Histórias
da Vida Real:
A Descoberta de Lorena!
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1ª Parte -
“A flor respondeu – Bobo”! Acha que abro minhas
pétalas para que vejam? Não faço isso para os
outros, é para mim mesma, porque gosto. Minha
alegria consiste em ser e desabrochar...!”
Se fosse um diagnóstico, ela seria maníaca depressiva, com uma linha tênue
entre a obsessão e compulsividade. Apenas separada por momentos, buscados, de
euforia. Como não sou terapeuta, apenas copio
sintomas, que possam ser diagnosticados, por profissionais.
Assim, os finais de semana, ou
algumas noites de Lorena, são “destinados”
á festas. Ou seja, sair com “amigos”
– todos discutíveis no tocante a amizade
por ela – com um homem com que, geralmente sai, e entrega-se por completo,
mesmo sem saber o porquê está fazendo. E para dormir necessita de Remédios (soníferos).
Mas quem é Lorena? O que a deixa
apenas “passar” por esta vida e não
viver, tendo apenas 29 anos? O que lhe marcou tanto?
Lorena vem de uma família média,
tanto financeira quanto estruturalmente. Não foi originada em grande
aculturamento. E seu estudo adquirido é médio. Uma faculdade não concluída. Um
emprego de sobrevivência em um shopping. Mora com duas amigas em uma cidade
distante de sua família. Tem contato com a família. Diz amar a família. Não ter
problemas. Mas aqui começam todos os problemas.
A admissão de culpa faz menor a pena. As palavras do pensador, não
são inteligíveis para um depressivo. Em muitos casos para os ditos “normais”. Neste caso, específico, extrapola.
Lorena é uma jovem mulher, muito
bonita. Para os padrões normais. Olhos grandes, amendoados. Um sorriso
gigantesco o que lhe aumenta ainda mais a beleza física. Maças do rosto bem
delineadas.
Cabelos entre longos e médios castanhos
claros. Pele clara. Enfim, a definição de uma mulher bonita. Mas o que chama
realmente a atenção é seu olhar, que mais parece uma tela plasmada de cinquenta polegadas, e seu sorriso que resplandece
qualquer alma triste.
Mas o que faz uma mulher tão bela,
sorridente, ser deprimida.
Primeiramente esta no olhar. Os
grandes e perfeitos olhos, tem uma espécie de “nevoa”, uma “cortina” bem
suave, que esconde majestosamente o principal de Lorena. Sua beleza e
luminosidade interior. Mas porque esconde?
Lorena sabe, mas tranca em seu “quartinho dos fundos”. Com trancas,
cadeados, e um monte de entulhos, do tipo, “para
ninguém encontrar a entrada”. Nem ela mesma.
Lorena teve um amor. Desde jovem,
adolescente. Daqueles amores que as famílias do interior, classificam: Foram feitos um para o outro. Foram feitos
para casar.
Esta mensagem, colocada, em forma
de transferências de longo prazo,
utilizando a psicanálise, acabam se firmando na mente e se tornando verdades.
Assim Lorena entregou-se
completamente ao seu amado. De corpo inteiro. Alma mente e coração.
O “romance” durou o tempo determinado que o dito “macho”, tinha discernimento para isso. Depois de alguns anos o
grande amor de Lorena, simplesmente, termina.
O dela? Não. O dele. Ele parte
para suas aventuras e seu destino.
Lorena fica com o que julgava ser
o amor de sua vida. Sozinha. E daqui para o solitário, é apenas um pequeno
trecho. O não entendimento, a não compreensão do que lhe aconteceu transcende
sua racionalidade, e entrega-se as emoções.
O choro torna-se constante. As
tristezas são alimentadas quase que como rotina, como forma de autoflagelo. E a
piedade e si mesma transforma-se no grande ato masoquista. Ou seja, quanto mais
sofrer mais tenta “visualizar” o
amor, lotado ainda em seu coração, mas distante. Entre esta “concepção” de ter sido amada, e ainda,
amar muitíssimo, encontra-se o não entendimento do que realmente esta
acontecendo. As amigas tentam consolá-la, a família, julgando que isso é normal
e acontece, “tenta” consolar a filha.
Mas, mais preocupada com a idade
da filha e seu não casamento, e um “ficar
pra titia”, dentre as tantas hipocrisias que os grupos sociais ainda mantêm,
mesmo que primitivos, que no fundo esquecem-se do ser Lorena. Assim a depressão
é o destino mais certo de Lorena. Ela vem em profundidade. Lorena
acaba concordando em procurar ajuda. “Cai”
em um psiquiatra que somente se preocupa em “recuperar”
seus químicos cerebrais e a “lota” de
“remédios”.
Em principio, e na falta de um
aculturamento, tanto do terapeuta quanto da paciente, lá vai Lorena, tomar
todos os “remedinhos” que o doutor
mandou.
