Na semana mais importante do Brasil
a reflexão do escritor Antônio Figueiredona Sala de Protheus:
Agora, Só Nos Resta VOTAR...
“...O povo de Brasil, só vai
aprender a votar,
quando aprender a pensar...!”
Adilson Santos
Apesar dos meus 69 anos esta é apenas a sétima eleição, em que me
apresento à urna para escolher o “meu
presidente”. De 1965, (aos 20 anos)
e até 1969, (quando completei 44 anos),
fui “roubado no meu direito”. Eu e
alguns milhões de brasileiros ainda vivos e atuantes politicamente da minha
geração e remanescentes das anteriores, que morreram sem voltar a votar.
Talvez muita gente não dê muita importância e provavelmente não tenha a
consciência, do que isto representa e que isso já tenha acontecido algum dia na
nossa história, da mesma forma que naquela época não sabíamos do ocorrido na “Era Vargas”, (1930/1945).
Então como é de hábito, vamos a um “pouco
de saudades” e relembrar alguns dos pleitos em que “não votei”, mas
“participei” e dos pleitos que “queria
votar”, mas as urnas “não estavam lá”
e isso me leva à “minha iniciação” em 1960. Com apenas 15 anos, era o final do
Governo Juscelino e cursava o 4º Ano do Comercial Básico, (atual 8ª Série), do SENAC em SP. Sempre é importante situar os
fatos segundo seu tempo.
Ainda que os Movimentos da Ação Católica da Democracia Cristã, (Franco Montoro, Plinio de Arruda Sampaio e
outros), já começassem a se evidenciar, essa politização ainda não aparecia
nas escolas de 1º e 2º graus. A grande maioria dos nossos professores eram “meros instrutores” e a Política era um “tema anódino”, ainda que pelas ruas
presenciássemos uma fervilhante campanha eleitoral. E o tema da Campanha em
1960 era..., a Corrupção.
De um lado a “chapa governista”
representada pelo Marechal Lott, tendo como vice João Goulart, que era o “escudo de JK”. Do outro lado a “vassoura higienista” de Jânio Quadros e
seu vice Milton Campos. O símbolo de campanha de Lott era uma “espada” e a de Jânio uma “vassoura” e assim aconteceu a batalha
da “espada contra o cabo da vassoura”. Para Adhemar de Barros o seu “trevo de 4 folhas” não deu sorte.
Naquele tempo não tinha PESQUISAS
ELEITORAIS, revista VEJA e nem HORÁRIO ELEITORAL OBRIGATÓRIO. A pesquisa
de intenção de voto era demonstrada pela quantidade de “povo no comício”. As denúncias de escândalos eram feitas
diretamente de cima do palanque à multidão e o horário
eleitoral era “toda hora” com o candidato
no "corpo a corpo" e "olho no olho" com o eleitor
nas ruas. Entretanto, os grandes comícios sempre acabavam por ter cobertura
radiofônica.
A
mobilização de eleitores fazia-se através da convocação em faixas anunciadoras
nas ruas dos bairros e a entrega de cédulas, iguais às que seriam depositadas
nas urnas. Os comícios eram feitos em praças públicas amplas e sem qualquer
preparação especial, que não fosse a colocação das “cornetas de som”, pelas
quais, algumas horas antes, já começavam a soar os “hinos de campanha”, gravados em discos de 78 RPM*, sempre com direito a muito chiado.
O
palanque via de regra era um caminhão com uma cobertura de lona. Mas o que
efetivamente era importante no comício era a “qualidade” dos oradores, pois a
retórica era a arma para ativar o “entusiasmo
popular” antes da apresentação e discurso do candidato principal. Lembro-me
em especial de Emilio Carlos, quem era o “aquecedor”
de Jânio Quadros. E, evidentemente, não podia faltar o “bêbado inoportuno” bem próximo ao palanque, para questionar o
candidato e fazer rir o povo.
