segunda-feira, 31 de março de 2014


 

A Única Liberdade!

 

 
“... A única e autêntica liberdade do ser humano é a do espírito, de um espírito não contaminado por crenças irracionais e por superstições talvez poéticas em algum caso, mas que deformam a percepção da realidade e deveriam ofender a razão mais elementar...!”.

José Saramago

 
                                         A grande impostora, a armadilha infernal, é nos acreditarmos os autores de nossas ações como egos mutáveis e distintos.

                                         A multidão de "eus" transitórios, físicos – Os Meus “Eus” (crônica anterior, já publicada) emocionais e mentais que ocupa as diferentes sequências do nosso destino é uma sucessão de réplicas inseparáveis do conjunto do drama. Os papéis não podem decidir ser ou não ser o que são. Resultam de encadeamento inelutável. No decorrer de um dia, podemos ser, sucessivamente, motorista, pedestre, apreciador de uma boa refeição, freguês de uma loja, leitor, amante... Nenhum desses desempenhos é deliberadamente escolhido como tal.

                                        Nossa existência inteira é um mosaico temporal de papéis de onde se destacam certas linhas gerais, certas figuras do conjunto. Há papéis menores, fugidios e papéis dominantes. Há papéis secretos, camuflados, que se escondem sob uma máscara ou disfarçam sua voz - todos os personagens reprimidos e censurados pelo inconsciente-.

                                       Enquanto mantiver a ficção de que somos nós quem decidimos, de que somos os autores de nossas  ações e o donos do jogo, estaremos mantendo a ficção de um ego distinto, de uma entidade isolada, separada, dotada de consistência e realidade próprias - daí as tensões, os conflitos, o implacável mecanismo dos desejos e dos medos.

                                      Em suma, quanto mais nos acreditamos livres, tanto mais somos subjugados pelos efeitos perversos da nossa própria ilusão.

                                      Aqueles que estão despertos (iluminados) sabem que é absurdo e insensato pretender ter livre arbítrio enquanto fenômeno individual.

Compreendendo e aceitando totalmente essa escravidão, ele atinge uma perfeita liberdade interior porque, em vez de desejar constantemente outra coisa, além, de outra maneira, deseja apenas o que é tudo o que é.

 Já sobre loucura, linguagem e liberdade, Lacan, um dos discípulos dissidentes de Freud, afirmava:

“Longe de a loucura ser um fato contingente das fragilidades de seu organismo, ela é virtualidade permanente de uma falha aberta na sua essência. Longe de ser um insulto para a liberdade, ele é a sua mais fiel companheira, seguindo seu movimento como uma sombra. E o ser do homem não somente não poderia ser compreendido sem a loucura como não seria o ser do homem se, em si, não trouxesse a loucura como o limite da liberdade.”
 

 

                                      Do seu ponto de vista, a noção de liberdade não tem um sentido fragmentário: um dedo não pode apontar para o céu se a mão pende para o chão. E devemos seguir o movimento da grande mão histórica, econômica, biológica de que somos um dos inúmeros dedos. Se endurecer, se resistir tem todas as possibilidades de entortar ou quebrar.

                                Para Kant, a razão que se movimenta no seu âmbito, nos seus limites, faz o homem compreender-se a si mesmo e o dispõe para a libertação. Mas, segundo Nietzsche, trata-se de uma libertação escravizada pela razão, que só faz apertar-lhe os grilhões, enclaustrando a vida humana digna e livre.

                                    Ao contrário, desde que se revela a nossa natureza essencial, desde que aparece claramente a nossa identidade fundamental como o divino jogador, todo esse universo - a começar por nossa própria pessoa - torna-se o Nosso Jogo -, um jogo maravilhosamente livre e espontâneo.

 

Pensar não Dói... Já tentar ser livre conosco mesmo...

 

 

 

Entendimentos & Compreensões -
Inspirado nos estudos  de Patrick Ravignant–
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Publicado no grupo Kasal – Vitória – ES –
www.konvenios.com.br/articulistas
Em São Paulo – SP –
www.pintoresfamosos.com.br/artigos
Jornais do RS,SC e PR.
 

 

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