“Alçou Voo...”
“... Ela era
um anjo, e anjos não pertencem a Terra...!”
Caio F. Abreu
Quando
escrevo isto é um sábado nebuloso, aguardando a chuva que os produtores tanto
se alegram... É véspera do dia das crianças que me alegra mais ainda... É
véspera de Nossa Senhora Aparecida (que
amadamente, na intimidade, chamo de “minha Santa Nega”), a padroeira amada
do Brasil.
Confesso não sou religioso. Mas como bom reikiano, tenho uma fé inabalável... Poucas coisas me
tiram do eixo de minha existência... De minha verdadeira missão enquanto
humano... Algumas delas são exatamente ver uma criança chorando... Sofrendo...
Foi neste dia que ao abrir meu correio eletrônico encontro uma mensagem dizendo
tão somente:
“... A
noticia que vou dar é a pior da minha vida... Nosso anjo nos deixou na
terça-feira... Alçou Voo...!”.
A pequena
e entristecedora noticia vinha de uma amada amiga, cuja irmã – sofrendo há algum tempo da doença mais
devastadora que o ser humano conheceu o câncer – Devastadora por que é como se dissesse: “ ... vou te levar aos poucos...!”.
E assim foi para
este anjo lindo. Sim lindíssima. Não a conheci pessoalmente... Mas a sentia.
Por sua irmã recebi uma foto dela sorrindo, quando ainda em tratamento, sem
cabelos.. Sim carequinha como veio ao mundo, sorrindo parecia brilhar... Estava
com uma beleza divinizada tão brilhante que deixava seu belo rosto ainda mais e
incrivelmente maravilhoso para quem
olhava aquela foto. Lembro-me de tê-la deixado, a foto, como imagem no
computador muito tempo... Para apreciar aquela beleza humana tão
esplendorosa... E para lembrar-me das sutilidades e fragilidades de nossa
própria vida... O quanto temos que aproveitar cada segundo em que,
saudavelmente, reclamamos de qualquer coisa... Não gostamos de coisas simples e
queremos o complicado... Não amamos quem está perto e geralmente queremos o que
é inatingível... O que está longe.
Peguei-me diversas vezes,
interrompendo meus escritos... E como em busca de inspiração olhava para a foto
deste “anjo terreno” e sentia sua
força... Sua beleza tanto física... Quase me mandando mensagens de seu
espírito.. De sua alma pura...
Perdão a
pessoalidade... Perdoem-me esta humanidade talvez demasiada, mas, meu pensador
preferido dizia que quando estamos assim fragilizados pela perda de um ser tão
especial, estamos envoltos em nossa humanidade mais pura (Nietzsche)... Mas
fiquei egoistamente arrasado, mesmo sabendo que este dia chegaria... Sabendo?
Sim, sem
arrogância, mas sua amada irmã e minha amiga de alma sempre me informava como
estava aquela a quem senti e a chamava de “anjo
terreno”. Olhei para o céu nebuloso de
sábado e não contive lágrimas que teimaram, que foram mais forte que
minha pseudo razão para aquele momento... E a frase lida... Parecia-me ter sido
dita... Ouvida... Pois ecoava aos ouvidos...
“... Nosso anjo alçou voo...”.
Sim, assim com reticências... Sem ponto... Sem final...
E olhando para as nuvens como se a procurasse... Como se eu pudesse vê-la...
Voando singelamente... Brincando em meio às nuvens sorridente... Tal qual a
foto na tela do computador... Aquele sorriso de menina inocente... Linda...
Brilhante.. Agora estava voando... Retornando à sua origem.
O
mesmo pensador costumava dizer: “... O gosto de minha morte na boca deu-me perspectiva
e coragem. O importante é a coragem de ser eu mesmo...!”. Não foi a minha, mas senti-me como se tivesse perdido algo
importante... Algo que nunca tive. É possível? Sim. Aprendi a valorizar e ter
coragem de enfrentar todos os percalços da vida, mesmo com muito mais anos que
este “anjo”, exatamente pelo exemplo
que ela deu em vida... Que ela mostrou enfrentando tal qual guerreira cada
passo de sua jornada de jovem mulher, extremamente bonita... E com câncer.. Ela
me ensinou que minhas pequenas dores são tão ínfimas que não devem nem ao menos
serem reveladas que dirá sentidas ou manifestadas enquanto alguém enfrenta,
sorridentemente, algo tão atroz...
“Nosso Anjo alçou
voo...!”.
Certamente esta frase vai ecoar alguns dias em minha mente... Vou olhar
para o céu e... Tentar encontra-la dançando entre as nuvens... Com o mesmo
sorriso, mas agora sem nada para atrapalhá-la.. Sem câncer... Só perfeição...
Como ela... Só generosidade extremada verificada e sentida por toda sua família
com sua doença e quem os confortava era ela própria.
“Nosso anjo alçou voo...!”
Vá anjo... Retorne a sua originalidade
perfeita... E se puder se não for assim demonstração de minha fraqueza
humana... Assim muita imperfeição... Por favor, vez por outra olhe para nós...
Só um pouquinho... E, lance através de seu sorriso lindo um pouco de toda tua
força... De tua energia divina sobre nós tão pequeninos... Tão fragilizados e
na maioria das vezes nos achando com tanta importância quando não temos nenhuma
se comparada a luta que deixou como exemplo para cada um de nós.
Continue... Vá... Voe... Não nos
esqueceremos de você tão facilmente Vivian.
Voe
Vivian... E por favor, novamente, nos ame... Precisamos em meio a nossa
pequenez...
Voe
Vivian... Seja agora e eternamente o que foi aqui em sua vida terrena... Um
Anjo!
Bênçãos... E voe Vivian...
Em homenagem a um ser, enquanto
humano,
exemplo de luta e de vida... Vivian
Gurgel – Pará.
Nenhum comentário:
Postar um comentário