O
escritor Antônio Figueiredo
mostra
as diferenças dos jovens dos Anos 50 e hoje:
O Que
Dizer Aos Jovens Agora...?
“... Existe uma vitalidade, uma força de
vida, uma energia,
um despertar que é traduzido em ação
através de você,
e
porque só existe um de você em todos os tempos,
essa expressão é única...!”
Martha Graham
Uma
análise justa requer duas perguntas: O que quando jovem impedia meu diálogo com
os mais velhos? O que agora velho dificulta meu contato com os mais jovens?
A
velocidade das mudanças culturais e dos costumes nos dias de hoje com certeza é
a grande responsável por esse desencontro, como já era na minha juventude e
sempre o foi desde sempre, só que então o compasso era mais lento. A não existência
de referências em comum afasta o diálogo e aproxima as desconfianças. Há que
considerar também a “eterna rebeldia
juvenil”.
Lembro-me que, tinha já 7 anos, meu
pai trazia para casa dois jornais diariamente: A Gazeta Esportiva e a Gazeta.
Foi essa mistura de esportes e noticiário político nacional e internacional,
que me iniciou no meu “interesse pela
política” e no amor pelo meu Corinthians e tenho hoje a consciência do
privilégio, que isso representava, pois muito pouca gente podia dar-se a esse
luxo. Jornais eram muito caros na década de 1950 e por isso poucos na periferia
tinham acesso à informação e educação política”.
O
jornalismo daquele tempo já se encontrava em mãos de grandes grupos editoriais,
(Estado S. Paulo, Folha, Diários
Associados, (SP) e Jornal do Brasil, Globo e Tribuna Imprensa, (RJ)), muitos
dos quais aí estão até hoje, mas imbuídos então do “sacerdócio da informação” com absoluta fidelidade à veracidade dos
fatos e por isso gozavam de respeito e prestígio social e político.
É bem
verdade, que suas linhas editoriais subentendiam interesses e alinhamentos políticos
específicos, ainda que corporativos o que é natural, mas a informação divulgada
era comparavelmente igual em todos eles, principalmente no tocante à política
internacional, cuja fonte era exclusivamente de agências estrangeiras.
Entretanto, quanto à política interna era visível o cuidado no trato de
informações comprometedoras às autoridades.
Ainda que a
política brasileira tenha sido desde as suas origens altamente oligarquizada, o
conceito de “honradez” sempre foi
levado muito a sério e à risca e assim a Imprensa sempre foi muito cautelosa e
responsável na divulgação de suspeitas e ilícitas, pois vigia então uma Lei de
Imprensa muito rígida. Foram vários os eventos em que a afirmação de que “V. Excia é um ladrão/canalha/corrupto”
acabaram
em morte dentro do próprio plenário do Congresso Nacional.
Outra
característica da Imprensa daquele tempo era sua baixa dependência das verbas
da propaganda oficial, um expediente praticamente inexistente e isto fazia com
que a isenção do noticiário dependesse exclusivamente da capacidade financeira
do grupo editorial. A fidelidade editorial aos leitores era praticamente
absoluta, o que emprestava à política matizes ideológicos muito bem definidos e
amplos. Até mesmo os “jornais de
esquerda” assim procediam e sua publicação era no geral reivindicatória,
sem os atuais ataques à idoneidade moral dos adversários políticos.
O
jornalismo baseava-se em ideias e ideários e o jornalista era considerado um
missionário, por isso foram muitos os que tiveram proeminência política e
respeito público. Nem poderia ser de forma diferente, posto que a ética e a responsabilidade
e fidelidade à verdade não eram padrões de uma classe e sim da sociedade
brasileira como um todo. Assim nos ensinaram nossos pais e avós e isso era o
que transmitíamos a nossos filhos e netos. Certamente, ainda que se apregoe que
“o mundo é dos espertos”, mantenho a
crença de que são ainda os valores transmitidos.
Quer
queiramos admitir ou não, segundo o histórico da Republica, foi durante os
períodos ditatoriais e de regimes excepcionais em que se buscou combater com
mais eficácia os “desvios políticos”
no Brasil e se atentarmos melhor, veremos que sempre estiveram na sua
retaguarda as Forças Armadas. Isso tem uma explicação lógica, de que nelas
prevalece o conceito de que são o último baluarte da “defesa da Pátria” e o ensinamento dos quarteis baseia-se na
disciplina do patriotismo e seus valores.
