#SerieAnalise:
Com H Eu
Sou Muito Homem...!”
seja escravo das suas paixões...!"
W. Shakespeare
Porque em
meio as comemorações sobre a mulher e neste desafio eu resolvi trazer um texto
que fala de homem e violência contra eles?
Porque acima dos papéis de gênero postos pela
sociedade, somos seres humanos, somos seres diferentes e não desiguais. Somos
seres complementares que formam a raça humana. A libertação, a equidade para
com mulheres, a justiça para elas, também é para os homens.
A
superação desses papéis pré-estabelecidos para homem e mulher é uma libertação
para todos e para os homens. Além de pensar em nossas questões, precisamos
também falar sobre os homens, pensar a questão masculina, falar da violência
que sofrem e da formação do papel masculino em sociedade. Então, vamos lá:
Terminei
o curso sobre violência doméstica entre parceiros íntimos, que incluiu homens
como vítima de violência, praticada por suas parceiras e/ou parceiros.
Chamou-me
atenção, algo que já havia refletido, mas, não lido, como se dá a construção da
masculinidade. Ora, assim como não se nasce mulher, mas, tornamo-nos mulher, já
dizia Simone de Beauvoir, também
homem não nasce homem, tornar-se homem. Ser mulher e ser homem não é algo dado,
determinado biologicamente, mas, uma construção social, cunhada por séculos e
séculos de ideias e ideologias do ser homem.
Interessante
é que o ser homem se constrói na oposição ao ser feminino, ou seja, tudo que
seja “feminino”, ou “historicamente construído como feminino”:
a fragilidade, a emotividade, a fraqueza, a passividade, a inconstância, a alma
cheia de caprichos misteriosos, o recato, certa malignidade inata destruidora
dos homens que precisa ser dominada, sufocada, adestrada.
Sendo
assim uma mulher sem o governo de um homem, é desgovernada. Historicamente as
mulheres foram seres sem alma, já foram seres tidos como estúpidos por terem
seus cérebros menores, já foram desprezadas pelos seios e tidas como imundas
devido a sua menstruação.
Bem, se a
construção do masculino é em oposição ao que é “feminino”, o masculino então é: a potência, a razão, a força, a
impetuosidade, a conquista, a linearidade da alma, a violência como uso de
conquista e dominância sobre a mulher e sobre outros homens. Homens dominam
pela força, pela inteligência, pela acumulação de riquezas. Homens dominam
tanto mulheres e outros homens. Se assim não for será incapaz.
Não é à
toa que em determinadas sociedades a entrada de um jovem no mundo masculino é
precedida de provas que demonstre sua força, virilidade e coragem. Um homem que
não carrega em si esses adjetivos, não é um homem, é um “maricas” e essa visão está tão fundamentada socialmente que as
próprias mulheres enfatizam essa construção.
Quando quer
praticar violência contra seus parceiros (entre
homens a incidência maior é da psicológica), mulheres usam
preferencialmente atingi-los nesses “marcos
de masculinidade” dizendo-o menos homem ou um homem fracassado. Ou seja, se
um homem não for capaz de dominar pela força, pela inteligência e
principalmente hoje pela acumulação de riquezas, ele fracassou em seu papel
masculino para os outros homens e para com as mulheres, para sociedade enfim
que o tem como: conquistador, provedor e ordenador do espaço também privado,
isto é, a casa, a família.
Para cumprir
seu papel social um homem não pode demonstrar seus sentimentos, ele logo é
tachado de efeminado, um homem precisa “ser
um bode”, lembram-se do ditado:
“segurem suas cabritas que meu bode tá solto!”?
Ele tem que
ser “Macho Alfa”, conquistador, ter
experimentado o sexo e ser experiente sobre o assunto. Ele tem que sobrepor-se
a outros homens, dominar outros homens, seja por sua força, sua inteligência ou
sua acumulação de riquezas. Por isso ele é potência: conquistador, desbravador,
dominador.
Por fim, além
de dominar e destacar-se no espaço público, o homem também é o dominador e
ordenador do espaço privado.
Mas, o que
acontece quando falham nesse múltiplo papel de dominância completa. Não são
mais homens, falharam em ser homens. Suas mulheres os violentam
psicologicamente porque falharam no papel destinado a ele, tanto no público,
quanto no privado.
Ser um homem na
multidão é ser menos homem. Ser um homem desprovido de potência, inteligência,
dinheiro, é ser menos homem. Um negro é menos homem, a não ser que conquiste as
dominâncias dos brancos, ou assuma o estereotipo da hirpersexualidade, sua
ferocidade, a mítica do pênis grande, do
negão. Então ele será homem pela conquista da sexualidade potente e até
mesmo desgovernada.
Contudo, faz bem
aos homens terem que corresponder a essas expectativas sociais? Comecemos por
um fato simples, a falta de cuidado com a saúde, a maioria dos homens é
descuidada com a saúde, não querem ir ao médico, porque seria um sinal de
fraqueza, a (in) potência. E quando vão por vezes é tarde demais.
A competição de “macho alfa” acaba furtando alguns
homens de conhecer e relacionar-se intimamente com uma mulher. Aquele que
conhece muitas mulheres, na verdade, não conhece nenhuma.
A busca da
dominância no espaço público acaba por reverberar em violência. Porque
humilhado por outro homem que tem sobre ele poder, não podendo ser o dominante
por questões de dinheiro, status social, saber, alguns homens buscam a
dominância da forma mais primitiva: a força. Contra outros homens e no espaço
doméstico, contra mulher e filhos. Uma das várias explicações para a Violência
de Gênero.
Se falhou na
ordenação, provisão e dominância da casa, então falhou mais ainda na sua
masculinidade. É interessante notar como a sociedade observa isso, ou seja, uma
casa sem “autoridade de homem” é uma
casa sem governo, frágil, “aberta a
bagunça”, “aberta a conquista de outro homem ou homens”, “as mulheres
desgovernadas e a disposição”.
Pergunto:
Ser homem é isto mesmo? Esses papéis “postos” para nós tem feito bem a
humanidade, as sociedades? Ao homem e a mulher?
Há mesmo uma
única maneira de ser homem, uma única maneira de ser mulher? Ou muitas e
variáveis maneiras de ser homem e ser mulher conforme cada indivíduo?
Então é hora
de repensarmos nossa papeis, e também na educação que damos aos filhos: meninos
e meninas. Se quisermos uma nova sociedade, passa no repensarmos no papel
social de homens e mulheres. O feminismo também fala ao homem. A mudança do papel
feminino, os questionamentos sobre as questões de gênero, também fala sobre os
homens. A revolução começada na queima dos soutien
também fala dos homens.
Então vamos falar
sobre isso? Vamos falar do é ser homem? Será que ser homem é isso mesmo ou
existe outra forma ou outras formas de se construir socialmente como homem e
mulher em nossas sociedades?
Com a palavra os homens...
Entendimentos & Compreensões de
Candida Maria Ferreira da Silva
Assistente
Social, Teóloga, Especialista
em Infância e Violência Domestica pela USP.
- Rio
de Janeiro – RJ -
Candida é autora do Diário
http://blogdakhandy.blogspot.com.br
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