quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Dia de Visita do Escritor Antônio
Figueiredo na Sala de Protheus:

 

COM QUE VOTO?
 
“...Uma eleição é feita para corrigir o erro
da eleição anterior, mesmo que o agrave...!" 
C.Drumond de Andrade.
 
Nada tem sido motivo de maior discussão no Brasil que o voto. Uma grande maioria discute sua obrigatoriedade, mas muito poucos iscutem a sua “qualidade”, a importância da sua “representatividade” e, principalmente, da sua “utilidade” e refiro-me, principalmente, ao “voto proporcional”.
                                     Era muito pequeno e me lembro da festa que era todo dia 03 de Outubro de Eleições. Em troca de um sanduiche de pão com presunto e um copo de suco de groselha, ficávamos perambulando pelas diversas Seções Eleitorais distribuindo as “cédulas” com o nome e Partido dos candidatos. Não existia então a identificação por números de ambos. Na hora do voto essas cédulas eram envelopadas e postas na urna.
                                     A propaganda eleitoral restringia-se a cartazes e faixas colocadas nos postes e normalmente em preto e branco, pois qualquer trabalho a cores tinha um custo proibitivo. No rádio veiculava-se uma propaganda paga pelo candidato na maior parte das vezes ou pelo Partido, quando o candidato era um “figurão”. Entretanto, a grande atração eram os comícios, que para os cargos majoritários sempre juntavam muita gente nas praças públicas. O povo gostava de “ver caras e palavras”.
                                     Lembro-me de um amigo, que se candidatou e nem a própria foto colocou nos cartazes por questões de custo. Em seu lugar colocou um “ponto de interrogação”. É evidente que isso gerou muita curiosidade, pelo suspense em se imaginar quem seria esse “Edson Gonçalves” e, obviamente, os demais candidatos apresentaram queixa ao Juiz Eleitoral e este determinou que ou colocasse uma foto nos cartazes ou o Edson teria que desistir da sua candidatura.
                                    Cotizamo-nos e o nosso amigo conseguiu cumprir a exigência legal. Esse “trabalho formiguinha” de panfletagem e divulgação era feito por nós, seus amigos, gratuitamente e no intuito de eleger o “primeiro vereador” do bairro de Vila Maria – SP. A Política na época sempre incluía um sentido de participação voluntária, principalmente nos bairros mais periféricos e desassistidos. Queríamos fazer-nos representar.

