#54AnosDepois:
A Renúncia de Jânio Da Silva Quadros!
- Em 1961 -
Renúncia... Sempre a
Renúncia...
Na intimidade, Jânio suportava conversar sobre a renúncia, assunto explosivo se provocado em público ou em ambiente com muitas pessoas. Um dia, aos próprios amigos, que insistiam em fazê-lo confessar algo mais do que a explicação que dava, respondeu com surpreendente calma: - A verdade sobre a renúncia vocês já sabem. Se quiserem ingressar na ficção, conversem com o Vladimir Toledo Piza, que tem mais de dezoito versões. Escolham uma delas.
Jânio e a Renúncia:
"...No
documento (da renúncia), acusei as "forças terríveis" que me
pressionaram. Lembro-o porque as "forças ocultas", que me foi
atribuída, corre por conta dos interesses dos grupos que castiguei, procurando
rasgar outros rumos, locais e cristãos, para a nossa pátria. Essas forças, às
vezes, poderiam aparecer mascaradas, mas ocultas não o eram. Não quis, no meu
benefício, rasgar a Constituição embora anacrônica dissolver o Congresso embora
deformado pela lei eleitoral e quase inoperante – lançando nosso povo à
inevitável guerra civil. Sacrifiquei-me sem hesitações...!"
Carta ao General Castelo
Branca, em 1964.
“... Neste país, não se
renuncia sequer ao cargo de síndico. É natural que poucos entendam gestos de
grandeza e desprendimento..!”
Jânio da Silva Quadros
Corri bibliotecas, colhi depoimentos, li e reli
centenas de revistas e jornais antigos e conversei muito com a própria
personagem: Jânio da Silva Quadros.
O ex-presidente sempre foi comigo por demais
atencioso, relatou-me fatos que hoje tenho por obrigação passar através deste
artigo. Entrevistas e bilhetinhos revelam as várias facetas e o estigma da
renúncia do político Jânio da Silva Quadros.
Para não desmerecer sua biografia, recheada de
renúncias, também desta vez Jânio abandonou a Prefeitura dez dias antes de
completar o mandato, viajando para Londres. E os últimos dias de governo foram
administrados por seu Secretário de Negócios Jurídicos, Cláudio Lembo (ex-governador do Estado de São Paulo).
O objetivo deste artigo é demonstrar que a renúncia
de Jânio da Silva Quadros foi um ato pessoal e suas entrevistas e seus
bilhetinhos revelam o estigma e suas várias facetas na arte de renunciar.
O corumbaense Iturbides de Almeida Serra, colega de
faculdade, foi eleito vereador em São Paulo em 1947 e não foi empossado. Com
isso, o Jânio que tinha ficado na suplência assumiu o cargo. Com a cassação dos
mandatos dos parlamentares do Partido Comunista Brasileiro – por determinação geral do então presidente Eurico Gaspar Dutra –
ele assumiu uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo, exercendo o mandato
entre 1948 a 1951. Renunciando o cargo de Vereador, para assumir a
cadeira na Assembleia Legislativa.
Vereador:
Posse: 1º de janeiro de 1948, renunciando ao
mandato em 12 de março de 1951 (assumindo
a cadeira de deputado estadual).
Deputado Estadual:
Jânio, em 13 de março de 1951, assumiu a cadeira de
deputado estadual da Assembleia Legislativa do Estado, renunciando ao
mandato em 8 de abril de 1953.
Prefeito de São Paulo:
A posse de Jânio na Prefeitura da Capital paulista
se deu a 8 de abril de 1953 e inaugurou um novo estilo de governo. Renunciando
em 31 de março de 1955.
Mandato de Governador:
Mandato de Governador:
No dia 31 de janeiro de 1955, às 8 horas da manhã,
o prefeito Jânio Quadros entregou a sua renúncia à Prefeitura de São
Paulo, a fim de ser empossado no cargo de governador do Estado.
Quase Candidato à Presidência da Republica:
No dia 3 de abril de 1955, sábado, cerca das 21
horas, grande massa popular se aglomerava defronte à sede do governo estadual.
