Ai, Miserável de Mim e Infeliz!
“... Quem luta com monstros deve velar por que, ao
fazê-lo,
não se transforme também em monstro. E se tu
olhares,
durante muito tempo, para um abismo,
o abismo também olha para dentro de ti...!”.
Friedrich Nietzsche
Estamos vivendo momentos tão diferençados do que pensamos, sonhamos ou
julgávamos que chegariam que se torna difícil descrever o que temos e para onde
vão.
Mero exercício filosófico?
Não. Apenas tentando entender a realidade. A atualidade. O momento em
que parece que um povo inteiro não sabe o que fazer nem para onde ir. Não se
confia mais nos administradores – em todas as esferas – e seus valores (estes
já considerados antigos e arcaicos, mesmo sendo redundante), que ele se
considera um ser sem solução.
Não há necessidade de descrever tais atos e suas consequências. Basta
olharmos as ditas “redes sociais” ou as informações que estão surgindo,
cada vez em maior quantidade e com pouca qualidade, naquilo que ainda
conseguimos chamar de imprensa séria.
Mas como manifestar o pensamento do cidadão brasilês atualmente?
Fui buscar no grande escritor e poeta espanhol Pedro Calderón de La Barca, uma espécie
de explicação para as manifestações que o Brasilês tem dentro de si e não
consegue expor.
Mantenho,
na integra e na originalidade a obra do grande poeta espanhol. Não tentei
trazer alguns termos para nossos tempos para não perder a originalidade.
Portanto alguma dificuldade, não adianta procurar em dicionários, estes já
foram modificados no Brasil. Poderá buscar em dicionários espanhóis.
Mas
o que interessa é seu pensamento dito há mais de um século e completamente
atual.
Disse
o poeta:
Apurar, ó céus, pretendo, já que me tratais assim, que delito cometi, contra vós outros, nascendo; que, se nasci, já entendo qual delito tenha cometido: bastante causa há servido vossa justiça e rigor, pois que o delito maior do homem é ter nascido.
E só quisera saber, para apurar males meus deixando de parte, ó céus, o delito de nascer, em que vos pude ofender por me castigardes mais?
Não nasceram os demais?
Pois se eles também nasceram, que privilégios tiveram como eu não gozei jamais?
Nasce a ave, e com as graças que lhe dão beleza suma, apenas é flor de pluma, ou ramalhete com asas, quando as etéreas plagas cortam com velocidade, negando-se à piedade do ninho que deixa em calma: só eu, que tenho mais alma, tenho menos liberdade?
Nasce
a fera, e com a pele que desenham manchas belas, apenas signo é de estrelas
graças ao douto pincel, quando atrevida e cruel, a humana necessidade lhe
ensina a ter crueldade, monstro de seu labirinto: só eu, com melhor instinto, tenho
menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira aborto de ovas e lamas, e apenas baixel de escamas por sobre as ondas se mira, quando a toda a parte gira, num medir da imensidade com tanta capacidade que lhe dá o coração frio: só eu, com mais livre-arbítrio, tenho menos liberdade?
Nasce o rio, uma cobra que entre as flores se desata, e apenas, serpe de prata, por entre as flores se desdobra, já, cantor, celebra a obra da natureza em piedade que lhe dá a majestade do campo aberto à descida: só eu que tenho mais vida, tenho menos liberdade?
Em
chegando a esta paixão um vulcão, um Etna feito, quisera arrancar do peito
pedaços do coração. Que lei, justiça, ou razão, nega aos homens - ó céu grave!
Privilégio tão suave, exceção tão principal, que Deus a deu a um cristal, ao peixe, à fera, e a uma ave?
Pensar não dói... Já entender o brasilês no Brasil na
atualidade...
Entendimentos e Compreensões
Do Monólogo de Segismundo
Da obra La Vida Es Sueno, Ato I, Cena I
do poeta e escritor espanhol
Pedro Calderón de La Barca
do poeta e escritor espanhol
Pedro Calderón de La Barca
Publicado no Grupo Kasal –
Vitória – ES
www.konvenios.com.br/articulistas
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