terça-feira, 9 de setembro de 2014


Histórias da Vida Real:

 

A Descoberta de Lorena!
- 2ª Parte – Conclusão -

 
                             (...) Ao perguntar a definição, para ela, de amor, Lorena, achou “mil portas” para sair. Disse tudo e nada. Seu coração esta lotado. Mas fechado. Não há definição. Há um simples, “tratar bem”, ser amoroso”, estar junto quando “se precisa”. Ponto. Sua definição de vida tem o mesmo trajeto. Trabalhar, conseguir uma posição melhor, um pouco de segurança. Ponto. E Segurança?
                            Aqui começam a destoar as “névoas” de seu olhar. Segurança, para Lorena, é ter um amor. Mas ela não tem? Evita-se este questionamento ainda. E o que é ter um amor?
As “névoas” de Lorena começam a desaparecer, lavadas por duas lágrimas, uma de cada um de seus lindos e grandes olhos.
E começa a aparecer um pouco do brilho que está escondido, guardado, magoado, ressentido. Ferido. Ainda muito ferido.
Amor...? Amor é... Soluços... Como posso confiar em ti?
                             A pergunta em forma de inicio de resposta procura alguém, que seja exatamente como ela, pura, que não queira ser usada. E neste caso o terapeuta, se não mostrar sua melhor empatia, nunca conseguirá.
Neste caso, a calma, as tranquilidades estavam submissas. Lorena até esqueceu onde estava com quem estava. E tudo saiu.
Amor é confiar em alguém... Amor é ter alguém... Amor é sentir-se muito amada... Amor é sentir-se importante para alguém... Amor é nos fazer ser importante...
Isso tudo saiu de Lorena. E foi interrompido por um choro, quase desesperador... Logo depois continua: Eu não tenho nem um amigo que possa confiar para abrir meu coração, que dirá para amar...
Tenho um namorado que só quer sexo... Que só fala em sexo e bebida... Que só elogia meu corpo... Que nunca chega ao meu coração... Que minhas palavras tem que ser o essencial para que ele sinta prazer...Assim eu me transformo em animal... O sexo tem palavras como “minha cadelinha”... “Adoro fazer você gemer”... Não é isso que eu quero para mim... Muito choro!

                               Isso é primitivismo, é troglodita, é retorno as cavernas... Não acredito que mulheres, nesta geração se submetam a isso. Ou algum homem deixe isso como resultado em uma mulher em nome do tal “amor”. Isso é crime contra o ser, contra a alma, contra a essência.
As lagrimas e o choro compulsivo toma conta de Lorena. Amor é isso?
São poucas palavras que conseguem escapar de Lorena. Aos poucos ela acalma, abranda seu tormento, ou terminam suas lagrimas...
Ela diz: Não quero mais falar sobre isso... Tenho minha vida... Sei como lidar com ela... E sai. Até aqui era para funcionar a terapia. Mas como auxiliei Lorena?
                             Primeiro fui indicado por uma amiga dela. Assim, de longe, sem olhos nos olhos, tudo “escondido” por uma tela de computador. Fui tratando-a como ser que tem muito amor. Para doar e receber. Ela foi esquecendo que estava falando com um homem, com um desconhecido. E fui me transformando em um “grilo-falante”, como se estivesse pousado em seu ombro. E fui descobrindo, entre as palavras, as frases, o que vinha do fundo de sua alma. E fui conhecendo-a tanto ou mais que ela mesma. E só descobrindo qualidades, imagens fantásticas de um ser puro, iluminadíssimo.
                                     A pergunta que fica. Para os terapeutas e para aqueles que se dizem “amigos”. Esta é toda nossa técnica? Esta é toda nossa amizade?
Perdão, o terapeuta não pode ter “amizade” não pode ter “relações” de qualquer tipo com o paciente, pois significaria transferência e obviamente o paciente poderia criar algum tipo de contratransferência.
Esta bem. Deve funcionar para a terapia tradicional. Não funcionou com Lorena. E para que serve então a terapia? Esta é toda nossa sensibilidade?
Não conseguimos ir, além disso? Se formos terapeutas precisaremos de um ano de encontros e terapias? E quem disse que Lorena tem capacidade para aguentar um ano. E os amigos? Somente para as festas?
                                    Ninguém tem sensibilidade e cérebro para fazer Lorena abrir-se, colocar tudo para fora? Ajudar a limpar seu “Quartinho dos fundos”? E transformá-lo em um lugar arejado, iluminado, puro, bonito... Afinal o que somos nós? Terapeutas?
Meros seguidores de normas escritas, para que o dito “paciente” tenha uma melhora?  Só isso? É tudo o que anos de estudo lhe proporcionam?
E suas sensibilidades? E suas culturas? E suas vidas de nada servem para ter “caminhos” para auxiliar Lorena? Então não são terapeutas?
Irvin Yalon tinha razão, são meros buscadores de “status quo” e dinheiro para sanar seus prazeres. E amigos?

