O QUE SERÁ? QUE SERÁ? ...
“Não acredite só na “fotografia
do momento”, que os seus olhos captam. É só um instantâneo. Creia mais no
“longa metragem” que sua alma vê. É o futuro...”
O Autor
“O que será que será? Que andam
suspirando pelas alcovas, que andam sussurrando em versos e trovas, que andam
combinando no breu das tocas, que anda nas cabeças e anda nas bocas. Que andam
acendendo velas nos becos, que estão falando alto pelos botecos e gritam nos
mercados que com certeza está na natureza...”
Chico Buarque
A cada dia que passa me
surpreendo mais e mais com a capacidade profética do “muso das Esquerdas” em, ainda que mirando a “política dos anos 70” nas suas músicas, falar com propriedade e
justeza do nosso tempo e em especial em “antever”
o comportamento político da “Esquerda
Contemporânea”.
Chico Buarque na história futura,
quase que com certeza, será reconhecido como o “João Evangelista” do “Apocalipse
das Esquerdas”. Ou melhor, do “jeito
esquerdo brasileiro” de fazer política, que o PT a despeito das “intenções iniciais” acabou por se
render e aprimorar. Somos especialistas em piorar o ruim, até torna-lo péssimo.
Uma coisa que os velhos mais
fazem é pensar, principalmente sobre o passado, porque pensar sobre o futuro
costuma não render muitas perspectivas de futuro. A “expectativa de vida média” do brasileiro aumentou em 4 meses e
agora podemos gozar mais esse tempo além dos 74 anos. Isso para mim representa
mais 5 anos... Não quero pensar nisso!
Mas vamos lá. Dias atrás me
questionava, porque a “filosofia
marxista” durou pouco mais de 120 anos, (1867
pela publicação de O Capital, até a Queda do Muro de Berlim em 1989)
considerado o “tempo de vida” do
Comunismo, assim como todos os “filósofos
contemporâneos” de todos os tempos também passaram, enquanto a Filosofia
Clássica Grega ainda segue sendo uma referência até os dias atuais?
O propósito aqui não é uma “discussão filosófica comparativa” na
qual gastaríamos muitos maços de cigarros e latas de cerveja, era assim no meu
tempo, porque hoje se “filosofa baseada e
energeticamente”, isso sem contar os baldes de “saliva voadora” dos contendores, principalmente depois que a
cerveja, (ou a da “lata”, mexendo com os
cariocas dos anos 70), começasse a
“filosofar”.
Não quero me centrar exclusivamente naquilo que representa o “questionamento permanente” do ser humano. De onde e para onde? Essa não é a real questão, que hoje em dia foi tornada irrelevante, mas sim a busca de razões para o “durante” por aqui e ainda mais se o aqui é no Brasil.
O que precisamos fazer para
tornar nosso insuportável, suportável?
Somos seres gregários
ancestralmente e por isso exigimos “cavernas
seguras”. A “certeza de um futuro” é a razão maior das nossas incertezas e
por aqui no Brasil até hoje os “mamutes”
e “tigres de sabre” ainda perambulam
tirando a nossa paz. Em especial os viventes no “Jurassic Park” de Brasília, que fazem com que viver nesta “selva brasiliensis” ainda sejam muito perigosos.
Os tais “pré-históricos” sempre arranjaram novas artimanhas de caça para
reavivar os nossos medos e é assim que sempre nos mantiveram assustados e
indefesos, mas agora o nosso “chega” chegou... E com uma força inusitada.
A última delas é arrogar-se do
direito de usar o nosso dinheiro de impostos para gastá-lo da maneira, que bem
entendem e sem nos dar qualquer satisfação. Ou seja, querem mandar a Lei de
Responsabilidade Fiscal para as “cucuias”,
ou “prá casa do K7”. Isso na prática significa
que aquele “cercadinho de proteção”,
que levamos quase 100 anos construindo com tanto esforço e paciência para
aumentar nosso “conforto e segurança na
caverna” está em vias de ser demolido.
A Presidente e sua “matilha amestrada” não estão nos pedindo um “waiver”, (perdão), que é uma praxe entre instituições financeiras multilaterais pelo descumprimento de metas e exigências contratuais ou por “políticos parlamentaristas”, quando seu governo não emplaca. Com arrogância nos exigem a mudança da regra, pois gastaram além da conta e da responsabilidade e agora nos “enfiam goela abaixo” a “conta”.
Agiram como “dondocas perdulárias” dos “tempos
da ditadura”, aquelas “ascendentes”
do “Milagre Brasileiro” dos anos 70 gastadoras
ilimitadas dos nossos cartões de crédito. Por óbvio desta classificação excluo
a “mulher atual” responsável, nossas
aliadas na austeridade econômica e parceiras no “tudo” da vida moderna e grandes ativistas das redes sociais. A “vida na caverna” mudou muito.
