A Única Liberdade!
“... A
única e autêntica liberdade do ser humano é a do espírito, de um espírito não
contaminado por crenças irracionais e por superstições talvez poéticas em algum
caso, mas que deformam a percepção da realidade e deveriam ofender a razão mais
elementar...!”.
José Saramago
A
grande impostora, a armadilha infernal, é nos acreditarmos os autores de nossas
ações como egos mutáveis e distintos.
A
multidão de "eus" transitórios,
físicos – Os Meus “Eus” (crônica
anterior, já publicada) emocionais e mentais que ocupa as diferentes sequências
do nosso destino é uma sucessão de réplicas inseparáveis do conjunto do drama.
Os papéis não podem decidir ser ou não ser o que são. Resultam de encadeamento
inelutável. No decorrer de um dia, podemos ser, sucessivamente, motorista,
pedestre, apreciador de uma boa refeição, freguês de uma loja, leitor, amante...
Nenhum desses desempenhos é deliberadamente escolhido como tal.
Nossa
existência inteira é um mosaico temporal de papéis de onde se destacam certas
linhas gerais, certas figuras do conjunto. Há papéis menores, fugidios e papéis
dominantes. Há papéis secretos, camuflados, que se escondem sob uma máscara ou
disfarçam sua voz - todos os personagens reprimidos e censurados pelo
inconsciente-.
Enquanto
mantiver a ficção de que somos nós quem decidimos, de que somos os autores de
nossas ações e o donos do jogo, estaremos
mantendo a ficção de um ego distinto, de uma entidade isolada, separada, dotada
de consistência e realidade próprias - daí as tensões, os conflitos, o
implacável mecanismo dos desejos e dos medos.
Em suma,
quanto mais nos acreditamos livres, tanto mais somos subjugados pelos efeitos
perversos da nossa própria ilusão.
Aqueles
que estão despertos (iluminados) sabem
que é absurdo e insensato pretender ter livre arbítrio enquanto fenômeno
individual.
Compreendendo e
aceitando totalmente essa escravidão, ele atinge uma perfeita liberdade
interior porque, em vez de desejar constantemente outra coisa, além, de outra
maneira, deseja apenas o que é tudo o que é.
Já sobre loucura,
linguagem e liberdade, Lacan, um dos discípulos dissidentes de Freud, afirmava:
“Longe de a loucura ser um fato
contingente das fragilidades de seu organismo, ela é virtualidade permanente de
uma falha aberta na sua essência. Longe de ser um insulto para a liberdade, ele
é a sua mais fiel companheira, seguindo seu movimento como uma sombra. E o ser
do homem não somente não poderia ser compreendido sem a loucura como não seria
o ser do homem se, em si, não trouxesse a loucura como o limite da liberdade.”
Do seu
ponto de vista, a noção de liberdade não tem um sentido fragmentário: um dedo
não pode apontar para o céu se a mão pende para o chão. E devemos seguir o
movimento da grande mão histórica, econômica, biológica de que somos um dos
inúmeros dedos. Se endurecer, se resistir tem todas as possibilidades de
entortar ou quebrar.
Para
Kant, a razão que se movimenta no seu âmbito, nos seus limites, faz o homem
compreender-se a si mesmo e o dispõe para a libertação. Mas, segundo Nietzsche,
trata-se de uma libertação escravizada pela razão, que só faz apertar-lhe os
grilhões, enclaustrando a vida humana digna e livre.
Ao
contrário, desde que se revela a nossa natureza essencial, desde que aparece
claramente a nossa identidade fundamental como o divino jogador, todo esse
universo - a começar por nossa própria pessoa - torna-se o Nosso Jogo -, um jogo maravilhosamente livre e espontâneo.
Pensar não Dói... Já
tentar ser livre conosco mesmo...
Entendimentos & Compreensões -
Inspirado
nos estudos de Patrick Ravignant–
Leituras
& Pensamentos da Madrugada
Publicado
no grupo Kasal – Vitória – ES –
www.konvenios.com.br/articulistas
Em
São Paulo – SP –
www.pintoresfamosos.com.br/artigos
Jornais
do RS,SC e PR.
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