quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dos Pensamentos de
Antônio Figueiredo
para a Sala de Protheus:

 
O Bicho Político!

“... O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele...!”

Friedrich Nietzsche

                                             Uma das vantagens de ser um “bicho político” assumido e militante por mais de 60 anos é a capacidade de fazer o perfeito reconhecimento dos semelhantes da espécie. Aliás, ser um bicho político não é mérito e nem demérito a quem quer que seja, visto que todos o somos desde o berço. Com certeza, uma trinca de bebes gêmea aprende a negociar seu espaço e tempo de utilização dos seios maternos muito cedo, pois disso depende sua sobrevivência. Por isso, já são “mascotes políticos”.
                                             A grande questão que se manifesta nos dias atuais, é a renúncia da coletividade em exercer este papel no que se refere à política cidadã. No tocante às demais questões pessoais o que se presencia é um recrudescimento das formas mais violentas de discutir direitos. Estão ai as estatísticas de crimes contra as pessoas a indicar, que nos dias de hoje se usa muita pólvora e pouca saliva para a solução de diferenças.
                                             O que não é difícil de entender são os porquês de crescentemente a maioria das pessoas “marcar seus territórios” em filas de banco, caixas de supermercados, mesas de restaurantes, vagas de estacionamento, estádios de futebol, prisões, casas de albergados, escolas de 1º e 2º graus, favelas e por aí vai. Só não temos ainda notícias de isso ocorrer em creches.
                                              Mas nem é preciso ir checar, pois é só ver como se relacionam pais e “pimpolhos” nos corredores de shoppings e presenciar os pontapés nas canelas, tapas na cara e “arremessos ao solo”, para constatar como os pequenos “negociam” suas vontades. Falta persistência no diálogo e um mínimo de hierarquia entre os maiores e os menores. Fazer vontades ainda é a saída mais fácil e cômoda.
                                               A conclusão de que a raça humana está crescentemente violenta é inequívoca e assim o demonstram os fatos ocorrendo em muitos países do mundo, inclusive de forte cunho político. Mas no Brasil, com exceção do surto ocorrido nos meses de maio a julho de 2013, tudo permanece na mais absoluta calma e omissão e olha que estamos nas vésperas das eleições mais polarizadas e de definição incerta dos últimos 25 anos.
 
