por Antônio Figueiredo
na Sala de Protheus:
“... Com
Que Roupa...!”
aqueles cujo espírito irradia e os que brilham:
os primeiros iluminam à sua volta, os segundos
mergulham-nos nas trevas...!”
Marie Eschenbach
O genial Noel Rosa em 1929, então
com 19 anos, compôs o samba “Com que
roupa”. Noel foi um crítico mordaz
dos costumes e do quotidiano da sua época, como, aliás, todos os artistas
populares daquele tempo, o eram. Uma das poucas formas de informação
disponível, visto que só a elite possuía receptores de rádio, era através da
música, que se tocava nas lojas pelas calçadas das ruas.
Pois
bem, por alguma razão inusitada fui conduzido ao debate eleitoral do nosso
tempo e a indagação proposta por Noel levou-me a pensar na governabilidade do
Brasil após as eleições. Com que “roupa
política” se vestirá o próximo Governo?
Uma
lição política que o brasileiro não aprendeu ainda e incrivelmente recusa-se a assimilar
é a de que o Presidencialismo ainda que quase imperial, pois ao Executivo é
permitido dispor dos recursos do Orçamento a seu bel prazer e sem compromisso algum em cumpri-lo e principalmente de
prestar contas, (uma peça de ficção),
depende do Legislativo para toda e qualquer Reforma com uma pauta de demandas
imensas.
Desta
maneira e com base nas coligações, que agora se apresentam, vou projetar como
se preencheriam as cadeiras do Congresso Nacional e ver como se disporiam as
forças políticas. A candidatura Dilma senta-se sobre a Coligação com a Força do
Povo composta de PT (88), PMDB (73), PCdoB (15), PDT (18), PP/PROS
(60), PR (25), PSD 44) e PRB (10) com 333 dos atuais deputados federais.
A de
Aécio Neves da Muda Brasil Coligação sobre
o PSDB (44), Democratas (28), PEN (1), PMN (3), PTB (18), PTC
(0), PTN (0), PT do B (3) e Solidariedade (21) totalizando 118 dos atuais
deputados federais. E Marina Silva da Coligação Unidos pelo Brasil composta de PSB (24), PPS (6), PPL (0), PHS (0), PRP (2) e
PSL (0) totalizando 32 dos atuais deputados federais.
Sabemos,
entretanto que a “coligação de hoje”
é a “traição de amanhã” e por isso
vamos considerar apenas os “casamentos
estáveis”, onde teríamos PT/PC do B/PDT com 121 deputados, PSDB/DEM com 72
deputados e PSB com 24 deputados, num total de 217 deputados que seguem “orientação partidária”.
Deste modo
os restantes 17 partidos, autênticos “bebês
políticos”, pois sempre estão no colo de “partidos adultos” e seus 287 deputados são antigos e experientes “mascates da política”. Exclui dessa
contabilidade o PSOL (3) e o PPS (6) por “respeito”
ao passado ideológico do primeiro e político do segundo.
A
análise simplista dessa condição, mais do que corrobora que nenhuma das três
chapas terá “condições de
governabilidade” sem se utilizar do hábito político tradicional de socorrer-se
do grande balcão de “negócios políticos”
do Congresso. O PT que tem a maior bancada da Câmara não ultrapassa 17% das
cadeiras e no Senado o PMDB com 19 cadeiras representa meras 20%.
Na Câmara
a maioria só se fará se o PT “cooptar”
o dobro da sua bancada e no Senado o PMDB pouco mais que outro tanto da atual. Ou
seja, qualquer que seja a opção terá “governo
de minoria”, isso sem a certeza que após a eleição PT e PMDB estarão ainda
coligados.
Outro ponto
que chama a atenção é a quantidade de partidos representados no CN num total de
vinte e cinco, coincidentemente o mesmo número dos “grupos do jogo do bicho”. Afinal a política é para todos e a
brasileira, na sua prática, bem que se enquadra entre a leve “contravenção penal” e os “crimes qualificados”.
Comprova-o a
quantidade de deputados federais, estaduais, senadores, vereadores, prefeitos e
governadores indiciados. Até um presidente escapou de investigação e
indiciamento para o “bem da
governabilidade”. Toda a “mulher de
César” por aqui sempre tem um dos pés no
Bataclan e pratica sua “tabela de
serviços”. Se não copula, faz ao menos “sexo
oral”.