Bons
tempos em que a Democracia era praticada e enchia as ruas e que apenas o
carisma de um líder era insuficiente para fazer “nascer um candidato”, pois a este sempre caberia “abrir a boca” e convencer o povo, pois
não existiam ainda os “marqueteiros”,
nem “propagandas photoshop” construtoras de imagem.
Depois
disso veio 1965. O Movimento de 31 de Março em 1964 tinha como pressuposto a “faxina política” na “extrema radicalização”, que vinha
acontecendo desde a subida de Jango Goulart à Presidência. O “discurso incandescente” de Leonel
Brizola, cunhado de Jango, que
prometia uma “organização paramilitar”, (“Grupo
dos Onze”), cobrindo todo o Brasil com o recrutamento de quase 1 milhão de
adeptos, (contas de Brizola), além
das Ligas Camponesas de Francisco Julião,
como “forças de resistência e suporte”
as “Reformas de Base” do governo.
Entretanto,
foi à indisciplina hierárquica dentro das FFAA, principalmente dentro da
Marinha, (Almirante Aragão e a Revolta
dos Marinheiros através do Cabo Anselmo em um discurso escrito por Carlos
Marighela), que arrastou o Alto Comando Militar para o “golpe” e que a princípio atendeu aos reclamos da sociedade, pois
havia o compromisso de Eleições Gerais Livres em 1965.
Houve
intensa mobilização ao redor das candidaturas de JK, (construtor de Brasília), Carlos Lacerda, (remodelador do Rio de Janeiro) ex-governador recente da Guanabara, (Estado criado com mudança do Distrito
Federal para Brasília), Jânio Quadros e Leonel Brizola. Contudo, o Comando
Militar decidiu-se pela suspensão das eleições e a cassação dos postulantes.
Essa foi à primeira eleição, que me roubaram.
Seguiram-se 18 anos de “suspensão dos direitos políticos” do
eleitor brasileiro na escolha dos seus Governadores e Prefeitos, (1982), pois
até então eram indicados os “biônicos”
pelos Governos Militares. Essa “abertura
política” fez crescer a eclosão do movimento Direta Já, (1986/9), quando
tivemos a última demonstração pública civil de que queríamos voltar a decidir
nossos rumos por “vontade popular”,
quando milhões participaram em comícios na Praça da Sé, (SP) e Candelária, (RJ).
Hoje queremos uma “Democracia sem povo” e aconchegados no “colo” de um sofá e discutindo as
propostas dos candidatos com os “pets”
de estimação, pois no mundo moderno, vizinhos não se conhecem e não falam com seus
vizinhos de porta, até mesmo em condomínios de apartamentos. É só prestar a
atenção aos “grupos isolados”
dividindo a “churrasqueira condominial”
nos finais de semana.
Muitos
podem questionar que este é um “estilo de
vida global”, mas vejamos o estilo da Democracia Americana. A apresentação
dos candidatos postulantes à Presidência é livre, mas devem passar pelas “Primárias”, isto é, pelo crivo do “eleitor” filiado ao Partido, seja
Republicano ou Democrata nos diferentes Estados da Federação.
O
vencedor ganha o “voto cativo” desses
“delegados distritais” para a
Convenção Nacional do Partido, donde sairá o “candidato oficial”, pela contagem majoritária dos votos dos delegados.
As “primárias” começam 10 meses antes
e a Convenção Nacional dos Partidos é feita a 5 meses da Eleição Presidencial.
Ou seja, o debate eleitoral começa prática e oficialmente há quase 1 ano antes das
Eleições.
A
“força” da Democracia Americana
reside na capilarização dos Partidos Democrata e Republicano por todos os
Condados e Estados Americanos e no Voto Distrital Puro e Majoritário dentro
deles, que é a única maneira em que os cidadãos estão devidamente representados.
São permitidos partidos a nível local, mas para eleições nacionais é exigida
uma “estrutura nacional”. Em pequenos
Condados é permitida a “gestão
profissional” de um Prefeito.
