#Confissões:
A chave!
A recordação é uma traição à natureza,
Porque a natureza de ontem não é natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Porque a natureza de ontem não é natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Fernando Pessoa
E quando o olhar se apaga, o riso seca, as mãos se soltam, a dor se instala? E
quando a confiança acaba, a esperança morre, nada mais resta, o sentido escapa?
E quando o vazio ocupa o espaço que, por tanto tempo, abrigou meus
sonhos mais secretos, preciosos, sagrados?
E quando descubro que nunca me senti amada, nunca fui aceita, que
me enganei durante anos porque você jamais me viu como de fato sou?
E quando percebo que o amor por quem rompi barreiras, explodi obstáculos,
saltei precipícios, pisei em espinhos, nunca mereceu tanta devoção?
E quando sinto que fui cega e surda, porque você nunca valorizou meus sentimentos a ponto de me dizer a verdade? Que sempre negou a força do elo que nos uniu?
E quando sinto que fui cega e surda, porque você nunca valorizou meus sentimentos a ponto de me dizer a verdade? Que sempre negou a força do elo que nos uniu?
E quando uma mulher desconhecida senta entre nós, o chama de “meu
amor”, o olha com olhos de dona e me obriga a enxergar o que, em todos estes
anos, me recusei a ver?
E quando percebo que, no momento exato em que me pedia tempo, que
tivesse paciência, que não tomasse nenhuma atitude definitiva, você buscava, em
outras camas, em outras bocas, o prazer e o amor que negava a mim?
É quando o véu da ilusão se esgarça, o coração petrifica, e começo
a diminuir, a me tornar pequena e vulnerável, mergulhando dentro de mim mesma,
ao encontro da fortaleza que é meu abrigo desde que me lembro.
É quando aqui, nesta torre de marfim que uso há tantos anos, onde o
mundo não me fere, onde sou invisível e eterna, onde nem você me alcança, que
começo, cada dia um pouco, a me reconstruir.
É quando fragmentada, sofrida, quase sem respirar – como se assim
pudesse fugir da dor que me rasga o peito – começo, tateante e concentrada, a
desatar os laços que me prendem a você.
É quando o torno invisível na multidão, para que não mais o sinta
entrar em uma sala cheia, como se um ímã o levasse a mim. É quando o torno
cinza, para que se perca em meio aos demais, seja apenas um, entre tantos
outros.
É quando aprendo a evitar seu olhar, que me escravizou, ao mesmo
tempo em que, no mundo externo, minha casca abandonada enxerga a vida com olhos
cegos.
É quando um dia, ao acordar nesta torre, já agora de pedra que, de
tão usada, é meu asilo e prisão, me tateio inteira, fênix renascida, encontro a
chave da porta embaixo do travesseiro e, no exato instante de minha libertação,
percebo que, enfim, me perdi de você.
Dos Pensamentos e Sofrimentos Poetizados
Dos Entendimentos & Compreensões de Vida.
Beatriz Ramos – Jornalista & Cronista –
Brasília – DF -
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