
Amor e o Homem!
“...O amor é o estado no qual os homens têm
mais probabilidades de ver as coisas
tal como elas não são...!”
Nietzsche
Em encontros anteriores
iniciamos uma discussão sobre As Relações entre dois seres, entre Casais. Neste
caso foram casais heteros, até pela pouca informação já comprovada das relações
de casais homossexuais. E analisamos dois contextos: O dos adolescentes, os
jovens de hoje, e, após, dos casais, digamos mais antigos, de uma ou duas
gerações anteriores. Os comentários e correspondências eletrônicas que recebi,
em função destas crônicas foram entre o surpreendente e o que já sabemos. Ao
menos em uma ampla maioria. O surpreendente é que muitos seres estavam com o “automático”
tão ligado, envoltos em suas rotinas que, muitas vezes, as relações tinham “terminado”
e continuavam juntos sem saberem o porquê... Dei as respostas? Longe de mim tal
prepotência. Mas apenas liguei o famoso “botãozinho” que os levou a pensar em si
mesmos e no trato da relação a dois. Muitos descobriram onde estava o problema
que os “ligava” ou os fazia permanecerem juntos. Outros acharam a resposta para
terminar o “suplício” de uma vida a dois, “falsa”. Confesso: Surpreenderam-me
tais colocações, respostas e, principalmente, certo espanto de como se isso
fosse uma novidade descoberta agora pela ciência. Ou seja, os seres não mais
dialogavam. Não mais “alimentavam” o encantamento na relação.
A partir de um material, após ter lido ambas
as crônicas, uma grande amiga de intelecto privilegiado neste assunto remete-me
um material de pesquisa muito significante e atrevo-me a tentar escrever sobre
as diferenças de entendimento do amor. Entre o Homem e a Mulher. Ou seja, como
cada gênero vê, sente, discerne, percebe e, consequentemente, ama. Parte-se do pressuposto, já colocado nos
encontros anteriores que de certa maneira: “Ama-se o desejo de amar e não o
objeto deste desejo”. Em “outras palavras:” Eu (muito mais a mulher) amo muito
este desejo de desejar do que a mulher que é transformada neste mesmo objeto.
“Para amar, é necessário reconhecer
que se tem necessidade do outro”.
É assim que começa
uma longa conversa com o psicanalista e pesquisador Jacques-Alain
Miller, em uma tradução de Maria do Carmo Dias Batista. O pesquisador começa
afirmando: “Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se
posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer
amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas
presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem
necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que creem serem completos
sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam
dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o
risco, nem as delícias”.
Espera um pouco: quer
dizer que as formas de amar, enxergar e entender o amor para homens e mulheres é
tão diferente? Na essência e na base do entendimento e compreensão sim. Este “botãozinho”
que o pesquisador Miller fala significa achar o ponto exato da atração de uma
mulher pelo homem. Ou seja, a historinha medíocre e hipócrita de que o homem se
apaixona através de sua libido, ou seja: “uma bela bunda ou belos peitos”, está
mais para a vulgaridade do que para uma análise mais profunda. Um simples brilho no
queixo, ou o olhar de uma mulher pode provocar sentimentos arraigados no homem
que ele próprio desconhece.
Aqui precisaríamos adentrar nos estudos da Análise
Transacional, método psicológico criado em 1956, pelo
psiquiatra Eric Berne. Sim o que trazemos da mãe ou do pai, ainda escondidos no
inconsciente do dito homem. De outra forma; Como fomos criados e amados
registramos e acabamos transferindo tudo isto para o contexto do amor em uma
relação com uma mulher. Repito: Aqui estamos analisando o amor para o Homem. A
mulher será uma segunda discussão. Esta
bem. É agora que você deve pensar: Esta simplesmente complicando tudo? Não,
repito: jamais esqueçam: O ser humano é complexo não complicado. Mas amamos
complicar. É uma forma de escape, de defesa. Foi perguntado a Miller se a psicanálise explica ou
ensina alguma coisa sobre o amor? Antes devo lembrar-lhes que tanto a
psicologia como a psicanalise nasceram dos pensamentos pesquisados e analisados
durante séculos por filósofos. E isto vem desde os pré-socráticos, passando
pelo próprio Sócrates e depois analisado um pouco mais por Platão. De onde vem
a tal expressão de “amor platônico”. Mais tarde, os filósofos da igreja, mesmo
que com sentido religioso, mas, principalmente, em Nietzsche e Schopenhauer é
que Freud, e mais tarde seus discípulos que acabaram criando novas vertentes, novos
pensamentos sobre o que o grande mestre tinha dito, formularam o que hoje
estamos discutindo. Estes foram Lacan, Jung e mais tarde Eric Berne, assim como
muitos outros, mas de menos importância. É aqui que Miller responde: “Muito, pois é uma experiência cuja fonte
é o amor. Trata-se desse amor automático, e frequentemente inconsciente, que o
analisando dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício,
mas é do mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor
se dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém,
o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela
é, de fato, difícil de suportar”. Esta bem. Mas onde entra o homem, o macho
nesta história toda? Primeiro
vamos tentar entender o que é “amar verdadeiramente”: Miller deixa como
resposta: “Amar
verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade
sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à
nossa questão “Quem sou eu”?”. Lembram aqui do: Amo o desejo de amar mais que o objeto? Eis a
complementação.
E o homem? Ser completo sozinho só um
homem pode acreditar nisso? Miller responde enfaticamente:
Acertou! “Amar, dizia Lacan, é dar o que não se
tem”. “O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro,
colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar
algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se
assegurar de sua falta, de sua “castração”, como dizia Freud.” E isso é
essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição
feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um
homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não
está seguro de sua virilidade. Então amar é mais difícil para os homens? A resposta de Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem
retornos de orgulho, assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor,
porque esse amor o coloca na posição de incompletude, de dependência. É por
isso que pode desejar as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição
viril que coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a
“degradação da vida amorosa” no homem: a cisão do amor e do desejo sexual. E as
fantasias no homem? Miller diz: Está
bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo clássico, comentado por Lacan,
é, no romance de Goethe, a súbita paixão do jovem Werther por Charlotte, no
momento em que a vê pela primeira vez, alimentando ao numeroso grupo de
crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade maternal da mulher que desencadeia
o amor. Outro exemplo, retirado de minha prática, é este: um patrão quinquagenário
recebe candidatas a um posto de secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se
apresenta; ele lhe declara de imediato seu fogo. Pergunta-se o que o tomou,
entra em análise. Lá, descobre o desencadeante: ele havia nela reencontrado os
traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos, quando se
apresentou ao seu primeiro emprego. Ele estava de alguma forma, caído de amores
por ele mesmo. Reencontram-se nesses dois exemplos, as duas vertentes
distinguidas por Freud: ama-se ou a pessoa que protege aqui a mãe, ou a uma
imagem narcísica de si mesmo.
Espera um pouco então o
problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres; e as
mulheres, o que os homens esperam delas… A resposta de Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica
é que o diálogo de um sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes
estão, de fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro,
tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal
entendidos onde a saída não existe. Pensar não dói...
Já para o homem amar... É um pouco mais complicado!
Entendimentos & Compreensões
Transpirado da Entrevista do psicanalista
e pesquisador Jacques-Alain
Miller
Enviado pela minha sábia amiga
Reny Martins
Arquivos da Sala de Protheus.
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