segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015


O Milagre Azul-Hortênsia!
“Ah lar...Doce Lar...!”

                                 Milagres acontecem quando menos se espera, pelo menos comigo. O ano novo veio com jeito de superação e mistério, trazendo consigo uma casa, que vai abrigar a meus filhos e a mim, depois de anos pagando aluguel e incomodando os amigos, com pedidos de aval.
                                Uma casa linda, que não foi pedida ou reclamada, mas que será acolhida com o carinho e o respeito que os milagres merecem porque, todo mundo sabe, milagres não costumam se repetir, quando tratados com desdém.
                            Passamos meses procurando a casa certa, vimos lugares lindos, outros nem tanto. Visitamos dramas a cada inspeção; aqui um câncer superado, acolá um marido que se foi deixando atrás de si apenas solidão e sofrimento enquanto a casa, tão abandonada quanto o coração da dona, cai aos pedaços devagarzinho, mais à frente as marcas de queimaduras terríveis e a miséria enfeitada para a missa de domingo.
                                 Conhecemos alegrias também, claro, de famílias que deixavam para trás casas agora pequenas, por estarem esperando outro bebê, ou que procuravam lugares menores, porque a vida estava mais simples, desapegada.
                                Procurar a casa certa é ver um monte das erradas, é bisbilhotar, mesmo sem querer, a vida de todas as famílias que querem vender as suas e, quase sem dar por isso, imaginar trajetórias, guerras e amores. Como se a criação das personagens tornasse menos impessoal a intromissão.
                                Em nossa busca pela casa única, a que estava à nossa espera, que falasse conosco a mesma língua, andamos por lugares que eu sequer sabia existir em Brasília, outra cidade, mais ampla, abraçando a que conhecemos tão bem. Vimos vacas pastando em condomínios, casas lindas em meio ao nada, opções tão diversas que, mais do que um lar, me vi escolhendo um modo de vida: viro uma eremita, em uma casa linda, ou mergulho no turbilhão do Plano Piloto, em um apartamento pequeno e funcional? Onde quero passar o resto de minha vida e, mais importante, como quero viver, daqui para frente?
                            A busca pela casa, sem aviso prévio, havia se transformado em jornada pessoal, na próxima encarnação quero voltar mais simples, sem esta mania de transmutar em transcendental o passo mais ordinário. Com tantos questionamentos, o surpreendente é eu não ter me perdido inteira, no imóvel que procurava achar.

                                  Sem saber o que queria para mim, demorei a escolher o meu lugar; tropecei em bairros, vasculhei closets empoeirados, andei a cidade inteira até cansar. De tão exausta, esqueci que os milagres vêm a nós, que não precisava ter corrido tanto porque o meu sabia direitinho onde me encontrar. Quando parei para descansar e comecei a ouvir os sinais ela apareceu e, embora já a tivesse visto antes foi como uma primeira vez.
                                 Meu milagre tem poço e horta, para plantar as ervas e legumes dos almoços de domingo, tem energia solar, para castigar a Terra o mínimo possível, tem gramado grande, para plantar os pés no chão e sonhar estrelas, tem piscina para mergulhar as netas e churrasqueira, para agradar aos meus meninos.
                              Meu milagre é uma casa-família, com cheiro de riso e árvore de Natal iluminada, e vai ser pintada de azul-hortênsia com as janelas brancas, assim como branca será a sua porta, sempre aberta, para trazer paz a todos os que a virem, para ser aconchego e útero, para ser feliz.
 

Dos Diários de uma Vida
Pensamentos & Percepções
De Beatriz Ramos –
Jornalista – Cronista
Brasília – DF -
 

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