Quando a Mentira Governa!
Ainda que a saúde
mental só seja compatível com a verdade, a mentira nos acompanha desde sempre,
numa escala patológica. Claro, cada um tem seu limite ético nesta escala – até
o da insanidade plena.
Em qualquer País
civilizado estes limites ganham mais rigor quando o sujeito é levado a uma
função de Estado. Em boa medida vemos este rigor em cenas, estranhas para nós
brasileiros, que geralmente ocorrem no Japão ou nos Estados Unidos: um
envergonhado político faz o reconhecimento de suas mentiras, pede desculpas
públicas e sai da vida pública, ou, num limite também insano, até comete
suicídio.
A verdade ou a mentira
determinam os povos. A primeira, por mais dolorosa que seja, liberta e gera
sabedoria; a outra é mãe do obscurantismo, da tirania, da escravidão e da
corrupção.
É o caso torcer para
que o Brasil precipite logo a reversão deste curso. É o caso torcer para que a
presidente do Brasil comande e acelere o irreversível processo de ver as
verdades, e fazer ver.
Não é o caso deter este
tema frente à dialética de certa esquerda, segundo a qual mentir (ou roubar) é
valor relativo para os seus fins, porque seriam conceitos da “moral pequeno-burguesa”.
O homem tem conceitos
morais e éticos ou é doente. Ao eliminar limites, ao adotar o diversionismo
como ferramenta de governo, eles já mostram os sintomas de seus estados de
psicopatia, ou sociopatia. Os graus científicos desta insanidade vão de 1 a 23.
O serial-killer está acima do grau 18
apenas, e os demais estão entre nós, mentindo, encantando, roubando ou
governando. Ou, tudo isto ao mesmo tempo.
O Ministro da vez, na
marca do pênalti, diz: “Ele não pode
provar o que diz”, sobre seu companheiro de partido e denunciante da
corrupção. Esta estratégia lembra o fazendeiro que, perguntado pelo juiz do
trabalho se o reclamante havia ou não trabalhado para ele, responde: “Olha, doutor, ele trabalhou. Mas não pode
provar porque ninguém viu.”
A estrutura destes
mentirosos é “mentir até o fim, negar
sempre.” Alguns são extremamente inteligentes, outros menos. Um dos mais
inteligentes cometeu esta rara falha transmitida pela televisão, no
caso do mensalão: “Estou cada dia mais
convencido de minha inocência.” Ele, analisando o outro ele – que não reconhece –, como fazem os
psicopatas.
A cena política brasileira
tem disso, demasiadamente. Já há uma enorme boa vontade na sociedade, para com
a mentira. Ela milita por aqui com a similaridade da verdade – assim como o
demônio se parece com anjo. O diversionismo do mentiroso também tem feito muito
sucesso (“o tio do compadre do fulano
mentiu e sonegou impostos no século passado. Então, são todos iguais”).
Os mentirosos se dão
bem entre si, estejam onde estiverem. Podem estar em campos opostos, mas se
juntarão na primeira oportunidade. É só observar os proeminentes símbolos da
dissimulação e do proselitismo no Brasil. A teoria da ferradura se confirma,
pois os pontos se unem nos extremos naturais de cada um: a “habilidade”, o carisma e o poder.
As sociedades acabam
assimilando os mentirosos públicos e suas mentiras. Elas mimetizam os líderes,
inclusive o mentiroso, que então segue sua trilha insana e proclama todo tipo
de idiossincrasia, megalomania, ficção e fantasia – suas mentiras. É assim em
Cuba e Venezuela. Acabam criando verdadeiras “religiões” e se transformam em totens.
Líderes e governantes
determinam comportamentos e valores para os povos, e não o oposto. Eles
inoculam mentiras ou verdades, e manipulam pessoas, querendo ou não. Governo
corrupto (e mentiroso) gera povo
corrupto (e mentiroso), e não o contrário.
E cegos, porque a mentira passa a ser amada como verdade, pelo povo.
Uma pesquisa revela
que, no Brasil, quanto menor o grau de instrução menor o grau de importância
que se dá aos valores democráticos; e maior o grau de tolerância à corrupção:
57% dos que possuem até o ensino fundamental pensam assim, por aqui.
Triste o País que
tenha um governo sem qualquer natureza, ferramenta ou vontade de fazer com que
seus cidadãos pensem e sintam com mais qualidade, elaboração e discernimento
dos valores da real cidadania, que começa pela verdade. O exemplo de que não
mentir e não roubar não é um dado relevante pode ser o pior de todos os legados
de um governo.
É este o grande dano,
quando a mentira governa: derrete no DNA da sociedade, por gerações e gerações.
É preciso reverter este círculo vicioso, e desinventar a mentira de
Estado. Ela não pode ser o nosso vodu,
um certo jeitinho de governar: mentindo. E roubando. É o caso torcer para que a
atual presidente comece a fazer isso.
Convidado da Sala de Protheus:
Juarez Dietrich
@Dietrich_Juarez
Advogado, Master of Laws (LL.M) no
Insper,
pós-graduado em Processo Civil pela PUC-SP.
o Brasil (OAB) no Paraná. Publicou artigos nos
jornais Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo.
É autor da monografia (Insper) "Brasil, um País dois
Sistemas".
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