                                         Que diabos de seres desprovidos de cérebro são estes que se aproveita de um ser tristonho e que somente precisa de uma mão amiga, de um “grilo” em seu ombro, para ouvi-la, para estar com ela... Para mostrar que todo mundo passa por uma grande paixão e termina... Que todo mundo tem condições de continuar a buscar sua alma gêmea.
Lembro-me, que em um filme qualquer, discutindo-se sobre religião e Deus, a personagem diz:
- Não acho que Deus esteja em mim ou em você. Penso que Deus esta neste meio, neste entre mim e você. Vejam a profundidade de uma frase, que em principio parece tola, em um filme qualquer? Ou seja, somente estando nos dois, nossas unidades, nossas individualidades, unidas, como se tornando outra unidade haverá o divino... Haverá o amor. O que Lorena precisa?
                                         Lorena precisa, primeiramente, de alguém que lhe conquiste a confiança. Pode ser um amigo, do olhar e do sorriso de Lorena... mas alguém que tenha um pouco de profundidade, que tenha sensibilidade, que sirva para os propósitos de Lorena. Que seja a mão estendida e, principalmente, o ouvido que tanto Lorena necessita e não encontra.
Que a escute dizer tudo... Sim tudo... Que tenha paciência para ouvi-la...
Que não a julgue. Que esteja com ela, e não somente para um simples “desabafar”. Isso é pequeno. E triste. Mas como Lorena encontrará este caminho. Sozinha? Quase impossível. Continuará fazendo o que sempre fez.
Seus “pseudos” amigos continuarão “achando” que ela está saudável.
                                        Penso que estamos muito “encapuzados” em ser nós mesmos, para os outros que esquecemos quem somos.
Não gostaria de beijar ninguém se eu não estivesse lá, como seu eu não estivesse beijando eu mesmo. Não quero beijar ninguém somente para que o outro sinta. Para que os outros vejam. Quero acabar com a hipocrisia e tirar o máximo de máscaras de quem está comigo e de mim mesmo.
                                         Quero ir passear comigo mesmo, mesmo estando com você. Pois se for com você eu não estarei lá. Será frio? Penso que no amor as consequências são as mesmas. Cada um tem o seu jeito e sua fórmula de amar. Cabe ao outro descobrir. Ao descobrir vai comparar, automaticamente, com o seu modo de amar. Os dois juntos construirão um modo diferençado e amor. E não transformando o outro para que seja igual a ela e ou ao que ele quer. E isso que Lorena precisa.
Depois de ver todo seu caso e conhecer um pouco Lorena, como a definiria:
Suas características de uma mulher muito bonita, já foram colocadas.
                                           Quanto ao comportamento de Lorena, que deve ainda estar guardado em seu interior, definiria como que ela tem um dom da pureza que parece, por vezes, difícil de compreender. Parece uma pureza do discernimento e da dedicação.
Em resumo, em si a busca da multiplicação de tudo que a natureza humana pode oferecer de bom e produtivo. Sua personalidade é discreta, por vezes modesta.
                                           O espírito é basicamente analítico, que sabe mostrar de bom senso, e de engenhosidade. Gosta de agir com moderação e previsibilidade. A personalidade se distingue pelas suas qualidades de ordenação e de classificação. Adora colecionar, guardar alguns objetos, que sempre poderão servir para alguma coisa no futuro, e sente a necessidade de ter tudo arrumadinho. No seu momento depressivo, deve ser tudo desorganizado, solto, uma espécie de revolta contra o que tinha de certeza, de correto, e se desarrumou. Quanto está normal, não se assusta com metas em longo prazo ou com trabalhos minuciosos e intermináveis. Passinho a passinho, costuma chegar até o fim das metas a que se propôs.

