- ou Síndrome de dr. House *
“... Em toda adversidade do destino,
a condição que gera mais infelicidade
é o fato de se ter sido feliz.. !”.
by Boécio – Filósofo latino –
480-526 –
O consolo da filosofia, II,4 .
O
que nos faz infeliz? Ou porque a felicidade dura tão pouco?
E
o que é felicidade? Porque nos parece mais fácil definir a infelicidade?
Um
é causa. A outra consequência. O autor do seriado estadunidense Dr. House,
criou um personagem que define, em nosso tempo, o que o ser humano conhece
desde os primórdios. Na Homilia ao povo
da Antioquia, XVIII, 4 o padre São João Crisóstomo, 345-407, iniciava
dizendo: “...Ninguém pode nos fazer
infelizes, apenas nós mesmos...!”.
Desde
os heróis gregos, da Ilíada de
Homero, todos foram infelizes e morreram infelizes. Maquiavelli, Shoppenhauer,
Nietzsche.
Bem,
este último deve ser o preferido do autor do seriado, pois é citado em quase
todos os capítulos.
Mas
o que tem a ver Dr. House, sua infelicidade e a nossa?
Tudo.
Em
quase toda genialidade há infelicidade. E rima. Nietzsche foi um gênio infeliz,
e o fazia escrevendo. “... As palavras
são como fazer amor....!”. Algo que ele somente foi fazer, no sentido biológico
depois dos 35 anos. O personagem do seriado é um gênio na área da medicina, em diagnosticar. Não
quer ver pacientes. Apenas analisa informações. Racionalidade. Exagerada para
alguns. Apenas realidade para outros.
Tenho
amigos Dr. Houses. Muitos. Correspondo-me
com eles. Amo falar com eles. Uns escrevem. Outros pintam maravilhosamente.
Outros tratam de pequenos animais e crianças. Outros fazem de instrumentos
musicais verdadeiras sinfonias divinas. Outros ensinam de maneira muito
diferençada da grande maioria. Até são considerados rudes e grosseiros. Outros
são gênios em sua área de trabalho. Destacam-se em uma área profundamente. São
conhecedores da própria alma. Todos já tiveram uma grande paixão. Todos já
tiveram um grande sofrimento. E deles fizeram sua arma de criação de “seus mundos”. Muito diferençado da
grande maioria. Eles acabam ajudando mais do que os “bonzinhos”. E não querem recompensa. A recompensa esta na
manutenção da infelicidade feliz. Não
querem ser iguais a ninguém. São únicos.
Os
ditos “normais” os chamam de
infelizes. Assim como Dr. House. Porem tem dificuldade em verificarem suas
próprias realidades. Geralmente tem inteligência acima da média. Tem problemas
de relacionamentos. Se tiveram família, duraram pouco. Se tiveram uma paixão,
durou menos ainda. Não conseguem manter. Suas mentes buscam sempre mais e mais. Não
querem a rotinização. Não querem o igual todos os dias. E se fixam em seres
parecidos, porem, que em seus julgamentos estejam acima de suas próprias
capacidades, inteligências. Ignoram o restante. Não vivem apenas para os
outros.
Kierkegaard escreveu em 1849, sua obra "Desespero Humano - Doença até a
Morte", no qual o filósofo procura refletir sobre o significado do
desespero, ou melhor, dos desesperados, dos infelizes e como podemos lidar com
eles de uma maneira otimizada para a nossa existência, questionando:
“... Será que
o desespero advém exclusivamente de acontecimentos externos/ Serão tais
situações que nos fazem desesperar? Será a influência do meio externo que
esmaga os nossos horizontes para a visualização da felicidade?...”.
Responde? Não. Continuam infelizes felizes. Não querem mudar. Esta é sua realidade, sua concepção
de mundo. Não tem medo da morte. Aliás, se possuem medos eles estão muito bem
escondidos. E são racionalizados, profundamente. Assim a sua quase
inexistência. Psicanalistas tentam buscar em nossa criação através das relações
com nossos pais. Justificam apenas. Não explicam. E os Infelizes felizes, não querem explicações. Não as que todos julgam
ter. Eles têm as deles. Pronto. Farão os que os “normais” fazem, mas não da maneira dos “normais”. E isso os torna diferençado dentro de nossa própria realidade.
Eles acabam fazendo mais por muitos do que todos os bonzinhos juntos. Então
para que explicações?
Para
muitos Dr. House é infeliz e viciado em uma droga farmacológica, devido as
dores físicas, ocasionadas por um derrame muscular, em sua perna. A dor física
como motivo para a infelicidade. Desculpas. Apenas.
Isso
apenas lhe faz sentir dores físicas. Mas nada tem a ver com suas realidades de infelizes felizes. Muito pelo contrário.
Eles sentem a vida presente como ninguém.
Trilussa,
poeta dialetal italiano escreveu em sua Acqua e vino, Felicitá, entre 1871 e 1950: “ ... Há uma Abelha que pousa / sobre um
botão de rosa: / suga-o e vai-se embora... / Em suma, a felicidade / é uma
coisa pequena...!”
Mas
e as relações dos infelizes felizes?
Para
Freud, “...o extinto do amor para com o
objeto, exige dominá-lo para obtê-lo... Se uma pessoa sente que não pode
controlar o objeto ou se sente ameaçado por ele, ela age negativamente para com
ele... !”.
E
fazer isso é estar em contato com nossos sentimentos.
E
a racionalidade não gosta muito disso.
Descobre-se,
rápido demais, que o amor dói...
Por
isso pensam tanto.
Afinal,
ao menos, isso.... Ainda, não dói!
*Dr. House - Seriado Estadunidense com o ator inglês Sir Hugh Laurie
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Publicado
no Sul na Bahia e ES.
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