#HistoriasVividas:
Toco
Cru Pegando Fogo...!”
Garota você é uma gostosura
Foi proibida Pela
censura
Sai de perto de mim
Olhar prá você eu não posso
Me segura que eu vou ter um troço
Sai de perto de mim
Olhar prá você eu não posso
Me segura que eu vou ter um troço
Jackson do
Pandeiro – Me segura que eu vou ter um troço
Em
plágio ao que se lia em um cartaz colocado nos bares nos anos 50 e 60 do século
XX, esta crônica, (Fiado), é permitida apenas “para
maiores de 70 anos acompanhados de seus pais e com os documentos em dia”, pois
que é carregada de muitas memórias saudosas e saudades daquele “menor
aprendiz”, que corria pelas ruas paulistanas lá pelos anos de 1959 e 1960.
Ainda
que a vida de “boy”, (office e não play), fosse a dura realidade
diária de um andarilho maratonista, posto que as linhas de bonde e ônibus eram
ligações “centro x bairro” e por se contar apenas com duas linhas de
ônibus, (Circular e Estações), que pouco ajudavam a chegar aos destinos
que precisávamos ir, havia o fato de que para os “patrões” tudo era
perto e não merecia “dinheiro para a condução”.
Contudo, ter-se o “encantamento” de um
menino da periferia aos 14 anos e a liberdade de andar pelo “centro da
cidade”, que apenas víamos à distância no horizonte, era uma recompensa sem
preço, além de ser fascinante, curioso e divertido. Por isso toda e qualquer
distração pelo caminho exigia meninos correndo esbaforidos para evitar as “broncas
do chefe”.
Como resistir em
parar em frente as lojas de disco, que tocavam os últimos sucessos de “rock n
roll”, ou então para ver o vendedor de “óleo de peixe elétrico” com sua
jiboia enorme, ou o “tocador de realejo” com seu perequitinho, ou ainda
o pessoal do Exército da Salvação ou do Fogo Selvagem? Isso sem mencionar as
bancas de jornal com seus jornais e manchetes expostas, que sempre nos faziam
esticar os pescoços sobre ombros alheios.
O “paraíso da distração” era a Av. São
João, afinal era ali que estavam os mais importantes cinemas com seus cartazes
enormes, chamando para “Ben Hur”, “Quanto mais quente melhor”, “A
Bela Adormecida” e “Os Bravos Morrem de Pé”, enfim todos os últimos
sucessos de Hollywood, cuja grande maioria permaneceria em exibição por mais de
1 ano. Além de apresentações da “Mulher Macaco”, que ao final do
espetáculo fazia todo mundo sair correndo, ao quebrar as grades da sua jaula.
Mas a
grande sensação daquele ano foi o Faquir Silki, que em uma tenda no
Largo Paissandu, deitado sobre uma cama de pregos e acompanhado de cobras
dentro de uma urna de vidro, tentava um dos seus recordes mundiais de jejum.
Comentavam as más línguas na época, que na “calada da madrugada” dava
sempre um pulinho no Ponto Chic.
Mas quem já ouviu falar de Walter Pinto, Dercy
Gonçalves, Nicete Bruno, Bibi Ferreira, Renata Fronzi, Oscarito, Costinha,
Simplício, Carvalhinho, Zé Trindade, Colé, Marly Marley, Eloina, Salomé
Parisio, Virginia Lane e Lilian Fernandes? Quem já ouviu falar do Teatro de
Alumínio, ali em frente onde hoje começa a Av. 23 de Maio no Anhangabaú? Pois
bem, era ali que se concentravam as “mulheres
de parar o trânsito” e a Meca Paulistana do Teatro do Rebolado. (Teatro
de Revista).
Era
passando por ali, que todo “menor aprendiz” se igualava aos “adultos babões”,
que paravam para ver os pôsteres das vedetes “vestidas sumariamente”,
além de todos se deliciarem com os nomes provocativos dos espetáculos: Toco
Cru Pegando Fogo, Tem bububu no bobobó, Tem chique-chique na Lua
e por aí ia.
A verdade é que a saudade sempre tem um propósito
e não se presta exclusivamente à relembrança dos “bons tempos” passados
e para nos lamuriarmos do “bem” e/ou da “juventude perdida”. Para mim “relembrar”
é uma forma de catalogação comparativa entre o “como era” e o “como
é” e no que de bom tínhamos e que não conservamos. No que evoluímos, onde
estacionamos e o quanto “andamos com os pés voltados para trás”. Amo os
meus quase 70 anos, pois hoje nada valeria sem os 25.540 dias anteriores.
Foi graças a eles que reconheço o quanto o
progresso cobra, principalmente em termos de “espaços públicos”, pois
foi assim que perdemos o Teatro de Alumínio e principalmente a segurança em
caminhar por essa “via láctea” do entretenimento. Entretanto, há uma
perda irreparável e inconteste. Aquele “enxame de menores aprendizes”
que povoava as ruas, hoje os convertermos em “flanelinhas” e “cheiradores
de cola” maltrapilhos ocupando faróis e esquinas de ruas “sem futuro”.
O que é feito dos “nossos jovens” de hoje?
O que será desses “homens” no amanhã?
Das Vivências &Observações
De Antônio Figueiredo
Cronista – São Paulo – SP -
Nenhum comentário:
Postar um comentário