Quatro Dias Comigo!
Gosto de ficar comigo mesmo.
Sou a melhor
forma de entretimento
que posso encontrar...!”
Charles Bukowski
Consegui! Passei quatro dias desconectada das redes
sociais, entrando, apenas em horas previamente determinadas, para checar se os
filhos viajantes haviam chegado a salvo a seus destinos.
Em uma dessas entradas encontrei um
pedido de postagem do meu trabalho – pois é, trabalho com redes sociais – mas
não considero o projeto inutilizado, já que entrei rapidinho, fiz o que me foi
pedido, e saí do ar antes de poder dizer “Mangueira”!
Eu estava sentindo falta dessa pausa há
tempos; fui uma criança da década de 1960, criada à beira da Lagoa Rodrigo de
Freitas, no Rio de Janeiro. As palavras vinham dos livros, poucas casas tinham
televisão, éramos obrigados a imaginar o que não podíamos ver.
Para a minha cabeça de menina tudo
tinha um sentido oculto, misterioso. O sol que batia nas águas, no final da
tarde, eram as fadinhas dançando depois de um dia de trabalho; a abertura de
uma rocha no alto de um morro, a entrada para a Gruta dos Três Martelos; passei
horas a fio procurando a entrada para o Reino das Fadas entre a vegetação das
margens do que foi o meu parquinho na primeira infância.
Hoje, quando a terceira idade é um trem
desgovernado vindo em minha direção – como diria minha filha - , não tenho mais
espaço para imaginar muita coisa, a realidade se impõe de maneira muitas vezes
chocante em minha rotina.
É tanta informação, a maior parte delas
arrasadora, que chega antes mesmo do café da manhã, que minha cabeça vive cheia
de palavras que não são minhas. Na hora em que sento para escrever não me
encontro, em meio a tantas citações e palavras de ordem.
Resolvi usar os feriados para dar um
tempo e ver se ainda conseguia existir, fora das redes.
O primeiro dia foi duro, a vida virtual
está tão entranhada em mim que a sensação de tédio, de não saber o que fazer
com meu tempo, quase deu cabo do projeto. Acima de tudo senti uma sensação
terrível, como se o mundo
estivesse vivendo sem mim, como se as crises estivessem acontecendo sem que eu
estivesse lá para resolvê-las. Hummm... anotação mental: estar presa às redes
faz um mal danado ao meu ego. Não sou onipotente, o mundo sempre se resolveu
sem a minha humilde contribuição.
No domingo eu já estava melhor, hoje
estou ótima. Não tenho a menor ideia do que aconteceu no Brasil e no mundo
desde sexta (13), mas em compensação li dois livros ótimos, meditei, dormi até
acordar, brinquei com meus cachorros, vi a chuva cair no jardim e não tirei o
carro da garagem.
Como nada de novo anda acontecendo ultimamente,
tenho certeza que, amanhã, quando abrir os jornais, não demorarei muito para
saber dos últimos roubos rebatizados de malfeitos; o país continuará tentando
sobreviver a seus governantes e o mundo, tentando ignorar as atrocidades
cometidas pelo EI, até que ele bata à sua porta.
Tudo isso acontecerá amanhã, mas hoje,
apenas hoje, minha cabeça está livre, cheia apenas com meus pensamentos e
sonhos, exatamente como quando eu era menina; quando não havia internet; quando
as fadinhas dançavam ao pôr-do-sol nas águas da lagoa; quando não se degolavam
crianças ou queimavam pilotos ao vivo; quando era possível ser feliz...
Das
Crônicas de Uma Vida
E
Sentimentos de Beatriz Ramos
Jornalista
& Cronista
Brasília
– DF
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