Figueiredo na Sala de Protheus:
COM
QUE VOTO?
“...Uma eleição é feita para corrigir o erro
da eleição anterior, mesmo que o agrave...!"
C.Drumond de Andrade.
Nada tem
sido motivo de maior discussão no Brasil que o voto. Uma grande maioria discute
sua obrigatoriedade, mas muito poucos iscutem a sua “qualidade”, a importância
da sua “representatividade” e,
principalmente, da sua “utilidade” e
refiro-me, principalmente, ao “voto
proporcional”.
Era muito
pequeno e me lembro da festa que era todo dia 03 de Outubro de Eleições. Em
troca de um sanduiche de pão com presunto e um copo de suco de groselha,
ficávamos perambulando pelas diversas Seções Eleitorais distribuindo as “cédulas” com o nome e Partido dos
candidatos. Não existia então a identificação por números de ambos. Na hora do
voto essas cédulas eram envelopadas e postas na urna.
A
propaganda eleitoral restringia-se a cartazes e faixas colocadas nos postes e
normalmente em preto e branco, pois qualquer trabalho a cores tinha um custo
proibitivo. No rádio veiculava-se uma propaganda paga pelo candidato na maior
parte das vezes ou pelo Partido, quando o candidato era um “figurão”. Entretanto, a grande atração eram os comícios, que para
os cargos majoritários sempre juntavam muita gente nas praças públicas. O povo
gostava de “ver caras e palavras”.
Lembro-me
de um amigo, que se candidatou e nem a própria foto colocou nos cartazes por questões
de custo. Em seu lugar colocou um “ponto
de interrogação”. É evidente que isso gerou muita curiosidade, pelo
suspense em se imaginar quem seria esse “Edson
Gonçalves” e, obviamente, os demais candidatos apresentaram queixa ao Juiz
Eleitoral e este determinou que ou colocasse uma foto nos cartazes ou o Edson teria
que desistir da sua candidatura.
Cotizamo-nos
e o nosso amigo conseguiu cumprir a exigência legal. Esse “trabalho formiguinha” de panfletagem e divulgação era feito por
nós, seus amigos, gratuitamente e no intuito de eleger o “primeiro vereador” do bairro de Vila Maria – SP. A Política na
época sempre incluía um sentido de participação voluntária, principalmente nos
bairros mais periféricos e desassistidos. Queríamos fazer-nos representar.
Meu amigo candidatou-se
por uma pequena legenda da época, (PRN ou
PTN, não estou certo), pois as grandes legendas, (PSP, UDN, PSD, PDC e PTB), reservavam suas vagas sempre para
políticos mais conhecidos e normalmente candidatos à reeleição. Mesmo Adhemar
de Barros, (PSP), antigo “donatário” do “curral eleitoral da Vila Maria” e depois Jânio Quadros, que o
arrebatou, jamais apoiaram candidatos do bairro. O esforço sempre se concentrou
em manter no Poder a “cabeça” da
legenda.
Cheguei aqui
exatamente ao ponto, que desejava, propondo um “corolário” ao lembrar que os Partidos sempre foram “gerados e paridos” na “alcova das oligarquias” e calcada nos
seus interesses. O povo, bem o povo, seus interesses e necessidades sempre foi
uma “concessão” deles e vem depois. Sempre...
Pois bem, vamos
à História. A República Velha, (1889-1930),
baseou-se na “República do Café com
Leite”, (acordo de político informal), prevendo a alternância da
Presidência entre SP e MG. A “traição”
do PRP, (Partido Republicano Paulista) ao
PRM, (Partido Republicano de Minas Gerais)
por insistir em quebrar a “regra do
revezamento” ao propor, (com o apoio
de 17 Presidentes Estaduais) e eleger Júlio Prestes em sucessão a
Washington Luis, provocou a Revolução de 1930, que ascendeu Getúlio Vargas ao
Poder, com o apoio de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba.
Bem, é desnecessário dizer que Getúlio Vargas
tinha o apoio do partido mais forte do Brasil à época: O Exército Nacional e
principalmente do Tenentismo de 1920, uma fortíssima corrente político militar
composta, entre outros, por Luís Carlos Prestes, Eduardo Gomes, Siqueira
Campos, Cordeiro de Farias e Juarez Távora entre outros notáveis. Na verdade,
nenhum Governo do Brasil até 1985 se sustentou sem ter um olho na temperatura
dos quartéis e a “bunda” longe das “baionetas”.