Jornalistas, fotógrafos, locutores aguardavam ansiosamente a decisão do
governador Jânio Quadros: seria ou não candidato à Presidência. Este era o dia
da decisão, pois o candidato deveria se desincompatibilizar do cargo para
concorrer ao pleito em 3 de outubro de 1955.
Todos se agitavam. Alguns apostavam que ele seria
candidato, outros não, pois estava a dois meses como governador e “cumpriria o mandato do primeiro ao último
dia”. Finalmente, após longa espera, Jânio recebe a imprensa para seu
pronunciamento, no qual deixou claro que, apesar de todas as garantias,
segurança e êxito que lhe trouxeram em relação à campanha para a Presidência,
ficava como governador do Estado de São Paulo, porque necessita promover a
recuperação administrativa, econômica, financeira e moral de nossa terra e
manteria fidelidade aos anseios paulistas. Permaneceria no ponto que o povo lhe
havia confiado. Passou a apoiar Juarez Távora, que entrou na luta. Saiu
derrotado da campanha, mas levou a melhor das impressões do governador Jânio
Quadros.
Quando Governador de São Paulo (1955), contrariado
com as críticas e com a oposição que vinha sofrendo na Assembleia Legislativa,
no cúmulo de sua irritação, chamou o seu secretário particular, Afrânio de
Oliveira, e lhe entregou uma mensagem para ser divulgada à noite, pelos
jornais, noticiando sua renúncia. De posse da mensagem, Afrânio de Oliveira
reteve-a em seu poder, não dando ciência a ninguém. No dia seguinte,
estranhando a falta de repercussão da notícia, indaga o Governador do seu
Auxiliar onde se encontrava a mensagem: -"Comigo,
no bolso."- "Rasgue-a”? Disse Jânio. Estava superada a crise da "renúncia".
Tentativa de deposição de Jânio Quadros do Governo do
Estado de São Paulo
O general Olímpio Falconiére da Cunha tentou depor
Jânio no governo do Estado de São Paulo no dia 11 de novembro e outras vezes
depois disso. Nessa ocasião, outra pessoa que queria a deposição de Jânio era o
senador Auro de Moura Andrade, que chegou a telefonar duas vezes a Nereu Ramos
pedindo a intervenção em São Paulo. Falconiére foi contido por vários oficiais
superiores, coronéis e generais. Entre eles, houve uma palavra decisiva, a do
general Stênio Caio de Albuquerque Lima. Auro e outros políticos paulistas,
especialmente os que seguiam Adhemar de Barros, foram contidos pelo próprio
Nereu, que achou muito perigoso o passo que queriam dar. Nereu e o general
Henrique Teixeira Lott procuraram dar ao seu golpe de Estado toda a aparência
de ação em defesa da legalidade - de "revolução
preventiva", como disse a revista americana Time. A deposição de Jânio caracterizaria ainda mais a ilegalidade
do pronunciamento militar. Todos os governadores estaduais, especialmente o
general Cordeiro de Farias, de Pernambuco, que controlava, realmente, forte
guarnição do Exército, poriam suas barbas de molho. Poder-se-ia até formar uma
frente de governadores contra o golpe de 11 de novembro. Além disso, depor
Jânio era reacender o espírito revolucionário de São Paulo, que vinha sendo
estimulado, há muito tempo, pelas forças de oposição ao sistema político de
Getúlio Vargas, que é aquele em que formavam Lott, João Goulart e Juscelino
Kubitschek e Nereu Ramos. Jânio tinha grande prestígio no seio da classe
trabalhadora paulista. Sua administração não merecia críticas tudo isso foi
pesado por Nereu e Lott, que ficaram satisfeitos quando souberam que o general
Stênio e outros haviam segurado a mão de Falconiére. O senador Auro ficou muito
decepcionado, como também os ademaristas.