Pois é!!! ... Onde está aquela
Canaã prometida onde correria leite e mel para todos? O que será? Que será? ...
A única promessa cumprida foi a da “Bolsa
Maná” para o “pobre útil”, porque
o “leite e mel” só correm para eles e
é um privilégio de quem é o “porta voz
oficial” do “povo”.
Sempre ouvi a “piada” sobre as três maiores mentiras
do mundo: a) Dinheiro não traz a
felicidade; b) Pago amanhã e c) Ponho só a “cabecinha”. Acrescento mais uma... Um governo de justiça social, “que não rouba e não deixa roubar”, (lembram-se do Zé Dirceu, aquele que se
“subiu ninguém sabe, ninguém viu”) promovido pela “Esquerda Brasileira”. Aquela mesmo que o Chico tecia loas e versos
de “porvir risonho”.
Aqui retorno às “minhas considerações filosóficas”. É de
Chico Buarque outra “‘pérola profética”:
“Deus é um cara gozador, adora
brincadeira, pois prá me botar no mundo, tinha o mundo inteiro, mas achou muito
engraçado e me bota cabreiro. Na “barriga da miséria” nasci... brasileiro”.
Será que ele conseguiu nas suas “visões parisienses” ver as ruas e praças das
metrópoles brasileiras dominadas pelo “crack”?
Pergunto mais. Será que nas suas “visões apocalípticas” anteviu “organizações parassociais” penduradas nas
“tetas públicas” afrontando a lei,
fossem eles “sem terras” ou “sem tetos”, protestando contra a “situação”, mas sem culpar a “Situação”?
Ainda mais. Que o “sindicalismo” fosse a forma de Governo
e de fazer e estruturar a política e que de seus “quadros qualificados” saíssem
tantas “sumidades” ocupando os Fundos
de Pensões, Presidências de Estatais e “pirâmide
abaixo” se contassem 125 mil “leais e
fieis companheiros” compondo o “quadro
de Estado”.
Nem Marx nos seus mais “altos delírios” conseguiu projetar uma “República Socialista”, como a
construída sob os “panos democráticos”
no Brasil.
Sem qualquer licença, poética ou
de direito autoral, vou me utilizar dos mesmos versos de Chico: “Deus é um cara gozador, adora brincadeira,
pois prá me botar no mundo, tinha o mundo inteiro, mas achou muito engraçado e
me bota cabreiro...”, que passássemos 16 anos sob a Ditadura Militar, (1964-1980, não conto o Governo Figueiredo,
pois já era um “governo de arrumação de mudança”?) e agora nos tenha condenado
a 16 anos de Governo do PT. Diz “que
Deus dará, o nega...”.
Acho isso muito mais do que uma “coincidência histórica”, isto é parte
do “aprendizado político” e do exercício da Democracia. É por comparação,
que vamos desentortando as curvas e desvios dos “caminhos do durante”.
A construção de uma Nação sempre
se faz por tentativa e erro, pois esta é a única forma que a humanidade aprende,
por não ser muito boa em “padrões
históricos” e seus ciclos. Ora avança e ora regride, mas ainda assim dando “passos”. Um passo nem sempre é um “adiante”, mas sempre é um novo rumo no
caminho.
Sou “observador sobrevivente” das ruas dos “anos de chumbo” e com exceção da “Marcha dos 100 mil” e das “Diretas
Já” não me recordo de tanta movimentação exigindo direitos por parte da “população”. Excluo, nos tempos de agora,
as “manifestações”, com carteira
profissional e direitos trabalhistas, militantes que não representam o “povo”, mas o “poder fantasiado de povo”.
São os “Clóvis oficiais”, (clowns),
fazendo barulho batendo suas “bexigas de
porco” no chão. (Saudades daqueles
carnavais cariocas...).
O que devemos é celebrar esse
despertar inédito da cidadania, talvez a “bossa
nova” mais inédita, auspiciosa e representativa de toda a nossa história
como uma nação e hoje repercutida em todas as regiões do Brasil, a despeito de
toda desigualdade, que ainda temos. E ela é uníssona nas ruas de todas as
Capitais Brasileiras e “na rua, na chuva,
na fazenda ou numa casinha de sapé” das redes sociais...
Não é apenas um “momento histórico”, é a “própria História” se escrevendo...
Sou um “velho” movido à música e poesia: “O que será? Que será?...”
O que nos atrevermos, SERÁ!
Antônio Figueiredo
Escritor e Articulista
São Paulo – SP
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