“... Nos grandes feitos, algo subsiste. Nos grandes espaços,
algo permanece. Formas mudam e passam, corpos desaparecem,
mas os espíritos ficam para
consagrar o solo que servirá de morada
à visão da alma. E homens
reverentes, e mulheres vindas de longe,
e gerações que não nos conhecem e não nos conhecerão, um dia
chegarão até aqui para pensar e sonhar.
E o poder da visão passará para suas almas...!”
Joshua Lawrence Chamberlain, 1828-1910.
Livres
e juntos. Separados mas coesos. Antagônico? Talvez. Porem esta-se visualizando
novos tipos de relacionamentos. Em todos os sentidos. Pessoas querendo mais de
si mesmo e esperando menos das outras. Em uma das mensagens colocadas na rede
mundial de computadores, está assim: “...
Quem disse que para estar junto precisa estar perto? (...)”.
Ao entrarmos neste universo busco
a citação de Laura Potter, por Zygmund Baumann, ao dizer que ela embarcou em uma
habilidosa exploração de todos os tipos de “sala
de espera” na expectativa de que viesse a encontrar ali “pessoas impacientes, descontentes,
agitadas, xingando cada milissegundo perdido” – explodindo diante da
necessidade de esperar pelo “assunto
urgente”, qualquer que fosse que os levara para lá. Com nosso “culto à satisfação instantânea”, pondera
ela, muitos de nós “teríamos perdido a
capacidade de esperar”. Como se neste momento “esperar” se transformasse em um palavrão. Queremos tudo para
agora.
E levamos isso para tudo.
Principalmente os relacionamentos.
Para Abraham Maslow, toda e
qualquer “oferta” exige certo sacrifício
da parte do doador, e é precisamente a consciência do autossacrificio que
aumenta seu sentimento de felicidade.
Porem antes de querermos ser “dois”, precisamos aprender a ser “um”.
Anular o passado, “renascer”, adquirir um eu diferente, e
mais atraente ao mesmo tempo em que se descarta aquele que “está velho”, usado e não é mais desejado.
Reencarnar como “uma pessoa completamente diversa” e
começar de “um novo início”...
São sedutoras ofertas e difíceis
de serem rejeitadas de imediato.
Em verificações atuais sobre os
novos tipos de relacionamentos que tendem a substituir o antigo “até que a morte os separe”, outro
autor, Stuart Jeffries observou a maré montante de “compromissofobia” e descobriu que são “cada vez mais comuns” os “esquemas
de comprometimento “light” que minimizam a exposição a riscos”.
Esses esquemas, na visão do
autor, visam a espremer o “veneno do
ferrão”.
Entrar em um relacionamento é
sempre um negocio arriscado, já que as armadilhas e espinhos do convívio tendem
a se revelar gradualmente e é muito difícil realizar antecipadamente seu
inventário total.
Entrar em um relacionamento
associado ao compromisso de mantê-lo a despeito de qualquer adversidade, o que
quer que aconteça, é como assinar um cheque em branco. Isso
pressagia a possibilidade de se confrontar com algo ainda desconhecido, e com
desconfortos e sofrimentos inimagináveis, sem uma cláusula de escape que possa
ser invocada.
Assim os relacionamentos “novos e aperfeiçoados”, de “comprometimento light”, reduzem seu
tempo de duração para que ele seja o mesmo da satisfação que produzem: o
compromisso e é valido até que a satisfação desapareça ou caia abaixo de um
padrão aceitável – e nem um instante a mais.
Os parceiros são mantidos
perpetuamente em estado de nascimento, incertos quanto ao futuro, precisando
constantemente provar de modo cada vez mais convincente que “ganharam” e “merecem” a simpatia e a lealdade do
parceiro.
“Ser amado” nunca é
suficientemente obtido e confirmado, continua sendo eternamente condicional – a
condição sendo um suprimento constante de evidências sempre renovadas da
capacidade de estar sempre um passo a frente - contrariando com isso o
pensamento imortal de Nietzsche -.
Mas e a ambiguidade da
incondicionalidade tão perpetuada por ele e agora uma condicionalidade requerida?
Ele continua tendo razão. Porém,
estamos experimentando novas realidades a partir de seus pensamentos. Estamos
nos conhecendo um pouco mais, conhecendo mais o outro, esperando mais de nós,
esperando menos do outro.
Desta forma em nossos momentos,
atuais, a lealdade por toda a vida é uma benção misturada com muitas maldições.
E se as ondas mudarem de direção, e se acenarem com novas oportunidades? E se o
próximo e querido não for mais querido, mas continuar perturbadoramente
próximo?
Daí a ansiedade, o medo de perder o que se tem
misturado com o medo de ser incapaz de se livrar daquilo que não é mais
desejado – encimados pelo medo de se encontrar na extremidade receptora do
ímpeto e determinação do parceiro.
Para alguns autores traçar essa
fronteira com precisão pode ser uma tarefa torturante, mas de uma coisa podemos
ter certeza: onde quer que se encontre, ela é violada no momento em que se
declarar que atar e desatar vínculos são atos neutros, moralmente indiferentes,
de modo que ambos são eximidos de responsabilidade pelas consequências
recíprocas de seus atos.
Aquela mesma responsabilidade
incondicional que o amor promete, para o que der e vier, e luta para construir
e preservar.
A felicidade, lembrando o que diagnosticou
Kant, é um ideal não da razão, mas da imaginação.
Ele também advertiu, conforme
Baumann, que o caráter tortuoso da humanidade, nada de reto poderia ser feito.
John Stuart Mill pareceu combinar as duas sabedorias em sua advertência: “quando você pergunta para si mesmo se é
feliz, você deixa de sê-lo”.
Independente de qualquer visão de
pensadores e estudiosos e para nós simples mortais? O que significa? Como
estamos enfrentando tudo isso nesta, dita, modernidade? E tão necessitados de
amar? De sermos amados?
Medos de errarmos novamente?
Que tal apenas não fazermos os
mesmos erros? Que tal experimentar? Se errarmos, serão novos erros. Vamos ao
menos começar a pensar nisso?
E pensar não dói... Porém
amar-se, sobretudo, para amar o outro, parece ser uma nova velha condição de experimentar não mais falsas felicidades, mas sim
momentos específicos e aflorados de uma vida feliz.
Quem sabe não esta aí a
diferença? Por que não podemos pensar diferente em nossa modernidade,
sobretudo, começarmos a agir diferente? Mas acima de tudo, amar muito novamente.
O restante fica para você colocar
em prática e ajudar a buscar uma nova forma de amarmos amando.
Nos grandes feitos, algo subsiste...
Baseado nos pensamentos citados
de autores
Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da
Madrugada
Publicado no Sitio da Kasal –
Vitória – ES – em 27.03.2013
http://konvenios.com.br/info/Artigos.aspx?codAutor=117
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