Mais tarde reaproximou-se de Jânio, seguindo-o por toda parte. Naquela época,
todos os telefones estavam censurados no Rio e em São Paulo, ou seja, os
telefones dos políticos mais importantes (Auro
foi censurado por um deles). No Rio, foi Lott quem ordenou a censura
telefônica. Em São Paulo, num ato de legítima defesa, em tempo de guerra foi
Jânio. Jânio não se esqueceu, quando Auro andava ao seu lado, das gravações que
ouviu das conversas do senador que pediu a intervenção. Falconiére foi um
general que não teve compensação com o golpe de 11 de novembro. Juscelino lhe
prometeu o posto de ministro da Guerra. Falconiére chegou, nas manobras da
região, em Mato Grosso, a convidar oficiais para o seu gabinete de ministro. O
brigadeiro Eduardo Gomes, amigo desde a juventude do general Falconiére, dizia
que este não cometeu uma traição no dia 11 de novembro. Falconiére, segundo
Eduardo Gomes, tomou uma atitude, como general, de oposição ao grupo de
coronéis. Os brios de Falconiére sentiram-se ofendidos com a destituição de
Lott. Quem conhecia o brigadeiro Eduardo Gomes sabia que ele era como a ave do
poema de Jorge Lima, "antropomorfo
como um anjo e solitário como qualquer poeta", não via um propósito
manhoso nessa avaliação que ele fazia dos motivos que levaram Falconiére a
enganá-los. O brigadeiro acreditava nisso. Não foram motivos puramente táticos,
de político esperto, que o levaram a reaproximar-se de Falconiére que, quando
tenente, recebia de D. Geni Gomes os mesmos cuidados que o filho Eduardo.
Falconiére, porém, aproximou-se demasiadamente dos elementos ademaristas ou,
pelo menos, antijanistas, de São Paulo. Perdeu as esperanças de chegar a
ministro da guerra, a não ser que o governo de Kubitschek, miraculosamente, se
tornasse forte a ponto de afastar Lott e impedir que as forças do 24 de agosto
tentassem chegar ao poder, desmanchando, assim, as duas concentrações militares
que o alarmassem. Nesse sentido, teria trabalhado, mantendo os seus contatos
com o general Nelson de Melo. Se Lott fosse derrubado por Kubitschek, ele seria
o substituto indicado. Por isso, reaproximou-se de Eduardo Gomes, visando, em
logo prazo, obter um apoio semelhante ao que gozava o brigadeiro Henrique
Fleiuss, ministro da Aeronáutica e um dos sustentáculos de Kubitschek.
Falconiére, no entanto, achava que Lott levaria a melhor. Um dos seus objetivos
era ficar bem com Lott. Tanto que não
fugiu nem mugiu quando soube que este continuaria ministro da Guerra, com a
posse de Kubitschek. Dizia a vários amigos que estava desgostoso, mas não
passou disso. Quando Nelson de Melo fez a manobra para retirar Lott do
Ministério, andou pelo Rio, falou um pouco grosso, mas recuou assim que viu que
o Grupo de Novembro continuava forte. Em fins de abril e princípios de maio,
houve muita inquietação no país. A esquadra, pela segunda vez naquele ano,
havia deixado o Rio, indo até o Rio Grande do Sul. Dizia-se que ela se
sublevaria no Sul do país. Talvez fosse o próprio general Lott quem mandasse
espalhar essa versão porque, nessa ocasião, o ministro da Guerra entrou numa
fase intensa de articulação para um novo golpe. Fez consultas aos generais que
o haviam apoiado no dia 11 e os seus homens de confiança tiveram várias
conferências com políticos e militares ligados ao Grupo de Novembro. Em São
Paulo, houve também agitação de bastidores. Foi nessa ocasião que Falconiére
fez sentir aos elementos que se opunham a Jânio que não haveria resistência
militar no caso de ser tentada a deposição do governo paulista. Falconiére
estava disposto a obter a sua compensação - a interventoria em São Paulo. Mas
nem a esquerda se sublevou nem Lott deu o golpe. O ministro da Guerra, sentindo
que haveria uma oposição armada séria ao seu novo pronunciamento militar,
esperou e ganhou com isso. Em junho, a luta dos estudantes contra o aumento das
passagens de bondes lhe permitiu intervir, passando por cima de Kubitschek, e
ele reforçou a sua posição no seio do governo. No mês de agosto, à medida que
Kubitschek enfraquecia, a crise financeira chegara ao auge e Lott se preparava
para intervir. Preparou o Jornal do Exército, distribuiu boletins acusando o
general Juarez Távora e o brigadeiro Eduardo Gomes de tramar o seu assassinato,
deu mão forte à chamada Frente de Novembro, movimento golpista formado por "pelegos" sindicais,
comunistas e militares, reforçou a sua aliança com o Sr. João Goulart e,
finalmente, mandou oferecer a Adhemar de Barros o governo de São Paulo, em
troca de seu apoio. Falconiére viu enfraquecer as suas esperanças de conseguir
o governo de São Paulo ou o ministério da Guerra. Ficou à espera de melhorias
para o seu lado. Não foi fácil deixar de tomar partido e ter amigos em três
campos diferentes.
