#PensarNaoDoi:
“...A
verdadeira liberdade é um
Massimo Bontempelli
Eu, a Gaivota e o Cãozinho!
ato
puramente interior como a verdadeira
solidão:
devemos aprender a sentir-nos livres
até
num cárcere e a estar sozinhos
até
no meio da multidão...!”
O dia
amanheceu calmo, o frescor do mar invadia a pequena casa onde estava. Na
cozinha, passei o café em uma xícara grande, peguei-a, ainda sentindo o aroma
divino do café, saboreei lentamente... Fui até uma mesinha no centro da sala, onde
estavam anotações (sem qualquer tipo de comunicação externa), olhei algumas...
E deu uma vontade de... Deixa isso pra lá.
Fui até a
varanda. Uma área externa grande de madeira, com uma pequena cerca também de
madeira... Olhei para a vastidão do mar... Tudo estava calmo... Tudo sereno. O
dia estava radiantemente lindo...
Terminei
minha xicara, abri o pequeno portão que separava da areia da praia... Estava
deserta (tinha sido escolhido pela minha mestra exatamente por isso).
Areias
limpas... Grandes extensões até a agua... Lentamente fui respirando...
Absorvendo o ar marítimo... As aguas estavam calmas, brilhantes, cintilantes...
Apenas pequenas ondinhas chegavam até a praia (marolas, como os litorâneos
chamam).
Estava
sozinho. Mas não me sentia sozinho... Uma sensação de paz tomava conta de todo
meu ser... Era minha primeira “folga” (minha mestra de Meditação Transcendental
havia-me dito: Amanha estará contigo somente... Mas só pela manha).
Aproveitava
aquele momento.. Um pouco ansioso pelo que viria depois. Era sempre uma
surpresa. Ao menos para minha ignorância.
Minha
mestra tinha, á época, 82 anos e uma agilidade fantástica. Quase circense. Mas...
Bem... Deixa isso... Detalhes que não importam aqui.
Continuei
caminhando sentindo a areia nos pés.... Olhando o mar calmíssimo como se
convidasse:
“Senta
aqui perto vamos conversar!”
Andei um
pouco mais e simplesmente sentei próximo à areia molhada pelas ondas da noite
anterior.
Acomodei-me
nas areias brancas, coloquei os cotovelos sobre os joelhos e fiquei admirando
aquela gigantesca maravilha.
Os raios
do sol matinal dançavam sobre as águas do mar calmo, dando impressões de anjos
cintilantes como se fizessem piruetas sobre a água.
Assim
permaneci algum tempo (não marquei) Aliás, não poderia ter nada, a não ser
lápis e papel (ordem da mestra). Comunicação exterior? Nem pensar.
Dizia-me
ela:
Quer falar com alguém? Use seu espirito. Ele é mais rápido que a internet;
Demorei
em entender a metáfora. Mais dez dias precisamente. Mas esta é outra história,
Assim
olhado o mar, vi uma gaivota que planou e veio à cerca de 10 metros de onde
estava e simplesmente ficou quieta.
Não
liguei... Há cerca de 10 km da praia havia um porto, imaginei ser normal elas estarem
ali.
Mas
aquela gaivota foi diferente (lembrei-me de Fernão Capela, de Richard Bach),
aos poucos, lentamente, pé por pé, veio se aproximando... Não me mexia.. Eu,
apenas acompanhava com os olhos...
Chegou
até cerca de um metro de onde estava sentado... E, simplesmente, acomodou-se...
Fez toda uma cena... Atirou areias para trás... Aninhou-se, abriu as asas como
se quisesse ficar toda na areia... E assim ficou... De asas abertas... Quieta.
Vez por
outra virava sua cabeça para me olhar... Eu olhando sem me mexer.
Ficou por
um bom tempo assim... Olhou-me para ver se não representava perigo mais de uma
vez... E aos poucos foi fechando os olhos.... Vez por outra abria para ver se
ainda estava tudo como “ela encontrou”... Tornava a fechar....
Passou-se
um bom tempo... Fui vagarosamente, espichando as pernas... E tentando me apoiar
nos cotovelos, sobre a areia para continuar a observá-la. Abriu os olhos. Não
ligou e continuou. Também continuei olhando aquele belo exemplar da
natureza....
Coloquei
os braços cruzados atrás da cabeça, para ainda assim ter um ângulo para
observá-la... Ela permaneceu...
Confesso:
Adormeci.
Acordo
com lambidas. Sim, literalmente lambidas de uma espécie de algodão grande com quatro
patas, e uma senhora vindo aos berros gritando.
- Penny,
volte aqui... Não incomode o senhor..., Pennnnnyyy..
Era um
pequeno cãozinho que me lambia a face, afagando-me, sorri e ele ficou olhando
para mim, bem próximo da minha face.
Chega
ofegante a “dona” do algodãozinho e diz:
- Perdão
senhor, é a primeira vez que Penny faz isso... Ela não é dada assim, rosna para
todo mundo e foi a primeira pessoa que ela fez isso. O senhor me desculpe...
Apenas
sorri e nada disse. Virei-me em direção aonde ia à senhora e Penny já com a
coleira... Vez por outra Penny parava, virava a cabeça em minha direção lançava
um olhar e um pequeno acuado.
Sentei-me
novamente na areia e senti uma sensação completamente diferente...
Primeiro
o mar calmo. Depois a companhia da gaivota... Depois um cãozinho peralta me
afagando a face... Ninguém mais na praia... O que era tudo aquilo.
A
pergunta interna saltou-me dos pensamentos:
- Isso significa
que sou bom? Que estou em harmonia com a natureza como um todo?
- Não
respondi... Nem a mim mesmo... Apenas sorri e falei sozinho. Sim para mim
mesmo....
-Creio
que sou bom.. E isso é bom.. Se, seres tão sublimes e divinos chegam tão
próximos a mim com gestos de carinho... Não devo ter maldades..
Sou bom.
E isso é bom.
Levantei-me
com um pequeno sorriso interno de satisfação.. Retornei a casa, deveria estar
próximo da chegada da mestra.
E... Senti-me
bem... Senti-me humano... Senti-me parte do todo...
E isso
era bom...
Entendimentos &
Compreensões
Revelações de momentos
vividos de uma Vida plena.
Homenagem e saudade
de Pequena estrela
Minha mestra de
Meditação Transcendental,
hoje estrela mesmo...
Em algum lugar do
Litoral em 2009!
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