                                                Começou no rádio e na TV a Propaganda Eleitoral Obrigatória, que acho um desperdício do “dinheiro público”, ou seja, “o nosso”. Fala-se tão mal dos Governos Militares, mas os “democratas modernos” nunca condenaram essa “suculenta teta”, que somada ao Fundo Partidário é uma das maiores sesmarias de todos os tempos. Os candidatos ao Executivo têm tempo para falar de “seus planos de salvação”, mas os candidatos ao Legislativo mal têm tempo de dizerem seu número e Partido. E chamam isso de Transparência Política.
                                              Os candidatos aos cargos proporcionais não nos dizem, qual sua origem, o que fazem, o que pretendem, que ideologia tem e a quem pretendem representar. Suas grandes credenciais é serem da “turma do atraso”, ou da “turma do Lula”, “marineiros da Marina”, (para citar os três candidatos mais bem postados nas pesquisas), como se isso bastasse como referencial decisório para a escolha de quem tem a “grave responsabilidade” de legislar sobre nossos direitos e deveres constitucionais e ainda por cima “fiscalizar” o Executivo.
                                           Já os programas dos candidatos majoritários com suas músicas triunfalistas e seus bordões populistas/ufanistas mostram duas realidades para um mesmo Brasil. O Brasil da “situação” estadual e federal é uma Escandinávia e o Brasil da “oposição” é uma Serra Leoa. Os fracassos passados de parte a parte não são explicados, mas a “esperança de dias melhores” vem embalado em papel colorido e laços de fita.
                                           Falam exclusivamente das realizações passadas, esquecendo-se que era um compromisso de campanha assumido e uma obrigação e para isso foram eleitos e principalmente, “saldando dívidas muito antigas”. Quando somos contratados para execução de uma tarefa, temos uma remuneração acordada e ao executá-la estamos simplesmente “cumprindo um contrato”. O mesmo serve para os políticos.
                                        Todos falam em “mudança”, que são evidentemente necessárias, mas ninguém mostra seu cacife para a efetiva implantação do processo. Não vejo claros compromissos de redução percentual do número de mortos por assassinatos, dos mortos por acidentes nas estradas e nas esperas nos hospitais. O Brasil é muito perdulário com a vida dos seus cidadãos.
                                       Não vejo, tampouco, a proposição de políticas objetivas que controlem e impeçam que o crime organizado continue a ser comandado a partir dos presídios de segurança máxima. Essas são práticas públicas mínimas, que não demandam um planejamento estratégico elaborado, mas tão somente a aplicação rigorosa da lei, através da ação.
                                      Não vejo a formalização de propostas que visam a reocupação das periferias com a presença efetiva do Estado, aumentando a segurança pública e principalmente a de alunos e professores contra o poder do tráfico. Tampouco, ouço qualquer candidato falando do fim da propaganda oficial, meramente de culto à personalidade e que vende uma falsa imagem da realidade, além de consumir recursos substanciais à implementação de programas mais emergentes.
                                      O que os novos Presidente e Governadores devem oferecer à população, neste exato momento, é a tranquilidade em ir e vir e uma sensação estável de segurança relativamente a se deslocar para o trabalho e à volta para casa e a de seus filhos à escola e baladas nos finais de semana. Nenhum bem é mais precioso do que a vida.
                                       No campo econômico nada é mais urgente, que o equacionamento dos gastos públicos e o serviço da dívida, (pagamento dos juros correspondentes), que vem crescentemente sufocando o Tesouro Nacional e impedindo mais investimentos sociais e de infraestrutura. Isso é para o “operário” a garantia e a estabilidade do emprego e isso para a periferia é o segundo bem mais precioso. A sua capacidade de manter sua família.
                                    O desenvolvimento pelas vocações regionais deve caminhar em paralelo às “políticas assistencialistas” não permanentes para cada indivíduo em particular. Por sua essencialidade não podem ser rotuladas proprietárias e nem consideradas como um “favor”. A Bolsa Família deve ser uma política transitória e “porta de entrada” para a participação econômica das populações mais carentes, pois nada substitui a efetiva inclusão social através do emprego, educação e saúde, além de ser um “esforço da cidadania”, que o financia com seus impostos.
                                   Nenhum crescimento econômico é sólido sem “paz social” e principalmente, sem a harmonia dos interesses das diferentes classes sociais, efetivamente produtoras da riqueza nacional. Empresários, classe média, classe trabalhadora são elos de uma mesma corrente sinérgica. O trabalho é uma tarefa cooperativa e a inseminação de desconfiança entre os elos dessa cadeia só vulnerabiliza a sociedade como um todo.
                                  Em suma, muito mais que “mudar” o slogan destes tempos deveria ser “unir”. Dialogar. Distender. Aproximar. Ou somos competentes para fazer isso e efetivamente construir uma Nação com cidadania plena e consciente, ou abandonemos de vez a tarefa e deixemos que a “as coisas caminhem com seus próprios pés”, o que segundo a Lei de Murphy fará com que as coisas “andem de mal a pior”.
                                   Para isso teremos que estar preparados para uma profunda “comoção social” e jogar com a perspectiva de que poderemos ser uma das vítimas desse processo. O que assistimos hoje nas periferias mais longínquas das metrópoles, de repente poderá estar acontecendo com a mesma frequência ali na próxima esquina de casa.
                                 Nas Minas Gerais existe um ditado, que diz: “depois que inventaram a pólvora e a vaselina, não existem mais homens valentes e nem furicos apertados”. E nos USA se diz, que “Deus criou todos os homens iguais e Samuel Colt os tornou diferentes”.
                                 Bem, mas esta é uma preocupação no “futuro distante”, se concluirmos que a “boca secou”, a “prudência mirrou” e a “inteligência viajou”... Brasileiramente, vamos deixar para a última hora.

 
 
                                   Das vivências, percepções e pesquisas de Antônio Figueiredo 
 De algum lugar entre a Bahia e São Paulo Economista, Escritor, Empresário, Militante Apartidário Parlamentarismo e Voto Distrital Puro.
Ex - Ativista Movimentos Sociais Católicos/ Metalúrgico/ Estudantil (1961/73). Operário da Cidadania



 

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