Em 1954 foi publicado o memorial dos Coronéis,
que demonstrava as precariedades do Exército; mas na verdade a finalidade era
atingir João Goulart (que como ministro
do Trabalho aumentara o salário mínimo em 100%). O Memorial pretendia
incentivar os generais para uma ação anti-Vargas. Mas com a morte de Rubens
Vaz, protetor de Carlos Lacerda, as agitações se intensificaram e alguns
generais pediam a renuncia de Vargas.
Em 10 de maio, todavia, Getúlio anunciou, em
discurso inflamado, o novo salário mínimo, nos termos propostos pelo
ex-ministro João Goulart. A partir daí, a oposição civil e militar retomou o
movimento conspiratório que desembocaria na crise de agosto e no suicídio do
presidente Getúlio Vargas.
O nome de Juscelino era complicado de pronunciar,
custo a se adaptar à fonética eleitoral. A estranheza da campanha era que
justamente o candidato que trazia mais empuxo de vitória fora considerado o "herdeiro do mar de lama"
que causara o suicídio de Getúlio Vargas. A grande sombra do suicida pairou
durante os meses de campanha. Chegou a ir além da própria campanha, pois,
Juscelino, eleito, teve a vitória contestada e seriam necessárias duas mini
revoluções, ou melhor, dois golpes militares para que a vontade das urnas fosse
reconhecida.
Nunca houve candidato presidencial tão sem chances
com JK. As feridas provocadas pela crise de agosto de 1954 (morte de Vargas) estavam acesas. No
poder haviam se instalado os conspiradores de agosto, a começar pelo presidente
Café Filho, um vice que, no acesso da crise, deu o puxão final no tapete de
Vargas, colocando-o à mercê dos sicários que desejavam apunhalá-lo politicamente.
O chefe de sua Casa Militar, general Juarez Távora, era outro conspirador de
primeira e última hora, bajulado pela UDN e dela bajulador: por sinal, ele
acabaria como candidato da UDN para a sucessão de Café tornando-se o principal
adversário de JK. Este vinha sofrendo o diabo para retirar sua candidatura em
nome de dita união, que afinal se resumia em manter a UDN no poder através da
nomeação de Juarez Távora para o cargo de Presidente da República.
Volta e meia, surgia um manifesto de generais, exigindo
a tal união nacional. Valia tudo para afastar a candidatura de JK, na verdade,
valia tudo para que não houvesse eleição. Felizmente para o Brasil, o candidato
JK ia em frente. Ele havia dito aos generais que o pressionavam, na presença de
Café Filho: "Deus poupou-me do
sentimento do medo".
A campanha de Juscelino acabou em Belo Horizonte,
ao som do Peixe Vivo, que não pode viver fora da água fria. Eleito e diplomado
ele pensou que a campanha havia terminado. Enfrentou, no entanto, em novembro
dois golpes sucessivos para impedir sua posse.
