O Novo Tempo...
"...Teus filhos não teus filhos
São filhos e filhas da vida,
São filhos e filhas da vida,
anelando por si própria
Vem através de ti, mas não de ti
Vem através de ti, mas não de ti
E embora estejam contigo,
a ti não pertencem...!”
Khalil Gibran
E aqui fiquei;
mãe leoa, desde os 17 anos com cria ao lado, desacostumada a cuidar “só de
mim”; melhor dizendo, sempre me deixando por último, de olho nas prioridades
das três criaturinhas que viviam comigo.
Sou durona,
costumo encarar muito bem essas separações. Quando minha filha mais velha saiu
de casa eu estava preparada. Levei na esportiva, lembro bem, quer dizer, não
lembro muito bem, porque foi exatamente nessa época que minha memória começou a
sofrer lapsos repentinos e preocupantes. Passei quatro anos sem conseguir
decorar o endereço ou o telefone da casa da Fabi, estranhíssimo. Até pensei em
consultar um neurologista, mas passou sozinho, assim que minha neta mais velha
nasceu...
Quando Tony,
o mais novo, resolveu sair, também reagi muito bem, mesmo ele tendo apenas
dezesseis anos e preferido morar com o pai à minha amantíssima companhia. Foi
apenas acaso que vagasse um apartamento maravilhoso bem ao lado da prumada dele
e passássemos a nos encontrar sempre na garagem. Coincidências acontecem, não
sou uma perseguidora.
Agora é
diferente, Natal fica a 2.450.54 km de Brasília, não há acaso que resolva uma
distância dessas. Vou ter que encarar os fatos: depois de 40 anos cuidando de
filhos, pai e mãe, meu ninho finalmente ficou vazio – se não contarmos com Bia,
Pingo e Morgana, que ronca tranquilamente aqui ao lado.
Como não
adianta espernear, até porque não tem ninguém aqui para apreciar o
faniquito, estou em processo de aceitação há quase um mês – já tem todo esse
tempo?
A casa
está tranquila, o ar suave e gosto de ter a minha "toca" para mim. É uma sensação
nova ir ao mercado e só comprar carne para os cachorros – os únicos residentes
carnívoros. Sei que ainda vou errar muito, enchendo o carrinho com comida que
vai estragar na geladeira; vou acordar de madrugada sentindo a presença do
Pedro no quarto ao lado, até lembrar que ele está amadurecendo, em frente ao
mar.
Sou mãe há quase tanto
tempo quanto sou gente, é natural que me perca em meio a essa sensação de
falta, mas acho que vou gostar de começar uma nova aventura aos 57 anos, quando
tantos de nós já fazem planos para aquietar o facho.
Vou me
dedicar a me conhecer melhor, a tratar de mim, a escrever, a cuidar da mulher
em que aquela menina de 17 anos se tornou e eu nem vi, de tão ocupada que
estava. Vou marcar os exames que adio há anos e pensar na vida que quero levar
daqui para a frente. Vou pintar a casa e consertar todos os pontos de luz
queimados, mas não vou mexer nos quartos dos meus filhos, porque casa de mãe é
lugar sagrado, para onde sempre se pode voltar, na hora do aperto.
Entendimentos & Compreensões
Um novo Tempo de Beatriz Ramos
Cronista – Brasília – DF
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