                                         A personalidade estabelece uma rotina, seja em sua própria vida, seja no ambiente onde passa a maior parte do tempo.  Por isso sofre profundamente com a imprevisibilidade da vida, quando o estabelecimento de sua rotina é virado de cabeça para baixo. Se eu fosse um simples astrólogo, eu diria que ela é uma Virginiana autêntica. Mas para não ofender a plateia de especialistas, hoje, abstenho-me de tal comentário. Podem rir... Assim descontraem-se para as perguntas finais, que ficarão... Com vocês...
                                        Afirmo-lhes, com sua forma reservada, profunda, e sua maravilhosa beleza interior, igualando-se a beleza exterior, eu gostaria de ser namorado de alguém como Lorena.
Acredito que teria o melhor amor do mundo. Mas para isso precisaria saber o que é amor. E amar, sobretudo, acima do amor dos simples mortais. Incondicional como Nietzsche. Como eu. Como você.
Só posso dizer, finalizando, que para Lorena, se você quer ser amigo ou namorado, Ela espera muito de você... Se não tiver, por favor, não se aproxime. Não a ajudará em nada. E não terá seu melhor.
Mas e eu? Simplesmente, fiz uma crônica e uma crítica ao todo? Ao sistema?
                                                 Como ignorante na área, destinada a nossa discussão, simplesmente, busquei, na filosofia, e no pouco que conheci de Lorena, e fiz um trato com ela:
                                                Disse-lhe que lhe mandaria 20 cartas. Uma por dia. Todas tratando de assuntos básicos. Bem simples.  Mas todos os assuntos retirados do que ela me disse, me falou, por e-mail, por conversas eletrônicas e telefônicas. Muitas vezes ficávamos até 90 minutos ao telefone. Ela pensaria muito e discerniria sobre cada um deles. Ao final, nos conversaríamos. Se ela tivesse dúvidas, escrevesse. Até por eu estar 4 estados longe dela. Assim, sem emoções baratas, haveria pensamentos profundos, que não doeriam nada e ela buscaria em si mesma, o que tanto necessitava.


                                               Eu seria uma espécie de “grilo falante”, neste caso escrevente. E utilizaria as palavras para chegar, através de sua mente, em seu coração. Ela aceitou. Mandei-lhe vinte cartas. Hoje, Lorena, esta curada? Não sei, Não sou profissional da área. Mas como ser, como gente pensante, acredito que descobriu um caminho para sua própria cura, para seu próprio descobrimento do que é amar, a si mesma, em primeiro lugar, e depois de se amar muito, estar pronta para receber e amar alguém.
                                         Como ela esta hoje? Melhor do que estava com certeza... Mas isso é o que terão de descobrir em suas “lorenas” que encontrarem pelo caminho, como amigos, como namorados, como maridos ou esposas, ou simplesmente como terapeutas...
                                           Conheci Lorena, pessoalmente, a pouquíssimo tempo. Fui ao seu encontro. E percebi a Lorena que sempre senti na profundidade do seu olhar. Estava bem. Se encontrando. Encontrando seus sentidos e sua própria vida. E disse que logo estará pronta para amar de novo. Acreditem. As perguntas que ficarão:

1 – Se forem amigos de Lorena o que farão?
2 - Se forem enamorados de Lorena, o que farão?
3 – Se forem terapeutas de Lorena, como farão?
                                     A propósito, hoje, Lorena, é uma das minhas melhores amigas. E tenho verdadeiro prazer em repartir minhas palavras com ela. E assim como Nietzsche, muitas vezes não conseguimos nos livrar de nossas cadeias, inobstante, conseguimos auxiliar nossos amigos a se livrar das suas...

Pensem... Não Dói!
 

As palavras e a comunicação na terapia.
Estudo de caso, baseado em informações de terapias.
Base de discussão Os Desafios da Terapia.
A partir da Obra de Irvin Yalon.
Os nomes foram alterados para preservar a privacidade.
O caso foi transformado em crônica, discutida, para facilitar discussões.
Bibliografia pesquisada, além do caso apresentado.
Os Desafios das Terapias e suas reflexões sobre pacientes e terapeutas.
Irvin D. Yalon, Ediouro – Titulo original -  The gift of terapy – 2002.
Pesquisa, Elaboração, apresentação e discussão.
 * Protheus – José Carlos Bortoloti
Jornalista e Prof. de Comunicação.
 
 

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