quarta-feira, 8 de abril de 2015


#PensarNaoDoi:
 Temporal...Temporão...
 Sopra o vento forte
Que é do norte, escureceu
Os galhos açoitam 
As paredes do galpão

Relâmpagos no céu
Tomam formas de raiz
E trovões tão fortes 
Que estremece até o chão

A noite encobre o dia
E assusta a peonada
Cavalos galopam loucos
Pelo campo em disparada

Curvam-se as macegas
Como quem faz reverencia
Credo em cruz, meu Deus
Que tempo feio

Depois do temporal
As folhas têm tom especial
Homens e animais 
Ficam serenos e lavados 
De todo o mal


Luiz Cláudio/Sandro Coelho – Temporal

                                   Desde a mais tenra infância, nenhum espetáculo natural sempre me fascinou mais, que as “demonstrações de poder” da Natureza. Fossem os “temporais de verão”, com seus grossos rolos de nuvens negras, acompanhadas de relâmpagos, trovões e raios nascidos lá pelos lados do Pico do Jaraguá e que cobriam céleres toda a larga várzea do Rio Tietê até a Penha, fossem as ondas espumantes e negras, que via na Praia Grande. Puro encantamento e fascínio, que enchiam o meu já “espírito irrequieto”.
                                  Foi assim, que aos 10 anos ainda não saído das “calças curtas e suspensórios”, me invadiu uma súbita “vocação sacerdotal” e isso me levou ao Norte de Santa Catarina, para conhecer um novo fenômeno: o das geadas. Puro encantamento tingido de branco com as pernas tremendo e o queixo e dentes matraqueando. Porém, foi isso que me levou a conhecer outras “culturas e gentes” brasileiras e tornar arrebatadora minha paixão por história e conspirações.
                                  Ao “Ei paulista, vem cá provar do amarguinho”, uma queimada feia na língua e céu da boca e uma gargalhada geral, ganhei de presente um poncho velho surrado para aliviar minha “tremedeira de calças curtas” e o acolhimento à “comunidade da cuia e bombinha”, uma inusitada aliança de paulistas e gaúchos, impensável 20 anos após a Revolução Constitucionalista de 32.
                                  Minha curiosidade e rebeldia me levaram a aprender muito cedo a ler os “sinais do tempo” em diferentes latitudes do Brasil, bem como as suas diferentes culturas, o que me transformou em um “filhote político”, precocemente adestrado.
                            Sempre me socorro da história para entender o presente e aqui e agora, não poderia agir diferentemente.
                            Com exceção das imigrações espanhola, recheada de refugiados da Revolução Franquista e da italiana, que trouxe no seu bojo grande quantidade de “anarquistas”, as demais correntes imigratórias, (alemã, polonesa, (fortemente cristãs), japonesa e outras minoritárias), compunham-se de “agricultores” e por isso “força de trabalho”, com pouca ou quase nenhuma educação e atuação política.
                               Por outro lado, a nacionalidade autóctone baseada no negro e no índio sempre compôs a “base pobre” da pirâmide social e por isso sua maior preocupação sempre foi a da “sobrevivência” e não a da ocupação de espaços políticos. Junto às correntes imigratórias tornaram-se a “base rural” da nacionalidade brasileira, que prevaleceu por quase 100 anos.
                            A partir dos anos 50 o país começou a se tornar industrializado e urbano e com isso a base da pirâmide começou a se deslocar para o operariado e com o avanço da classe média nesse segmento, começou a mudar o posicionamento político. Hoje com a “pós industrialização global” e com a expansão da classe média a níveis jamais imaginados antes no Brasil, chegou-se a um “novo tempo” político.
                             Nos últimos 80 anos passamos por uma “ditadura civil de direita”, uma “ditadura nacionalista militar” e uma “ditadura do pensamento” de Esquerda e com isto completamos nosso ciclo de “aprendizado político”. A vitrine visível dessa evolução está nas manifestações de rua. Nos anos Vargas prevaleciam as “oficialistas” e na Ditadura Militar algumas poucas por liberdades e eleições diretas.  
                                                  Hoje ainda que se fale “contra a corrupção”, quem grita mais alto é o “bolso”.
                              Entretanto, quando o clamor geral se levanta contra um Governo por razões econômicas, normalmente é porque sua base política e legitimidade se esgotou. Nenhuma responsabilidade é mais inalienável do que a manutenção da “estabilidade econômica” da vida de seus cidadãos, porque isso mexe diretamente na organização da vida diária de todos e principalmente com a “sensação de segurança” frente ao futuro.
                                 O que a cidadania começa a descobrir e a se conscientizar é que o “bem estar momentâneo” fruto de um ciclo conjuntural favorável não é uma garantia permanente, se não estiver baseado em leis válidas tanto para o cidadão, como para o governante. É da Economia a alternância dos “7 anos das vacas” entre gordas e magras, mas isso é inaceitável para a Política.
                                A intranquilidade político-econômica atual não era sentida desde os Governos Sarney e Collor e o espaço de 20 anos foi o suficiente para o brasileiro se esquecer do desconforto das crises conjunturais. Ainda que a atual crise lembre muito no seu método as enfrentadas durante a crise do petróleo dos anos 70, tanto a Direita como a Esquerda cometeram os mesmos erros, quando superestimaram a capacidade do país em superá-las.
                               E o receituário é exatamente o mesmo, amargo e de aplicação prolongada. Foi a Crise do Petróleo, que levou ao esgotamento dos Governos Militares e certamente será esta “crise particular”, que levará ao esgotamento dos Governos do PT.
                            A história ensina que Nações crescem ou se esfarelam em momentos de “graves crises”. Que seja este “temporal temporão” a saída final para que o Brasil encontre finalmente seu destino e rumo e principalmente aprendendo que o sucesso é feito de “muito líquido” ...
Não o da “saliva política”, mas o do “suor coletivo”.

 
Das Percepções & Entendimentos Históricos
Do Escritor e Cronista
Antônio Figueiredo
São Paulo – SP -

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