sábado, 18 de julho de 2015


#SerieCompreensoes:

 

Solidão Compartilhada!


“...Sim, minha força está na solidão.

Não tenho medo nem de chuvas tempestivas

nem das grandes ventanias soltas, pois eu

também sou o escuro da noite...!”

Clarice Lispector

 

É preciso abrir mão do sonho que o entusiasmo em demasia provoca, para se enxergar o outro com a mais pura noção de realidade. Às vezes o afeto nos confunde, nos deixa intoxicados, e nos priva da visão de realidade à nossa volta.
Muitas vezes fomos nós que graduamos a mais (movidos pelo sentimento intoxicante do entusiasmo), pessoas ou atitudes, que não estavam prontas. Fomos nós que enfeitamos com flores, vasos que não estavam cheios d'água. Então em vão, esperamos apenas com nossas projeções, que essas flores não murchassem.
Hoje em dia é preciso sim, compreender as projeções que muitas vezes fazemos de nossos desejos, que criam vida, alimentados exclusivamente pelo erro do entusiasmo em excesso. E vigiar..., porque uma vez manifestas essas projeções, são sofrimento garantido nesse mundo 0 e 1. Cobramos com as duas mãos como vis publicanos, aquilo que pensamos existir no outro, mas que é tão somente nossa fantasia.


É preciso ter uma noção da nossa capacidade de criar sonhos, de criar personagens, de criar cenários, e entender que essa figura de imagem, muitas vezes é apenas uma ferramenta com que se serve nosso íntimo para nos recompensar de necessidades que são só nossas. É um feedback que nos proporcionamos a nós mesmos, uma resposta para nos prover a sensação de alívio e bem estar que nos livra da decepção e tristeza.
Às vezes fabricamos sonhos, e acreditamos neles como fossem verdade. A diferença entre uma ilusão e uma verdade é que uma está dentro de nós, a Projetamos no outro, em muitas vezes, em muitas situações, em muitos casos. E projetamos de tudo. Construímos imagens de bem e de mal. Construímos amigos, construímos inimigos, enxergamos delicadeza no mais rude e cruel caráter, identificamos má vontade, culpa, voluntarismo, inteligência, negligência, esperteza, má-fé, displicência, amabilidade... enfim, do lado de dentro de nós mesmos, tudo é possível.


Quanto maior a solidão, mais é necessário ver o lado de fora, mais necessário sair de nós, cruzar as ruas da realidade, passo a passo, esquadrinhar cada palmo de realidade à nossa volta, para que não sobre nada que possa ser confundido com as ilusões do lado de dentro. É preciso examinar atitudes, estudar sensações, emoções, corrigir os desvios do sentimento. É primordial para a nossa sobrevivência, neste mundo cada vez menos sólido, cada vez mais virtual, cuja solidão compartilhada é cada vez mais comum.
Somos menos humanos agora, seguimos padrões mais genéricos, somos mais plásticos, mais versáteis, mais velozes, mais especializados... E mais descartáveis também. Uns com mais, outros com menos habilidade de viver. Pobres mortos os que não percebem essa realidade cruel à volta e não guardam bem guardadas seus sonhos.
Saudades do tempo em que nosso lado de dentro não representava ameaça ao lado de fora. Em que nossos sonhos eram exaltados, em que éramos somente gente simples, sem medo de mostrar os nossos sentimentos.

 

 

 

 

Mônica Torres
Escritora, Cronista
Desenvolvedora de softwares
Sitio - www.quadripixel.blogspot.com.br
Pernambuco - Brasil

 

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