                                  
                                     Meu amigo candidatou-se por uma pequena legenda da época, (PRN ou PTN, não estou certo), pois as grandes legendas, (PSP, UDN, PSD, PDC e PTB), reservavam suas vagas sempre para políticos mais conhecidos e normalmente candidatos à reeleição. Mesmo Adhemar de Barros, (PSP), antigo “donatário” do “curral eleitoral da Vila Maria” e depois Jânio Quadros, que o arrebatou, jamais apoiaram candidatos do bairro. O esforço sempre se concentrou em manter no Poder a “cabeça” da legenda.
                                Cheguei aqui exatamente ao ponto, que desejava, propondo um “corolário” ao lembrar que os Partidos sempre foram “gerados e paridos” na “alcova das oligarquias” e calcada nos seus interesses. O povo, bem o povo, seus interesses e necessidades sempre foi uma “concessão” deles e vem depois. Sempre...
                                Pois bem, vamos à História. A República Velha, (1889-1930), baseou-se na “República do Café com Leite”, (acordo de político informal), prevendo a alternância da Presidência entre SP e MG. A “traição” do PRP, (Partido Republicano Paulista) ao PRM, (Partido Republicano de Minas Gerais) por insistir em quebrar a “regra do revezamento” ao propor, (com o apoio de 17 Presidentes Estaduais) e eleger Júlio Prestes em sucessão a Washington Luis, provocou a Revolução de 1930, que ascendeu Getúlio Vargas ao Poder, com o apoio de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba.
                                  Bem, é desnecessário dizer que Getúlio Vargas tinha o apoio do partido mais forte do Brasil à época: O Exército Nacional e principalmente do Tenentismo de 1920, uma fortíssima corrente político militar composta, entre outros, por Luís Carlos Prestes, Eduardo Gomes, Siqueira Campos, Cordeiro de Farias e Juarez Távora entre outros notáveis. Na verdade, nenhum Governo do Brasil até 1985 se sustentou sem ter um olho na temperatura dos quartéis e a “bunda” longe das “baionetas”.
                                     Não é de graça, que Getúlio é considerado o mais carismático e “velha raposa política” de todos os tempos, pois soube “equilibrar-se no arame político” por mais de 24 anos sem “apear-se” do Poder. Mestre em retardar decisões esperando que outros precipitassem os “fatos” contentou “gregos” (políticos e militares) e “troianos”, (povo). Mas sempre atuando como um equânime “doador de jujubas”. A leitura de Lira Neto é imprescindível para entender aqueles tempos.
                                    Muitas foram as Reformas Eleitorais propiciadas, mas sempre focando o que era mais urgente, no caso o “voto feminino” em 1932 e sempre mediante a “pressão das metrópoles”, que detinham o poder de mobilização cívica. As periferias e “rincões mais distantes” da Nação não tinham “representação” e por isso não tinham “voz” e nada foi feito ou pensado para se mudar essa realidade. E este continua, a meu ver, sendo o grande problema do Brasil.
                                    Uma coisa incompreensível no Brasil de hoje é que existam sindicatos representativos até para “flanelinhas” e existe partido político até prá defender “veteranos da Guerra do Paraguai”, (duas hipóteses absurdas, mas que em se falando de Brasil, se procurarmos bem...), mas não é garantido o direito de representatividade dos rincões ermos e mais desassistidos nos Municípios, Estados e da Federação. Isso força-os a votar em “candidatos importados” e que, vista de regra vai engrossar o “voto em legenda” em benefício de “candidatos sem raiz” e do interesse das estruturas partidárias.
                                  Escrevi há 4 anos um artigo a respeito, em que provava, que o Vice Presidente Michel Temer não teria sido eleito Deputado Federal por São Paulo nas Eleições de 2006, se prevalecesse o Voto Distrital Puro. Elegeu-se pela “catação de votos” do PMDB em todo estado e certamente com os da “coligação”. Ele era na época Presidente do PMDB, ou seja, um “candidato privilegiado e a privilegiar”. Uma “cabeça coroada” ungida pelo privilégio do “voto em outrem”. Essa é a nossa realidade do “voto proporcional” e das “coligações de saúvas com cupins”.
                                 Outra “jabuticaba” excrescente produzida pelo “incesto político” na formação de legendas no Brasil são os famosos, “baixo clero” e “alto clero”, do Congresso, ou seja, o “grupo dos que não valem nada” e o “grupo dos dispostos a tudo” e que por isso valem quanto pesam. Quem não tem proeminência deve ter algum tipo de compensação. Afinal um “eleito do povo” tem mais do que um “peso”, tem um “preço”. Em um provérbio acaciano: O negócio é a alma do negócio.
                                 Fala-se no Brasil tanto e crescentemente da “defesa dos direitos das minorias” e defendem-se e até se patrocinam Movimentos Sociais e Movimentos Minoritários, como o MST, MTST, LGBTT, além de uma quantidade enorme de ONG’ s fundadas no intuito de assisti-los. Entretanto não vejo nenhuma voz defendendo os “distritos excluídos” de participação política e que são na totalidade os mais carentes em tudo. Apenas calam-se suas bocas com programas assistencialistas.

                                          O Brasil desde seu descobrimento sempre se utilizou de uma “massa de escravos”. No princípio foram os índios e a seguir uma imensa maioria da população de negros, que não foram libertos e sim lançados a própria sorte, da mesma forma que ocorre hoje em mais de 60% do território nacional com o Bolsa Família.
                                             Por mais de 40 anos, por opção pessoal, comecei a viajar pelos cerrados e caatingas do Brasil desde Minas Gerais até o Nordeste e Centro Oeste do Brasil, para conhecer seus espaços e gentes e constatei que, recebemos um imenso e rico patrimônio, mas que para sermos seus legítimos proprietários, precisamos fazer valer o princípio constitucional de que “todos somos brasileiros iguais perante a Constituição”. A voz de um brasileiro dos mais remotos e ermos brasis é também uma Voz do Brasil.
                                             O voto não é uma opinião introduzida em uma urna. O voto deve ser um compromisso e uma profissão de fé no Brasil que queremos construir.

 
                                                                           Das vivências, percepções e pesquisas de
Antônio Figueiredo – De algum lugar entre a Bahia e São Paulo
Economista, Escritor, Empresário, Militante Apartidário Parlamentarismo e Voto Distrital Puro. Ex - Ativista Movimentos Sociais Católicos/ Metalúrgico/ Estudantil (1961/73). Operário da Cidadania
 

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