Não é de
graça, que Getúlio é considerado o mais carismático e “velha raposa política” de todos os tempos, pois soube “equilibrar-se no arame político” por
mais de 24 anos sem “apear-se” do
Poder. Mestre em retardar decisões esperando que outros precipitassem os “fatos” contentou “gregos” (políticos e
militares) e “troianos”, (povo). Mas
sempre atuando como um equânime “doador
de jujubas”. A leitura de Lira Neto é imprescindível para entender aqueles
tempos.
Muitas
foram as Reformas Eleitorais propiciadas, mas sempre focando o que era mais
urgente, no caso o “voto feminino” em 1932 e sempre mediante a “pressão das metrópoles”, que detinham o
poder de mobilização cívica. As periferias e “rincões mais distantes” da Nação não tinham “representação” e por isso não tinham “voz” e nada foi feito ou pensado para se mudar essa realidade. E
este continua, a meu ver, sendo o grande problema do Brasil.
Uma coisa incompreensível no Brasil de hoje
é que existam sindicatos representativos até para “flanelinhas” e existe partido político até prá defender “veteranos da Guerra do Paraguai”, (duas hipóteses absurdas, mas que em se
falando de Brasil, se procurarmos bem...), mas não é garantido o direito de
representatividade dos rincões ermos e mais desassistidos nos Municípios,
Estados e da Federação. Isso força-os a votar em “candidatos importados” e que, vista de regra vai engrossar o “voto em legenda” em benefício de “candidatos sem raiz” e do interesse das
estruturas partidárias.
Escrevi há 4
anos um artigo a respeito, em que provava, que o Vice Presidente Michel Temer
não teria sido eleito Deputado Federal por São Paulo nas Eleições de 2006, se
prevalecesse o Voto Distrital Puro. Elegeu-se pela “catação de votos” do PMDB em todo estado e certamente com os da “coligação”. Ele era na época Presidente
do PMDB, ou seja, um “candidato
privilegiado e a privilegiar”. Uma “cabeça
coroada” ungida pelo privilégio do “voto em outrem”. Essa é a nossa
realidade do “voto proporcional” e das “coligações de saúvas com cupins”.
Outra “jabuticaba” excrescente produzida pelo “incesto político” na formação de
legendas no Brasil são os famosos, “baixo
clero” e “alto clero”, do
Congresso, ou seja, o “grupo dos que não
valem nada” e o “grupo dos dispostos
a tudo” e que por isso valem quanto pesam. Quem não tem proeminência deve
ter algum tipo de compensação. Afinal um “eleito
do povo” tem mais do que um “peso”,
tem um “preço”. Em um provérbio
acaciano: O negócio é a alma do negócio.
Fala-se no
Brasil tanto e crescentemente da “defesa
dos direitos das minorias” e defendem-se e até se patrocinam Movimentos
Sociais e Movimentos Minoritários, como o MST, MTST, LGBTT, além de uma
quantidade enorme de ONG’ s fundadas no intuito de assisti-los. Entretanto não
vejo nenhuma voz defendendo os “distritos
excluídos” de participação política e que são na totalidade os mais
carentes em tudo. Apenas calam-se suas bocas com programas assistencialistas.
O Brasil desde seu descobrimento sempre se
utilizou de uma “massa de escravos”.
No princípio foram os índios e a seguir uma imensa maioria da população de
negros, que não foram libertos e sim lançados a própria sorte, da mesma forma
que ocorre hoje em mais de 60% do território nacional com o Bolsa Família.
Por
mais de 40 anos, por opção pessoal, comecei a viajar pelos cerrados e caatingas
do Brasil desde Minas Gerais até o Nordeste e Centro Oeste do Brasil, para conhecer
seus espaços e gentes e constatei que, recebemos um imenso e rico patrimônio,
mas que para sermos seus legítimos proprietários, precisamos fazer valer o
princípio constitucional de que “todos
somos brasileiros iguais perante a Constituição”. A voz de um brasileiro
dos mais remotos e ermos brasis é também uma Voz do Brasil.
O voto não é uma opinião introduzida
em uma urna. O voto deve ser um compromisso e uma profissão de fé no Brasil que
queremos construir.
Antônio
Figueiredo – De algum lugar entre a Bahia e São Paulo
Economista, Escritor, Empresário, Militante Apartidário Parlamentarismo
e Voto Distrital Puro. Ex - Ativista Movimentos Sociais Católicos/ Metalúrgico/
Estudantil (1961/73). Operário da Cidadania
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