#SerieCompreensoes:
Solidão Compartilhada!
“...Sim, minha força está na
solidão.
Não tenho medo nem de chuvas
tempestivas
nem das grandes ventanias
soltas, pois eu
também sou o escuro da
noite...!”
Clarice Lispector
É preciso abrir mão do sonho
que o entusiasmo em demasia provoca, para se enxergar o outro com a mais pura
noção de realidade. Às vezes o afeto nos confunde, nos deixa intoxicados, e nos
priva da visão de realidade à nossa volta.
Muitas vezes fomos nós que
graduamos a mais (movidos pelo sentimento intoxicante do entusiasmo), pessoas
ou atitudes, que não estavam prontas. Fomos nós que enfeitamos com flores,
vasos que não estavam cheios d'água. Então em vão, esperamos apenas com nossas
projeções, que essas flores não murchassem.
Hoje em dia é preciso sim,
compreender as projeções que muitas vezes fazemos de nossos desejos, que criam
vida, alimentados exclusivamente pelo erro do entusiasmo em excesso. E
vigiar..., porque uma vez manifestas essas projeções, são sofrimento garantido
nesse mundo 0 e 1. Cobramos com as duas mãos como vis publicanos, aquilo que
pensamos existir no outro, mas que é tão somente nossa fantasia.
É preciso ter uma noção da
nossa capacidade de criar sonhos, de criar personagens, de criar cenários, e
entender que essa figura de imagem, muitas vezes é apenas uma ferramenta com
que se serve nosso íntimo para nos recompensar de necessidades que são só
nossas. É um feedback que nos proporcionamos a nós mesmos, uma resposta para
nos prover a sensação de alívio e bem estar que nos livra da decepção e
tristeza.
Às vezes fabricamos sonhos, e
acreditamos neles como fossem verdade. A diferença entre uma ilusão e uma
verdade é que uma está dentro de nós, a Projetamos no outro, em muitas vezes,
em muitas situações, em muitos casos. E projetamos de tudo. Construímos imagens
de bem e de mal. Construímos amigos, construímos inimigos, enxergamos
delicadeza no mais rude e cruel caráter, identificamos má vontade, culpa,
voluntarismo, inteligência, negligência, esperteza, má-fé, displicência,
amabilidade... enfim, do lado de dentro de nós mesmos, tudo é possível.
Quanto maior a solidão, mais é
necessário ver o lado de fora, mais necessário sair de nós, cruzar as ruas da
realidade, passo a passo, esquadrinhar cada palmo de realidade à nossa volta,
para que não sobre nada que possa ser confundido com as ilusões do lado de
dentro. É preciso examinar atitudes, estudar sensações, emoções, corrigir os
desvios do sentimento. É primordial para a nossa sobrevivência, neste mundo
cada vez menos sólido, cada vez mais virtual, cuja solidão compartilhada é cada
vez mais comum.
Somos menos humanos agora,
seguimos padrões mais genéricos, somos mais plásticos, mais versáteis, mais
velozes, mais especializados... E mais descartáveis também. Uns com mais, outros
com menos habilidade de viver. Pobres mortos os que não percebem essa realidade
cruel à volta e não guardam bem guardadas seus sonhos.
Saudades do tempo em que nosso
lado de dentro não representava ameaça ao lado de fora. Em que nossos sonhos
eram exaltados, em que éramos somente gente simples, sem medo de mostrar os
nossos sentimentos.
Mônica
Torres
Escritora,
Cronista
Desenvolvedora
de softwares
Sitio -
www.quadripixel.blogspot.com. br
Pernambuco - Brasil
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