O mandato do Senador é de 6 anos e o dos Deputados Federais, (Câmara dos Representantes) é de 2 anos
e somente a cada 4 anos coincidentes com a Eleição Presidencial, (ou seja, uma obrigatoriamente é no meio do
mandato presidencial) e para concorrer o Representado deve possuir a “cidadania americana” nos últimos 7
anos.
A quantidade de “vagas por Estado”
é proporcional à sua população, que é revisada a cada 10 anos pelo Censo
Nacional, sendo garantido o mínimo de 1 representante por Estado, mas o
Representante nunca pode representar menos de 30 mil eleitores, pois os “Pais Fundadores”, (pais da Pátria) há mais de 300 anos sempre priorizaram a
importância da “representação popular”
nas decisões do Congresso.
Todos os Presidentes
Americanos desde o início do século passado (exceção
a Eisenhower) saíram da Câmara de Representantes do Congresso Americano.
Teríamos
algo a aprender com eles?
Desgraçadamente, no Brasil, nascemos órfãos de “Pais da Pátria” e a minha experiência pessoal, (órfão aos 14 anos) e de milhares de
brasileiros para quem sempre foi decretado que, “quem herda, herda e quem não herda fica na merda”, que mesmo assim
“subimos socialmente” contra todas as possibilidades e só o fizemos pela “força
interna da mudança”. No fundo o que
temos em nada são explicadas pelos “slogans eleitoreiros”.
Temos
mirado na direção errada todos estes anos e as estruturas partidárias
dissociadas da vontade dos eleitores, algumas oligarquias centenárias e outras
mais recentes, nos enfiam goela abaixo “qualquer
coisa” e para isto tem bastado um bom “vendedor
de bom brill de mil e uma utilidades”. Temos votado com medo de perder o “muito pouco”, que temos, correndo o
risco de perder o principal: nossos direitos democráticos e até a liberdade.
Não
se esqueçam nunca: que o Legislativo está lá, como Poder Constitucional
Independente para “fiscalizar os Atos do
Executivo” e não para “associado”
dividir o “butim do assalto aos cofres
públicos”.
Vote
em quem julgar mais habilitado para o exercício da Presidência, ainda que sob “forte emoção”, mas para o Congresso
Nacional “vote com a razão” em
pessoas, que vão fiscalizar o uso correto do “seu dinheiro” pago em impostos, para em troca receber “serviços” de qualidade, que são seu
direito constitucional e que aos mais desassistidos sejam garantidas as “políticas assistencialistas”. Isto é
constitucional do Estado e não “um favor”
de Governo.
Converse
isso com sua diarista, motorista de taxi, serventes, pedreiros, faxineiros no
seu trabalho e condomínio, camelôs nas ruas, centros comunitários nas igrejas
ou nos campos de futebol. Seja um cidadão, que protege e luta por seus
direitos, entendendo as necessidades dos mais vulneráveis. Caso contrário,
passe o resto da sua vida falando mal dos “excluídos”,
que se vendem pela Bolsa Família,
principalmente os “paraíbas ou baianos”
e “nordestinos em geral”.
Eles
são os “culpados”.
Ai
você poderá pousar sua “consciência
tranquila” no seu “travesseiro de penas”,
cuja maioria não será de ganso.
Bom
voto, cidadão brasileiro!
*Nota do
Editor - 78 RPM (rotações por minuto)
eram discos de metal, - também chamados jingles - e tocavam a esta velocidade e
que depois foi substituído. Foi utilizado pelas emissoras de rádio até o final
dos anos 70.
Antônio Figueiredo – Entre Algum Lugar entre a Bahia e São Paulo
Economista, Escritor, Empresário, Militante
Apartidário Parlamentarismo e Voto Distrital Puro. Ex - Ativista Movimentos Sociais
Católicos/ Metalúrgico/ Estudantil (1961/73). Operário da Cidadania
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