#PensarNaoDoi:
Que é do norte, escureceu
Os galhos açoitam
As paredes do galpão
Relâmpagos no céu
Tomam formas de raiz
E trovões tão fortes
Que estremece até o chão
A noite encobre o dia
E assusta a peonada
Cavalos galopam loucos
Pelo campo em disparada
Curvam-se as macegas
Como quem faz reverencia
Credo em cruz, meu Deus
Que tempo feio
Depois do temporal
As folhas têm tom especial
Homens e animais
Ficam serenos e lavados
De todo o mal
Luiz Cláudio/Sandro Coelho – Temporal
Desde a mais
tenra infância, nenhum espetáculo natural sempre me fascinou mais, que as
“demonstrações de poder” da Natureza. Fossem os “temporais de verão”, com seus
grossos rolos de nuvens negras, acompanhadas de relâmpagos, trovões e raios
nascidos lá pelos lados do Pico do Jaraguá e que cobriam céleres toda a larga
várzea do Rio Tietê até a Penha, fossem as ondas espumantes e negras, que via
na Praia Grande. Puro encantamento e fascínio, que enchiam o meu já “espírito
irrequieto”.
Foi assim,
que aos 10 anos ainda não saído das “calças curtas e suspensórios”, me invadiu
uma súbita “vocação sacerdotal” e isso me levou ao Norte de Santa Catarina,
para conhecer um novo fenômeno: o das geadas. Puro encantamento tingido de
branco com as pernas tremendo e o queixo e dentes matraqueando. Porém, foi isso
que me levou a conhecer outras “culturas e gentes” brasileiras e tornar
arrebatadora minha paixão por história e conspirações.
Ao “Ei
paulista, vem cá provar do amarguinho”, uma queimada feia na língua e céu da
boca e uma gargalhada geral, ganhei de presente um poncho velho surrado para
aliviar minha “tremedeira de calças curtas” e o acolhimento à “comunidade da
cuia e bombinha”, uma inusitada aliança de paulistas e gaúchos, impensável 20
anos após a Revolução Constitucionalista de 32.
Minha
curiosidade e rebeldia me levaram a aprender muito cedo a ler os “sinais do
tempo” em diferentes latitudes do Brasil, bem como as suas diferentes culturas,
o que me transformou em um “filhote político”, precocemente adestrado.
Sempre me socorro
da história para entender o presente e aqui e agora, não poderia agir
diferentemente.
Com exceção das
imigrações espanhola, recheada de refugiados da Revolução Franquista e da
italiana, que trouxe no seu bojo grande quantidade de “anarquistas”, as demais
correntes imigratórias, (alemã, polonesa, (fortemente cristãs), japonesa e
outras minoritárias), compunham-se de “agricultores” e por isso “força de
trabalho”, com pouca ou quase nenhuma educação e atuação política.
A partir dos anos
50 o país começou a se tornar industrializado e urbano e com isso a base da
pirâmide começou a se deslocar para o operariado e com o avanço da classe média
nesse segmento, começou a mudar o posicionamento político. Hoje com a “pós
industrialização global” e com a expansão da classe média a níveis jamais
imaginados antes no Brasil, chegou-se a um “novo tempo” político.
Nos últimos 80 anos
passamos por uma “ditadura civil de direita”, uma “ditadura nacionalista
militar” e uma “ditadura do pensamento” de Esquerda e com isto completamos
nosso ciclo de “aprendizado político”. A vitrine visível dessa evolução está
nas manifestações de rua. Nos anos Vargas prevaleciam as “oficialistas” e na
Ditadura Militar algumas poucas por liberdades e eleições diretas.
Hoje ainda que
se fale “contra a corrupção”, quem grita mais alto é o “bolso”.
Entretanto,
quando o clamor geral se levanta contra um Governo por razões econômicas,
normalmente é porque sua base política e legitimidade se esgotou. Nenhuma
responsabilidade é mais inalienável do que a manutenção da “estabilidade
econômica” da vida de seus cidadãos, porque isso mexe diretamente na
organização da vida diária de todos e principalmente com a “sensação de segurança”
frente ao futuro.
O que a
cidadania começa a descobrir e a se conscientizar é que o “bem estar
momentâneo” fruto de um ciclo conjuntural favorável não é uma garantia
permanente, se não estiver baseado em leis válidas tanto para o cidadão, como
para o governante. É da Economia a alternância dos “7 anos das vacas” entre
gordas e magras, mas isso é inaceitável para a Política.
A
intranquilidade político-econômica atual não era sentida desde os Governos
Sarney e Collor e o espaço de 20 anos foi o suficiente para o brasileiro se
esquecer do desconforto das crises conjunturais. Ainda que a atual crise lembre
muito no seu método as enfrentadas durante a crise do petróleo dos anos 70,
tanto a Direita como a Esquerda cometeram os mesmos erros, quando
superestimaram a capacidade do país em superá-las.
E o receituário
é exatamente o mesmo, amargo e de aplicação prolongada. Foi a Crise do
Petróleo, que levou ao esgotamento dos Governos Militares e certamente será
esta “crise particular”, que levará ao esgotamento dos Governos do PT.
A história ensina
que Nações crescem ou se esfarelam em momentos de “graves crises”. Que seja
este “temporal temporão” a saída final para que o Brasil encontre finalmente
seu destino e rumo e principalmente aprendendo que o sucesso é feito de “muito
líquido” ...
Não o da “saliva política”, mas o do “suor
coletivo”.
Das Percepções & Entendimentos Históricos
Do Escritor e Cronista
Antônio Figueiredo
São Paulo – SP -
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