Assim, Lorena, cria uma máscara,
entre os “químicos” que lhe amortecem
os pensamentos tristes. E consegue “melhoras”
mesmo que momentâneas.
Mas como não tem discernimento do
que esta acontecendo realmente, afinal espera que estes “remedinhos” resolvam seu “desamor”.
Quem sabe até consigam trazer de volta seu amado? Que se entrega aos dias.
Todos eles.
O tempo passa. E depressa. Logo
Lorena, encontra um trabalho, conhece novas pessoas. Vai morar com amigas.
Tudo parece estar melhorando.
Lorena esta conquistando sua independência. Começam festas nos finais de
semana. Algumas bebedeiras, sem exageros. Acaba adquirindo o gosto pela bebida.
Não consulta mais o terapeuta.
Afinal alguns “remedinhos para dormir” conseguem-se sem receita. Eles ajudam a
dormir.
Assim, se um dia não se esta bem se
aumenta as doses, geralmente, líquidos, psicologicamente fazem efeitos mais
rápidos.
Nos finais de semana, depois de
algumas bebidinhas, de euforia, precisa aumentar a dose, mas tudo bem.
Assim não fica longe da “alegria” – disfarçada de euforia, uma
espécie de fuga de si mesma.
Um dia conhece um homem.
Entrega-se completamente e mantém um relacionamento, de certa forma, duradouro.
Ao menos na visão dela.
O “namorado” é de outra cidade próxima. Vem quando quer. Quando
necessita de sexo. Leva-a para festas. Fica com ela, no dia seguinte, consumado
o ato... Fica um até logo. E até a próxima semana. Lorena julgando-se amada.
Aceita toda a situação. O “namorado” foge
dos padrões do que se poderia chamar de alguém à altura de estar com alguém do
tipo de Lorena. Mas Ela ainda não consegue discernir sobre isso. É um ser
simples. Inculto, sem nenhum estudo, no
máximo o ginasial o que lhe permitiu um emprego comum. De sobrevivência. E age
como tal.
Um ser que poderíamos chamar de
comum dos comuns. Cafajeste por
principio mantêm Lorena em uma cidade e outra em outra cidade. Considera-se
superior por conseguir fazer isso. Tudo o que leva a Lorena é sexo pelo sexo.
Automático, mecânico. Pela descrição de Lorena, que quase nunca chega ao
orgasmo, ou não se lembra de tal, pela bebida ou excesso de “remedinhos”, não existe um amor
profundo. Não existe a dita “química”
de uma relação de substância entre duas pessoas.
Mas porque Lorena permite isso. Aqui
está uma das partes preferidas da Psicanálise, a Transferência.
Sim, como não conseguiu lidar com
seu “passado”, Lorena simplesmente
transferiu para o primeiro que apareceu, o que julgava ser de seu antigo amor.
Assim, de certa forma, é como se
Lorena ainda mantivesse o que somente está em seu “quartinho dos fundos”.
Sai para as festas, com seu “namorado”, assim pode se igualar a todas
as suas amigas, e ser uma “normal”.
A
mentira para si mesma é o primeiro dos diagnósticos encontrados nos
depressivos. Tão normal nos humanos,
tentem imaginar em um depressivo. Torna-se verdade. A mais verdadeira possível.
A busca de máscaras que escondam real e profundamente o que esta em seu intimo,
por algo que se mostra para todos. Assim estes “todos”, dentre quais até os amigos ditos mais “chegados”, lhe proporcionam a certeza de que “aquilo” não é mentira, e sim a sua vida.
Não consegue discernir mais entre
os demais homens que a admiram, esta diferençação. E simplesmente os considera
como “iguais” ao que ela “julga ter”.
Este processo todo de
mascaramento de nossos sentimentos, ou de como lidar com nossos problemas esta
enraizado em nossa educação.
Desde a familiar, escolar até a
acadêmica. Juntada as nossas relações, de amizade, que tem as mesmas origens, transformamos
tudo em um caldeirão, incandescente, que apenas “ferve”, e poderá logo estar pronto para
ser “servido”, porem sem “gosto”.
Continua...
As palavras e a comunicação na terapia.
Estudo de caso, baseado em informações
de terapias.
Base de discussão Os Desafios da
Terapia.
A partir da Obra de Irvin Yalon.
Os nomes foram alterados para preservar
a privacidade.
O caso foi transformado em crônica,
discutida, para facilitar discussões.
Bibliografia pesquisada, além do caso
apresentado.
Os Desafios das Terapias e suas
reflexões sobre pacientes e terapeutas.
Irvin
D. Yalon, Ediouro – Titulo original - The gift of therapy – 2002.
Pesquisa, Elaboração, apresentação e discussão.
Jornalista e Prof. de Comunicação.
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