Psicanálise Política!
"...Não se cogita a repressão total das
tendências agressivas do homem:
o que podemos tentar é canalizar
essas tendências para outra
atividade que não seja a guerra...!"
Freud
Talvez “Esquerdo Caviar” (livro do Rodrigo Constantino) seja um título exagerado e provocativo demais, quem está no comércio sabe que ninguém come a casca da laranja, mas é ela que garante a carona da fruta para a casa do consumidor. O apelo comercial é evidente, assim como eficaz na instigação, talvez esteja fazendo muita gente coçar a cabeça na livraria, especialmente a turma do senso comum barulhento, que adora só um lado da bibliografia, mas se diz defensor da liberdade e da diversidade.
Quem se leva minimamente a sério
pouca importância dá ao rótulo, só interessa o recheio, mas nada impede se
valer da curiosidade frágil do ser humano para fazê-lo pensar, especialmente
sobre si mesmo. Ao se discutir ideias, há necessidade de marcar território, na
impossibilidade de imitar os cachorros, usa-se o mesmo marketing barulhento que garantiu a contaminação intelectual no
mundo, cujos reflexos vão, desde as sociedades tidas, tradicionalmente, como
conservadoras, até as relações pessoais básicas (filhos e pais, marido e mulher, irmãos e outros...).
Marketing é provocar e fazer
pensar, filosofia mercantilista do título de autoria do economista escritor,
mas também muito bem absorvida pelo grupo
Porta dos Fundos, que hoje colhe os frutos (notoriamente lucrativos) da liberdade de expressão ainda existente
no Brasil, apesar da vigilância ostensiva do senso comum.
“Esquerda Caviar”
ofende somente quem quer ser ofendido. Alguns esquetes da Porta dos Fundos, também ofendem, mas somente quem quer
ser ofendido. Ambos se valem da liberdade para provocar ideias, um, na
discussão política, outro, na comédia, ainda que ambos os ramos da filosofia
andem entrelaças desde a origem, na Grécia antiga.
Provocam mudança de
sentimentos e comportamentos, exigem energia intelectual e devem ser vistos
também como eventos psicológicos. Aliás, psicoterapia nada mais é do que uma
relação política de inoculação filosófica com fins terapêuticos.
De
qualquer forma, parece que o admirável, criativo e talentoso ator Gregório Dudivier e o já celebrado ator Herson Capri, deixaram-se picar pela
provocação, ofendidos, adjetivam os debatedores, seja lá quem fossem, ainda que
jurem não usar o mesmo artifício provocador nos seus esquetes ou espaços na
mídia.
Entretanto, justiça seja feita, na coluna do
dia 20 de outubro, na Folha de São Paulo,
apesar da perversa referência ao agressor da Luana Piovani (usando um nome próprio como adjetivo), fato repetido no dia seguinte
pelo mais experiente Herson Capri no
O Globo, aparentemente, existe uma centelha de evolução psicológica nos
admiráveis atores.
Não
precisa ser muito dado à política para verificar que existem duas correntes de
esquerda dominantes no mundo desde o final da Segunda Guerra Mundial. A
contaminação das ideias socialistas/comunistas
no meio intelectual foi crescente e muita gente boa usou da sapiência para
evoluir na discussão das mesmas ideias.
Por conta do resultado do conflito,
alguns passaram a reconhecer que certo nível de conservadorismo é essencial
para a tal justiça social. A conservação da democracia com instituições de
Estado independentes, poderes equivalentes e instrumentos fiscalizadores entre
si, com representatividade popular, passou a serem acolhidos como garantia da
liberdade individual, assim como esta uma das formas mais eficazes de
crescimento econômico, onde as relações de comércio fundadas na livre
iniciativa são meios civilizatórios, pacificadores e promovem a tão buscada
justiça social (Adam Smith).
Por outro lado, tem uma esquerda parada no
tempo. Ela ainda acredita que a política começou com Rousseau e todas as
teorias de Marx só comportam uma interpretação. Ainda que nada do que se revela
coerente na teoria tenha oferecido reflexos práticos nos grupos sociais que
passaram pela experiência. Fato estanque, especialmente com a relativização das
instituições da República, da livre iniciativa econômica e individual, em favor
do bem comum igualitário, definido por um grupo seleto que nivela e submete os
indivíduos a um “pensamento coletivo”.
Naquela,
a psicanálise política forçada com o advento da Segunda Guerra Mundial,
provocou autocrítica e confronto das próprias deficiências como uma forma de
aprendizagem e evolução, amadureceu a ideologia. Nesta, simplesmente aceitar o
fato de que, não fosse o “ultra”
conservador Winston Churchill, talvez
o oeste americano estivesse falando japonês e o leste alemão, parece uma
heresia digna da fogueira. Mas, apesar da façanha política de colocar no mesmo
ambiente Roosevelt e Stalin, Sir
Churchill prontamente deu posse ao adversário trabalhista nas eleições
havidas após fim da guerra, ou seja, garantiu a democracia com alternância de
poder, ganhou a guerra e foi derrotado nas regras que defendia, sem mágoa ou
ressentimento.
Um lado da esquerda aceitava a aproximação com
os liberais conservadores, especialmente quando se tratava de economia,
enquanto outra permanecia irredutível na intervenção estatal mais ampla. Ou
seja, um lado entendeu as mudanças do mundo, amadureceu, reconheceu alguns
equívocos e passou a lutar também por instituições mais sólidas, menores gastos
estatais e inclusão social através dos mecanismos de mercado, com interferências
pontuais para manter o equilíbrio entre as relações e as contas públicas, cuja
função é promover o bem-estar social.
