quarta-feira, 20 de maio de 2015


#HistóriasVividas:

 

“Meu Pintinho Amarelinho...!”


“...Meu pintinho amarelinho
Cabe aqui na minha mão.
Quando quer comer bichinhos,
Com seus pezinhos ele cisca o chão.

Ele bate as asas,
Ele faz piu piu,
Mas tem muito medo é do gavião...!”

 

Galinha Pintadinha – Meu Pintinho Amarelinho

 

Ela sempre “fingia medinho”, cobrindo seus olhos com as mãozinhas, mas deixando entrever entre seus dedinhos seus olhinhos negros irrequietos à espera da minha reação. Esse era um perigo real, pois quando ela nasceu morávamos na fazenda e poucas eram as semanas em que não se via uma “choca” cheia de pintinhos correndo pelo terreiro. Contudo, felizmente os seus “pintinhos amarelinhos” sempre estiveram a salvo e assim nunca precisamos lidar com essa ameaça concretizada.

Sempre duvidei da eficácia ou da serventia pedagógica de estimular os “medos infantis”, pois sempre questionei: o que ensina fazer uma criança chorar? Na famosa canção “boi da cara preta” sempre cantava para ela, “olha essa menina que não tem medo de careta” e então ela sorria feliz. O medo é uma herança ancestral, que não precisamos exercitar, posto que já vêm, no “pacote da autopreservação”, da espécie.

O que sempre procurei ensinar aos meus filhos foi o reconhecimento dos perigos reais e ela ainda muito pequenina já reconhecia o chocalho de uma cascavel: “Toba” e saia correndo quicando na ponta dos seus pezinhos. Era exatamente isso que queria que ela aprendesse. A “noção exata” do perigo real, pois ainda que a cascavel tenha muito má fama, é uma cobra extremamente paciente e só ataca se fortemente ameaçada.


É desse aprendizado, que carece o “nosso pintinho verde-amarelinho”, pois pelo que se lê nas redes sociais, é que nossos céus estão infestados de “perigosos gaviões” e que a nossa “infantil democracia” corre riscos eminentes. Impressiona-me a quantidade de “Traficantes do Medo”, tanto à Esquerda, como a Direita, que por pura “burrice histórica”, desconhecem a solidez da Democracia Brasileira.

No século passado por 36 anos em 55 anos, (1930/45 e de 1964/85) estivemos sob dois regimes ditatoriais. Um civil, (Getúlio Vargas), apoiado por militares e talvez o mais repressor de todos os tempos e outro militar apoiado por civis, igualmente repressor e o que me pergunto é que se as “verdadeiras forças democráticas” nada aprendeu daqueles tempos?

Na realidade da Ditadura Vargas não existe hoje em dia uma “memória histórica” viva a testemunhar os horrores daqueles tempos e dos únicos protagonistas políticos que são lembrados só restaram Getúlio Vargas e Carlos Lacerda e mesmo assim atores políticos do Governo Vargas de 1950 a 1954, que já respirava “novos ventos democráticos”, ainda que fosse por influência dos militares recém-vindos da II Guerra Mundial, que aeravam o “pulmão nacional”.


Olhar para o Movimento de 1964 como uma exclusiva reação à ameaça comunizante é uma visão míope da História. Na verdade, a “elite militar” já sonhava de longa data com um “Brasil sob nova direção” e no novo cenário da “Guerra Fria”, para se sobressair dentro dos dois Grandes Blocos, (USA e URSS), sobrava espaço para “hegemonias regionais” e foi esse espaço que Golbery do Couto e Silva planejou ocupar e efetivamente ocupou. Só assim se justificam os “maciços investimentos” conseguidos e que mudaram radicalmente a infraestrutura do país.

O que tenho visto é uma quantidade imensa de “cabeças ocas” defendendo a “ideologia” como o “motor histórico”, seja pela Esquerda ou pela Direita. Como já dizia Bill Clinton em sua Campanha contra Bush Pai em 1992: É a Economia, estúpido. O mesmo poderia ter dito Karl Marx ao escrever o Capital, pois toda sua teoria se desenvolveu em cima de um “cenário econômico”. É a Economia que qual vento sobre o capinzal movimenta ondas em todos os sentidos e é a “onda principal”, que move uma “corrente ideológica”.

O Governo Fernando Henrique, (Itamar Franco), considerado por alguns como “neoliberal”, ainda que tenha propiciado o maior programa de “distribuição de renda”, (uma medida econômica), através do Plano Real, sucumbiu em 2002 por força da “crise da dívida” e o eleitor votou em Lula, não por conta de suas “pseudo-ideias socializantes”, mas pelo desânimo com a continuidade dos programas do PSDB.


O Governo Lula a rigor manteve todas as políticas econômicas herdadas, mas graças à bonança da Economia Mundial privilegiou fortemente programas sociais, além de conseguir evitar efeitos catastróficos à Economia resultantes da Crise Mundial de 2008 e isso he rendeu uma reeleição e a eleição e reeleição da sua sucessora Dilma Rousseff.

Contudo, foi o artificialismo das medidas econômicas entre 2010/14 e a maquiagem de dados econômicos postergando suas consequências para além de novembro 2014, que a levou a uma reeleição extremamente apertada. Agora em 2015 todo o “circo” desabou e com ele os índices de aprovação da “Presidenta” e do PT. É evidente que a dimensão dos escândalos também comprometeu a Economia e a integridade de muitas empresas estatais.

Idêntico ao que aconteceu em 2002, o Governo perdeu sua “capacidade de investir” no desenvolvimento e principalmente de manter e incrementar “Programas Sociais”. Existe uma falácia de que somente Governos de Esquerda tem a “preocupação social”, mas a meu ver “o bem-estar social” não é bandeira de nenhuma ideologia e sim o fim precípuo de qualquer Governo Eleito, pois foi para isso que foi eleito pela “grande massa sem ideologia”, que é quem efetivamente sustenta qualquer Governo.


A grande mudança a partir de 1964 foi conscientização e a valorização de uma classe média urbana, quanto aos seus direitos sociais e principalmente quanto às suas necessidades e direitos através da Educação. A mudança de atitude política é sempre precedida das mudanças de comportamento econômico, que por sua vez modificam o comportamento social.

Não importa se o Governo queira ainda tomar uma estrada, que conduza a uma Moscou, que não mais existe ou para Washington, que ainda continua lá. Antigamente dizia-se que “com cuspe e com jeito...!”. Hoje o cidadão comum avalia todo e qualquer governo pelo “ronco da barriga” e pelo “volume no bolso”, que tem sua carteira.

Em Moscou e Pequim também funciona assim hoje em dia, ainda que o “pintinho seja cor de rosa”.

 

 

 

Dos Entendimentos & Compreensões

E da história Vivida do Escritor e  Cronista

Antônio Figueiredo – São Paulo – SP –

Exclusivo para a Sala de Protheus

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