Os integrantes do Memorial dos Coronéis impediam a
posse de Juscelino Kubistchek de Oliveira. Os estrategistas: coronéis Ernesto
Geisel e Golbery do Couto e Silva.
Deputado Federal:
Deixou o governo paulista em 31 de janeiro para
assumir a cadeira de deputado pelo Paraná, que conquistara em 3 de outubro do
ano anterior, com o recorde estadual de 78.810 votos. Renunciando em
31 de janeiro de 1961, para assumir a Presidência da República.
Jânio X UDN
Jânio: candidato a candidato à presidência pela UDN renúncia por
duas vezes:
1ª Renúncia:
Durante a entrevista, por várias vezes, um dos
secretários do ex-Governador aparecia para chamá-lo ao telefone. Ele sempre se
negava, avisando que o procurassem no Comitê Estadual, instalado na Rua
Consolação. Em seguida, era D. Eloá quem o chamava. Jânio Quadros demonstrava
contrariedade e respondia:
“- A essa pergunta, costumo responder que já
declarei várias vezes, que não preciso necessariamente ser candidato à
Presidência. Sinto-me aos 42 anos, satisfeito comigo mesmo e não nego que a
atividade política hoje me irrita e cansa, porque ela é a arte da permanente
transigência. Quando renunciei, tinha o firme propósito de voltar a vida
privada, isto é, à advocacia, ao magistério, à família...”
Renúncia & Província - (2ª renúncia) -
Esta foi a segunda renúncia de Jânio Quadros. A
primeira esteve para consumar-se numa tarde de 1960. Em seu quarto de hotel,
recebe a visita do senador Afonso Arinos, logo após ter dado violenta resposta
à proclamação pacifista do Marechal Lott. O senador fora justamente para
aconselhar-lhe mais prudência nesses pronunciamentos, a fim de não tornar
irremediável a sua situação político-militar. O candidato levanta-se de
supetão, apanha uma folha de papel, assina seu nome embaixo e entrega-a a
Afonso Arinos, para que redija ali, como bem quisesse os termos de sua
retirada. Depois, vira-se para Francisco Quintanilha Ribeiro e diz:
- Chico, vamos arrumar as malas e ir embora. Somos
da província e não sabemos fazer política federal.
E esta ele a consuma numa carta enviada a Magalhães
Pinto, renunciando à candidatura. Quando José Aparecido percebe que ele não
estava passando a limpo o documento rascunhado poucos minutos antes, e sim
redigindo outro, pergunta-lhe se havia resolvido mudar a direção da carta:
- A direção e o conteúdo. Resolvi renunciar.
Entregou-a a Quintanilha Ribeiro, dando-lhe um
prazo para divulgá-la. Pega o telefone, liga para D. Eloá e comunica-lhe que
está liberto.
Instantes depois, o candidato passa pelos líderes
udenistas, cumprimenta dois deles, agradece-lhes o prazer de tê-los conhecido,
desce as escadas e entra sozinho, no seu automóvel amassado. Eram 20 horas e 50
minutos.
Os passos da renúncia de Jânio Quadros: 1961
3 de outubro de 1960 - Jânio é eleito presidente
31 de janeiro de 1961 - Toma posse
15 de março - Envia ao Congresso projeto de
nova lei antitruste
7 de julho - Manda ao Congresso projeto de lei
sobre remessa de lucros ao exterior.
Sobre rumores de crise ministerial, em face de
demissão do ministro Clemente Mariani, da Fazenda, Jânio Quadros dirigiu um
bilhete ao seu secretário particular José Aparecido de Oliveira:
"Aparecido:
Leio num jornal que o Ministério está em crise... Veja se localiza para mim. Leio, também, que recebi da Fazenda, um bilhete
enérgico. Desminta.”
“O Ministro
é educado bastante, para não o escrever ao Presidente.E o Presidente não é educado bastante, para
recebê-lo....
