Eu Sou Desclassificado!
“... O homem é uma corda estendida entre o
animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso
caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é de grande
valor no homem é ele ser uma ponte
e não um fim: o que se pode amar no homem é
ele
ser uma passagem e um ocaso...!"
Nietzsche
Os dias
continuam, no sul, entre o inverno que parece não querer desistir nunca, as
chuvas cujas, os agricultores dizem
“nunca serem demais”... O florido de uma primavera antecipada... A política
dita “nacional” quase uma “coisificação”.
Enquanto meus
pensamentos perdiam-se neste emaranhado da rica e perfeita natureza e a
imperfeição humana, chega um amigo.
Eis algo
sempre necessário. De cumprimentos e curiosidades do dia a dia de um sobre o
outro o assunto sofre uma pausa...
Meu amigo
ergue os olhos para cima, como a buscar algo de significativo e simplesmente
diz:
- Eu sou um
desclassificado!
A afirmação
pegou-me, confesso, de surpresa. Afinal estava diante de um homem que se pode
dizer vivido, trocou sua profissão – em
nível federal – de altíssimo poder e ganhos, por outra mais inferior, porem
que lhe propiciou viver muito melhor-. Tinha além de bela, uma esposa
inteligentíssima e companheira em todos os sentidos. Ambos apreciadores de uma
saborosa cerveja.
De uma
cultura um pouco atípica para seres que encontramos todos os dias, este meu
amigo, posso afirmar inteligentíssimo causou-me embaraço ao não saber como
continuar sua afirmação.
Pretensiosamente
pensando estar ele jogando-me um aforismo, lembrei-me imediatamente de Carlos
Drumond de Andrade quando afirmava: “Ninguém
é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar”.
Enquanto
me perdia em alguns pensamentos buscando uma forma de continuar o diálogo. Ele,
por sua vez, voltava os olhos para mim, como se esperando um questionamento.
Não o fiz. E
ele continuou:
- Meu amigo:
Sim, cheguei à conclusão que sou um desclassificado. Não me encaixo em
classificação alguma.
Entre
estranheza de tão profunda afirmação e uma tentativa vã de encontrar uma
ligação com o mundo deste sábio amigo, não me contive e saiu... Automaticamente:
-Explique,
por favor... Sem me dar nó no cérebro...
E ele
pacientemente continuou.
-Veja bem:
Eu não me encaixo em nada do que existe atualmente em conceituação.
Politicamente,
não sou esquerda nem direita, prefiro
fazer gol de cabeça, metaforizou ele, com um breve sorriso e continuou:...
Até porque em nosso amado Brasil não tem esta “coisificação” de esquerda e direita... Só interesses.
Como homem
não sou um ser sábio, inteligentíssimo, um filósofo... Mas também não gosto de
me encaixar em uma pessoa dita “comum”...
... Como
homem não preciso de outras mulheres tem uma que me “atura” (literalmente a
relação dos dois é algo de causar inveja de tanto amadurecimento encontrado
entre dois seres).
- Como
profissional não tenho “títulos”
apenas trabalho... Em algo que gosto... E que me garanta uma sobrevivência.
Como
homem, novamente, não sou alguém a quem pode-se chamar de bonito, de um verdadeiro
gentleman (termo utilizado por ele, mesmo
que humildemente, pois é um cavalheiro de fato).
Neste
momento penso estar ele em uma espécie de “crise
existencial”.
Enganei-me
novamente.
Lá veio a
resposta mesmo em questionamento algum
Não estou preocupado em
nada da existência atual, fora o que faço, os poucos amigos que tenho, minha
mulher que não preciso de mais nenhuma outra... Meus prazeres – que é degustar uma boa cerveja – (só toma
cervejas artesanais)... No resto da dita sociedade... (faz uma breve pausa) parece-me não haver nenhuma classificação a
qual me encaixo.
Então, por
consequência Eu sou um “desclassificado”.
Nada do
que tem aí de rotulação ou titulação me serve... Não preciso delas... E quer
saber a verdade? Nem deles.
O que
preciso é de alguns poucos amigos.
Neste
momento, ao final desta frase, levanta-se. Pede que eu faça o mesmo e diz:
- Posso te
dar um abraço e um beijo?
Minha ação
foi também repentina e automática. Levanto-me estendo os braços e ele me abraça
fortemente e me beija na face e simplesmente diz:
- Ah, esqueci-me
de uma coisa e não sei se isso é classificação: Sou teu amigo e amo você. Boa noite!
Simplesmente
vira-se e sai com seu cálice de cerveja à mão (sim, toma cerveja em cálices especiais para cada tipo de cerveja).
Aquele
discurso e a ação daquele amigo deixaram-me com os pensamentos em polvorosa...
Sentei-me
frente a minha mesa de escrever... Emocionado... Confuso entre mil buscas que
meu “Google” interior não achou
resposta nenhuma.
Respiro
fundo e chego a uma conclusão:
Também sou
um desclassificado. Não sou apegado a rótulos. Não os aprecio. Por isso talvez
não os tenha. Prefiro ser... Assim... Um simples ser vivente... Observador... E
nestas observações aprender com seres sábios... Vividos... Experientes... E de
suas experienciações tirar algo que acrescente a minha ignorância algo de
bom... Algo de divino.
Tem razão
bom amigo... Sou um desclassificado.
Transpirado de meu amigo
Amauri...
De minhas interações e compreensões da vida.
Entendimentos, Compreensões e Pensamentos da Madrugada.
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