Começamos
esta crônica falando de Noel Rosa, mas gostaria de retroceder a 1916 e falar de
Ernesto dos Santos, (Donga), que compôs “Pelo
Telefone”, a primeira gravação do Brasil segundo registros da Biblioteca
Nacional, onde cantava “pelo telefone, o Chefe da Polícia manda me avisar. Que
na Carioca tem uma roleta para se jogar”.
Data da Carta do
Descobrimento a prática de sinecuras na política brasileira e a escolha do
sistema de Capitanias Hereditárias só veio aumentar esta prática. Passou pelos
Vices Reinados e até o Reino Unido com a presença de Dom João VI por aqui e com
Dom Pedro I e sua “corte portuguesa”
consolidou-se.
Tanto o IIº
Império, como a República Velha dependia da “oligarquia
rural” e da dos “brasis distantes”
para governar e com Getúlio Vargas não foi diferente. Tivemos 21 anos de “período de exceção” e por isso temos
hoje escassos de 39 anos de práticas políticas mais democráticas, porém
mantendo a “velha forma política” da
Organização Partidária e o Voto Proporcional.
A
capacidade crítica política sarcástica do brasileiro sempre foi notável em
todos os tempos e isso não passava “em
branco” e a ela eram sensíveis para os políticos, contudo após os Governos
Militares, que censurava a Esquerda e agora que “governos democráticos” praticamente censuram a Direita, o
brasileiro acomodou-se, (acovardou-se).
O que se
pratica hoje não é a sátira de usos e costumes, mas apenas um denuncismo vazio,
que coloca em pé de igualdade “todos os
lados” sem resultados moralizantes práticos e principalmente “não indutores” de mudança, nem da parte
dos políticos e principalmente do cidadão. Tornamo-nos a “pátria do eu sozinho”
e o resto, que se “exploda”.
O Brasil que
nunca teve uma “identidade nacional”
e por isso jamais chegou a uma “vocação
nacional” precisa urgentemente investiga-la, descobri-la e adota-la sob
pena de esfacelar-se como “território
uno”, ideologicamente falando, e então mantendo esse distanciamento de
aspirações das muitas regiões desiguais, aceitar como imutáveis as atuais
práticas políticas.
A oligarquia
política sabe muito bem, que sua manutenção depende da sua capacidade de manter
as “aspirações nacionais” diversas e
desunidas e que o povo não se reconheça como que participando da mesma
nacionalidade. Ser brasileiro hoje é um acidente genético de nascimento e não a
convicção de contribuir para o sucesso de um mesmo Brasil.
Das três
grandes agremiações políticas fortemente organizadas no Brasil, só PT e PSDB
optam pela “luta hegemônica” pelo
Poder, enquanto o PMDB simplesmente aguarda a “rodada final” para “solidarizar-se”
ao vencedor. Temos ainda nesse páreo o PSB, (Marina
Silva, pois Eduardo Campos não era tão competitivo), que certamente por sua
“base de apoio” e força da estrutura
organizacional será o que terá mais dificuldades de “reunir uma maioria”.
Contudo, o “ideário partidário” brasileiro é sempre
muito flexível e sua bandeira pode muito bem ter de um lado uma estátua de
Lenin e do outro a Estátua da Liberdade.
Volto a Noel para
finalizar e com ele volto com a pergunta: Com
que roupa? O manequim que nos tem sido imposto e que usamos disciplinada e
estoicamente, (ou cinicamente),
teremos que decidir algum dia, se nos serve e é nele que nos sentimos “elegantemente democratas”.
Se a ele nos
conformamos, sugiro que pelo menos o troquemos por um mais moderno, como
cantava Miltinho nos anos 60, na inspiração de Haroldo Barbosa e Luiz Reis na
sua PALHAÇADA “Cara de palhaço, pinta de
palhaço, roupa de palhaço até o fim”.
Fonte:
Das vivências, percepções e pesquisas de
Antônio Figueiredo – De algum lugar entre a Bahia e São Paulo
Economista, Escritor, Empresário, Militante
Apartidário Parlamentarismo e Voto Distrital Puro. Ex - Ativista Movimentos
Sociais Católicos/ Metalúrgico/ Estudantil (1961/73). Operário da Cidadania
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