No Brasil, cartilha do FHC, nos
Estados Unidos, todos democratas desde Roosevelt até Obama (não por acaso, todos de esquerda).
Já, a “outra esquerda” se nega a rever
conceitos, afinal, crescer dói, quem se lembrar da adolescência sabe.
Permanecem revoltados contra nem bem sabem mais o quê, precisam do conflito
para ter consistência retórica, quando chegam ao poder, na falta de quem ferir,
sobra para as instituições do Estado, contaminam os poderes independentes,
impõem condutas igualitárias sob o pretexto de luta social, pervertem a ordem e
a democracia. Ou seja, típico comportamento autodestrutivo do adolescente que
vai passando da idade sem confrontar as próprias deficiências e fugir das
responsabilidades. O pior, usando ainda o discurso da tolerância para impor sua
intolerância à liberdade individual.
Triste, mas
acontece e, num país com eleições a cada 2 anos, a democracia se transformou em
masturbação política raivosa que se
alivia na chance do combate com inimigo existente, nessa acepção, a Venezuela
ainda é uma democracia, onde só um lado goza
o prazer ganhar a eleição e governar.
Mas justiça seja feita, a esquerda madura consegue discernimento
para reconhecer que Aécio é tão de esquerda quanto Dilma, outra parte não
consegue nem ver que Obama é de esquerda, estes ainda darão trabalho aos seus
terapeutas. O Gregório Dudivier e o Herson Capri nem tanto.
Na psicanálise política, ainda que o processo terapêutico seja gradual e
lento, o processo de amadurecimento e confronto com as próprias concepções
equivocadas exigem alguns passos básicos. O primeiro é descobrir a origem e
externá-la. Talvez os fantásticos artistas nem tenham terapeutas formais,
afinal, dificilmente aceitariam ajuda de um profissional LIBERAL, talvez um médico cubano os atenda. Mas o fato é
que os espaços que ambos ocupam na mídia, quando abordam de política, talvez estejam
promovendo resultados psicoterapêuticos interessantes.
No texto
confessional de ambos, resta confirmado o diagnóstico do Dr. Luiz Felipe Ponde (...) na adolescência é natural a rebeldia e
qualquer teoria revolucionária é adequada para a mente confusa em formação
(...), coisa que parece que Herson
ainda não ter ultrapassado na sua ideologia política, quanto ao Gregorio, talvez pela idade, a confissão
oferece ainda mais detalhes ao divã do leitor, refere um encontro com FHC na
residência de sua mãe, onde esta teve um comportamento repressor com a minoria
segregada, diga-se, o filho, simplesmente por este não estar de acordo com a
formalidade do momento. Pobres meninos, que hoje confessam os traumas ainda não
superados, aliviam a revolta adolescente e, na fase seguinte, talvez sejam
capazes superar a violenta mácula ideológica provocada, um pela mãe e outro
pela fuga de Jango.
Quem sabe
até descobrirão que existe uma esquerda madura no mundo, que permite debate de ideias;
que o adversário político não é inimigo; que o Estado Democrático é respeitado;
que as instituições básicas do ente público são conservadas para o bem comum e
que a liberdade individual é muito mais compatível com bem-estar social do que
qualquer outra ideia igualitária.
Parabéns aos atores, pelos textos identificaram a origem
da imaturidade política, talvez se a mãe fosse liberal, respeitaria a liberdade
individual e valorizaria muito mais a companhia do filho do que a casca que o
revestia, mas por hábito raivoso da
esquerda, reprimiu com energia a atitude infantil, colocando-o ainda mais à
esquerda que ela mesma. Talvez se aquela esquerda
raivosa tivesse tomado o poder quando Jango saiu, hoje seríamos Cuba e
ambos estivessem sem liberdade expressão, pelo menos ficariam livres de expor
suas fragilidades pessoais.
No entanto, pela
liberdade, a centelha de evolução, amadurecimento psicológico da ideologia
política acendeu, ainda que tímida. É o primeiro passo da caminhada terapêutica
que terão pela frente, talvez um dia se descubram discutindo ideias sem
egocentrismo, nem mesmo se valer do coitadismo
para externar suas posições políticas e fique menos evidente a falta de
maturidade política.
Não só
para os atores, mas também para essa esquerda
agressiva do PT que se nega a reconhecer as deficiências (arrogância) e nem mesmo aprende com as
virtudes (esquizofrenia), onde o Sr. Luís Inácio foi eleito com o
discurso do “Lulinha paz e amor”,
governando com empatia e boa vontade até de adversários políticos, mas cujo
comportamento se revelou um engodo e nem ele consegue mais consegue se
identificar no narcisismo reinante na sua personalidade, mas aí o caso exige
tratamento psicoterápico drástico, com baixo risco de recuperação.
E,
na falta de um verdadeiro liberal com eco
político e social para moralizar essa bagunça, vimos a disputa para ver
qual dos candidatos é mais de esquerda, valendo-se da ignorância coletiva para
que sejamos obrigados a votar em quem, talvez, seja a esquerda madura.
Entendimentos & Compreensões de um Brasil Atual
Dos meus diálogos com o Jurista Michael Chehade - RS -
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