Assinado – Jânio Quadros
09.08.1961"
Uma onda de descontentamento varreu o país e Jânio
Quadros começou a descarregar sua fúria sobre o ministro da Fazenda, Clemente
Mariani que, como sabemos, tinha relações de parentesco com o jornalista e dono
de jornal Carlos Lacerda. Aliás, era o próprio genro do ministro, o jovem
Sérgio Lacerda (casado com a filha de
Clementi Mariani, de nome Maria Clara) que estava dirigindo a Tribuna de
Imprensa e lhe regulava o tom dos ataques. Essa mudança na direção do jornal se
deu porque Carlos Lacerda, eleito governador no novo Estado da Guanabara, teve
de se afastar do cargo.
José Dutra Ferreira , mordomo em Brasília (testemunha ocular e auditiva) ouviu o
anúncio que Jânio Quadros fez à sua mãe, no palácio da Alvorada, em plena mesa
de almoço, que iria renunciar à presidência da República, em 10 de agosto
de 1961.
A revista "Mundo
Ilustrado" em seu número de 12 de agosto de 1961, treze dias
antes da renúncia, publicava a reportagem: "Renúncia,
arma secreta de Jânio".
Em 19 de agosto, condecorou Ernesto Che
Guevara, então ministro da Economia de cuba, com a Ordem Nacional do Cruzeiro
do Sul, provocando protestos dos militares e da UDN.
O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln
Gordon, através da CIA (Central Inteligence American) e de
seu Presidente norte-Americano John Kennedy, estavam interessados
que o "regime" de Jânio
Quadros tivesse êxito no Brasil. A proposta pelo embaixador americano era o de
fechar o Congresso Nacional, porque havia um perigo de uma ditadura comunista
no Brasil.
No Rio de Janeiro e em São Paulo a repercussão foi
forte com as massas nas ruas, bandeiras cubanas e retratos de Che
Guevara. O escândalo estourou como na Argentina, e Arturo Frondizi, uma
semana depois abandonou o governo sob as ameaças da direita.
Frondizi recebeu tamanha quantidade de ataques que
antes de completar sete meses, foi também derrubado. Já, Kennedy, a
quem coube o papel equívoco de invasor armado e reabilitador diplomático, foi
assassinado dois anos depois, numa confabulação obscura onde as relações com
Cuba foram fator de sua transcendência.
Guevara foi convidado verbalmente a visitar o
Brasil, o presidente Jânio Quadros, pelo chefe da delegação e ministro da
Economia Clemente Mariani (consogro de
Lacerda) No dia 19.8.61, o presidente Jânio Quadros condecorou Guevara com
a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, numa cerimônia improvisada no Palácio do
Planalto. Ele ignorava que iria receber uma condecoração, mas também o caráter
oficial do encontro. Ele não tinha como retribuir a condecoração, como é usual,
e o discurso de Jânio foram breve.
Preferiu Guevara retribuir com discurso breve,
aceitando a distinção como entregue ao governo revolucionário e ao povo cubano,
sem significado pessoal. Em 19 de agosto, Che Guevara é recebido por Jânio
Quadros em Brasília, o qual aproveita a ocasião para atender um pedido do
núncio apostólico, monsenhor Lombardi e do Papa João XXIII, para interferir na
libertação de 20 padres espanhóis e do bispo de Havana, presos em Cuba. No caso
dos padres, Guevara concorda com a libertação, avisando, entretanto que, dentro
das regras cubanas, eles serão em seguida expulsos para a Espanha. Jânio
manifesta sua opinião de que a expulsão é um assunto interno de Cuba, que só a
ela cabe resolver. O Brasil defende a libertação e com esse ato considera o
pedido satisfeito.
Na vida de Ernesto Che Guevara, a
inteligência e a violência se alternaram o tempo todo.
O ano de 1963 apresentou-se agitado em toda América
Latina. No Brasil crescia a organização das ligas camponesas, sob a tolerância
do presidente João Goulart, um nacionalista que se apoiava cada dia mais nos
esquerdistas dos sindicatos e nos intelectuais.