Já o Poder Civil
e seus partidos políticos, exceção feita a alguns surgidos decorrentes de
golpes institucionais, sempre tiveram ideários difusos e genéricos para a atração
do mais largo espectro de participantes e isso implicava em uma “disciplina partidária laxa”, ou melhor,
de “hímen complacente”. Todavia, após
a Constituição de 1988, (sufragada pelo
medo), retornamos à mesma situação de 1945/1964, quando se permitiu a
criação de “partidos representativos” de
qualquer coisa, na maioria das vezes “representativos
exclusivamente dos interesses de seus criadores” e desobrigados de
compromissos com o interesse nacional.
Entre os
partidos políticos hoje existentes no Brasil nenhum deles representa o “novo” na nossa política, apesar de
assim aparentarem no seu início. São todos eles exatamente “o mesmo de sempre”. Sem ideário, bandeiras e objetivos, que não o “Poder pelo Poder”.
Vivemos o caos de uma “casa de mãe Joana” política sem qualquer
disciplina e “objetivos políticos” e
que ainda para piorar permite a criação artificial de lideranças partidárias em
novos partidos destinadas a “dividir o butim nacional”, baseado em um regime de
coligações, de “deus com o diabo”.
Esse, infelizmente tem sido o “legado
civil” na organização política e social do Brasil e que nós cidadãos
assistimos estupefatos, mas inermes.
Há alguns
anos atrás questionei minha mãe, que me havia preparado mal para a realidade e
que os valores ensinados fizeram de mim uma “barata
tonta” no meio do meu próprio país. Ela calou-se. Entretanto, passado muito
pouco tempo, meu filho questionou-me pelos mesmos motivos e eu também me calei,
momentaneamente. Não tinha todas as respostas a menos que fizesse novas
perguntas. Desde a mais tenra infância somos: por que? e no resto dos dias a
vital insistência de repetir um ilimitado: por que?
A nada termos sem o “suor do próprio rosto” foi a condenação
recebida nas portas do Jardim do Éden e mesmo porque é essa luta por sucesso que
nos diferencia na criação, assim como a de assumir riscos para aprender e
desobedecer aprendendo. Conquistamos com isso o direito ao livre arbítrio e com
ele o de desenhar os nossos caminhos.
É evidente
que um “diálogo entre gerações”, (a nossa e a dos jovens atuais) é dificultado
pelos “status” de cada uma. Nós temos
a nossa vida resolvida e a deles ainda busca seu espaço em um ambiente cada vez
mais acirradamente competitivo. A grande maioria sabe que não conseguirá dar a
seus filhos o mesmo que recebeu e não por competência, mas por acessibilidade
às oportunidades e nisso muito influi a atual situação político-econômica. O
horizonte é sombrio para todos.
Os
jovens têm uma vida pela frente para buscar “céus
mais azuis”, já os “velhos”, na
sua grande maioria, já retirados da vida profissional “rezam” para que a desvalorização da sua aposentadoria não se
deteriore mais.
A
Nação já esperou por 125 anos pelas diretrizes dos “homens públicos”, em vão. Sempre demonstraram serem “incompetentes construtores” de uma
Nação e sua cidadania e por isso só nos resta a todos comungados tomar de suas
mãos essa tarefa, dizendo-lhes o que e quando o queremos e para isso só há uma
forma. Via Emendas Populares da Constituição.
Vamos dizer-lhes que tipo de República
Federativa quer. Como achamos que devam ser eleitos nossos representantes e
como poderemos cobrá-los. Que cada brasileiro de qualquer parte do país
sinta-se representado e tenha acesso direto regionalmente a seu representante e
que se não cumprirem com os objetivos que traçamos, poderemos demiti-los e
substitui-los.
“Todo
o Poder emana do Povo e em seu nome deve ser exercido” deve ser nosso lema
e meta e é o que reafirmaremos perante eles e também é isso o que vamos deixar
de herança e responder aos mais jovens se formos perguntados outra vez...
Das percepções e pesquisas de
Antonio Figueiredo – Entre Algum Lugar entre a Bahia e São Paulo
Economista, Escritor, Empresário, Militante
Apartidário Parlamentarismo e Voto Distrital Puro. Ex - Ativista Movimentos
Sociais Católicos/ Metalúrgico/ Estudantil (1961/73). Operário da Cidadania
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