sexta-feira, 29 de maio de 2015


Quando a Mentira Governa!

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Ainda que a saúde mental só seja compatível com a verdade, a mentira nos acompanha desde sempre, numa escala patológica. Claro, cada um tem seu limite ético nesta escala – até o da insanidade plena.

Em qualquer País civilizado estes limites ganham mais rigor quando o sujeito é levado a uma função de Estado. Em boa medida vemos este rigor em cenas, estranhas para nós brasileiros, que geralmente ocorrem no Japão ou nos Estados Unidos: um envergonhado político faz o reconhecimento de suas mentiras, pede desculpas públicas e sai da vida pública, ou, num limite também insano, até comete suicídio.

A verdade ou a mentira determinam os povos. A primeira, por mais dolorosa que seja, liberta e gera sabedoria; a outra é mãe do obscurantismo, da tirania, da escravidão e da corrupção.

É o caso torcer para que o Brasil precipite logo a reversão deste curso. É o caso torcer para que a presidente do Brasil comande e acelere o irreversível processo de ver as verdades, e fazer ver.

Não é o caso deter este tema frente à dialética de certa esquerda, segundo a qual mentir (ou roubar) é valor relativo para os seus fins, porque seriam conceitos da “moral pequeno-burguesa”.

O homem tem conceitos morais e éticos ou é doente. Ao eliminar limites, ao adotar o diversionismo como ferramenta de governo, eles já mostram os sintomas de seus estados de psicopatia, ou sociopatia. Os graus científicos desta insanidade vão de 1 a 23. O serial-killer está acima do grau 18 apenas, e os demais estão entre nós, mentindo, encantando, roubando ou governando. Ou, tudo isto ao mesmo tempo.

O Ministro da vez, na marca do pênalti, diz: “Ele não pode provar o que diz”, sobre seu companheiro de partido e denunciante da corrupção. Esta estratégia lembra o fazendeiro que, perguntado pelo juiz do trabalho se o reclamante havia ou não trabalhado para ele, responde: “Olha, doutor, ele trabalhou. Mas não pode provar porque ninguém viu.”


A estrutura destes mentirosos é “mentir até o fim, negar sempre.” Alguns são extremamente inteligentes, outros menos. Um dos mais inteligentes cometeu esta rara falha transmitida pela televisão, no caso do mensalão: “Estou cada dia mais convencido de minha inocência.” Ele, analisando o outro ele – que não reconhece –, como fazem os psicopatas.

A cena política brasileira tem disso, demasiadamente. Já há uma enorme boa vontade na sociedade, para com a mentira. Ela milita por aqui com a similaridade da verdade – assim como o demônio se parece com anjo. O diversionismo do mentiroso também tem feito muito sucesso (“o tio do compadre do fulano mentiu e sonegou impostos no século passado. Então, são todos iguais”).

Os mentirosos se dão bem entre si, estejam onde estiverem. Podem estar em campos opostos, mas se juntarão na primeira oportunidade. É só observar os proeminentes símbolos da dissimulação e do proselitismo no Brasil. A teoria da ferradura se confirma, pois os pontos se unem nos extremos naturais de cada um: a “habilidade”, o carisma e o poder.

As sociedades acabam assimilando os mentirosos públicos e suas mentiras. Elas mimetizam os líderes, inclusive o mentiroso, que então segue sua trilha insana e proclama todo tipo de idiossincrasia, megalomania, ficção e fantasia – suas mentiras. É assim em Cuba e Venezuela. Acabam criando verdadeiras “religiões” e se transformam em totens.


Líderes e governantes determinam comportamentos e valores para os povos, e não o oposto. Eles inoculam mentiras ou verdades, e manipulam pessoas, querendo ou não. Governo corrupto (e mentiroso) gera povo corrupto (e mentiroso), e não o contrário. E cegos, porque a mentira passa a ser amada como verdade, pelo povo.

Uma pesquisa revela que, no Brasil, quanto menor o grau de instrução menor o grau de importância que se dá aos valores democráticos; e maior o grau de tolerância à corrupção: 57% dos que possuem até o ensino fundamental pensam assim, por aqui.

Triste o País que tenha um governo sem qualquer natureza, ferramenta ou vontade de fazer com que seus cidadãos pensem e sintam com mais qualidade, elaboração e discernimento dos valores da real cidadania, que começa pela verdade. O exemplo de que não mentir e não roubar não é um dado relevante pode ser o pior de todos os legados de um governo.

É este o grande dano, quando a mentira governa: derrete no DNA da sociedade, por gerações e gerações. É preciso reverter este círculo vicioso, e desinventar a mentira de Estado. Ela não pode ser o nosso vodu, um certo jeitinho de governar: mentindo. E roubando. É o caso torcer para que a atual presidente comece a fazer isso.

 

 

Convidado da Sala de Protheus:

Juarez Dietrich

@Dietrich_Juarez

Advogado, Master of Laws (LL.M) no Insper,

 pós-graduado em Processo Civil pela PUC-SP.

o Brasil (OAB) no Paraná. Publicou artigos nos

jornais Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo.

É autor da monografia (Insper) "Brasil, um País dois Sistemas".

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