Resumindo, onde quer que Che Guevara pousasse,
aconteciam calamidades com consequências desastrosas, aqui no Brasil, foi
condecorado por Jânio Quadros e cinco dias depois, a renuncia.
Em represália, o governador do então Estado da
Guanabara, Carlos Lacerda (UDN),
homenageou no dia seguinte o líder anticastrista Antônio Verona, com a “chave” do Rio. No dia 23 de agosto,
Lacerda foi chamado para uma conversa amistosa em Brasília, mas a viagem só
serviu para piorar tudo.
20 de agosto prova cabal de que a renúncia não
foi um gesto individual de um Presidente destemperado: a carta em que a decisão
seria tornada pública estava desde 20 de agosto em poder de Horta. Que "razões próprias" deve ter
tido o ministro da Justiça, Pedroso Horta para o açodamento da entrega do
documento da renúncia? Jânio Quadros tinha o estigma da renúncia. Oscar Pedroso
Horta (ministro da Justiça) não
entendeu Jânio Quadros, quando não rasgou ou pelo menos não retardou a entrega
do documento da renúncia. A renúncia de Jânio Quadros foi uma espécie de
chantagem com o Congresso, com os militares e com as forças políticas com quem
ele estava em choque.
Ele mostrou a um grupo de conspiradores que se
reuniu na casa de um industrial em Bertioga (SP). Entre os participantes do
encontro estava o Presidente do Senado, Auro de Moura Andrade (PSD-SP), e o
ministro da Guerra, Odílio Denys.
24 de agosto. Carlos Lacerda, governador da
Guanabara, faz violento ataque ao governo federal em discurso na TV. A denúncia
deflagrou uma grave crise política no País, porque o vice João Goulart, que foi
ministro do Trabalho de Getúlio Vargas e havia sido eleito pelas esquerdas,
encontrava forte resistência entre os militares.
25 de agosto. Jânio renuncia:
A bagagem de Jânio Quadros já estava pronta desde a
véspera da renúncia, antes de saber da denúncia de Carlos Lacerda. Jânio
Quadros, ao participar dos festejos de 25 de agosto, Dia do Soldado, em
Brasília, estava com uma fisionomia alegre, na manhã do dia da renúncia. É
semblante de quem antegozava uma grande travessura.
No dia 30, os militares lançaram um manifesto
alertando para os riscos que a posse de Jango traria, aumentando o clima de
tensão. Diante do impasse, que ameaçava se transformar numa guerra civil, a
saída encontrada pelo Congresso foi reformar a Constituição, alterando o regime
político para parlamentarista. Jango finalmente assumiu e, depois de alguns
meses, restabeleceu o presidencialismo através de plebiscito. Mas não conseguiu
levar o seu mandato até o fim.
Golbery foi o redator do "Memorial dos Coronéis" - fevereiro de 1954 - e do "Manifesto
dos Generais" - agosto de 1954-
, documentos que precipitaram a crise política que culminou no suicídio de
Getúlio Vargas. Em outubro de 1954; renúncia de Jânio da Silva Quadros, em 1961
e a deposição de João Goulart, em 1964. E o golpe militar de 1964. O golpe de
estado acabaria acontecendo três meses mais tarde, só que encabeçado pelos
próprios militares. O golpe militar era um processo que estava em marcha desde
1954. Daí as “forças terríveis”, além
dos Estados Unidos e do senhor Carlos Lacerda.
Jânio Quadros, ao renunciar sepultou as esperanças
do senhor Carlos Lacerda, ser Presidente da República. Um dia da caça, outro do
caçador. Carlos Lacerda saltou e esqueceu-se de colocar a rede.
Os militares, “Memorial
dos Coronéis”, através de seu articulador, Golbery do Couto e Silva e de
seus signatários, demoraram, exatamente 10 anos
- 28 de fevereiro de 1954 a 31 de março de 1964 - para colocar em prática a “revolução preventiva” que durariam 21 anos.
Das pesquisas e Biografia
De Nelson Valente
Professor universitário,
Jornalista e Escritor
Exclusivo para a Sala de
Protheus
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