#SOSEducacao:
A Pedagogia brasileira!
... Ou, modismo pedagógico?
- IIª Parte -
“...Todo
sistema de educação é uma maneira política de
manter ou
de modificar a apropriação dos discursos,
com os
saberes e os poderes que eles trazem consigo...!”
Michel Foucault
Como Piaget, Vygotsky não formulou uma teoria pedagógica, embora o
pensamento do psicólogo bielo-russo, com sua ênfase no aprendizado, ressalte a
importância da instituição escolar na formação do conhecimento. Para ele, a
intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente. Ao
formular o conceito de zona proximal, Vygotsky mostrou que o bom ensino é
aquele que estimula a criança a atingir um nível de compreensão e habilidade
que ainda não domina completamente, "puxando" dela um novo
conhecimento. O psicólogo considerava ainda que todo aprendizado amplia o
universo mental do aluno. O ensino de um novo conteúdo não se resume à
aquisição de uma habilidade ou de um conjunto de informações, mas amplia as
estruturas cognitivas da criança. Assim, por exemplo, com o domínio da escrita, o aluno adquire também
capacidades de reflexão e controle do próprio funcionamento psicológico.
Desse modo, o aprendizado não se subordina totalmente ao desenvolvimento
das estruturas intelectuais da criança, mas um se alimenta do outro, provocando
saltos de nível de conhecimento. O ensino, para Vygotsky, deve se antecipar ao
que o aluno ainda não sabe nem é capaz de aprender sozinho, porque, na relação
entre aprendizado e desenvolvimento, o primeiro vem antes. É a isso que se
refere um de seus principais conceitos, o de zona de desenvolvimento proximal,
que seria a distância entre o desenvolvimento real de uma criança e aquilo que
ela tem o potencial de aprender – potencial que é demonstrado pela capacidade
de desenvolver uma competência com a ajuda de um adulto.
Em outras palavras, a zona de desenvolvimento proximal é o caminho entre
o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de conseguir
fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e trabalhar o percurso
de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que um professor
precisa ter, segundo Vygotsky.
Para pensar:
Vygotsky atribuiu muita importância ao papel do professor como
impulsionador do desenvolvimento psíquico das crianças.
A ideia de um maior desenvolvimento conforme um maior aprendizado não
quer dizer, porém, que se deve apresentar uma quantidade enciclopédica de
conteúdos aos alunos. O importante, para o pensador, é apresentar às crianças
formas de pensamento, não sem antes detectar que condições elas têm de
absorvê-las. E você? Já pensou em elaborar critérios para avaliar as
habilidades que seus alunos já têm e aquelas que eles poderão adquirir? Percebe
que certas atividades estimulam as crianças a pensar de um modo novo e que
outras não despertam o mesmo entusiasmo?
“Todo aprendizado
ocorre por meio de signos.”
O processo comunicativo é fundamental à cognição. Aprendemos
comunicando, e comunicamos aprendendo. Mesmo sem querer, comunicamos (por meio da linguagem corporal, por
exemplo). Mesmo sem querer, aprendemos, todas as vezes que participamos de
uma cadeia sígnica. Estamos no mundo nos comunicando e aprendendo. Os objetos à
nossa volta e dentro de nós produzem diálogo constante, constante
processamento, constantes produção de signos. Quando vamos ao cinema,
aprendemos alguma coisa em nossa leitura do filme. Se o conteúdo apreendido é
eticamente interessante, é outra questão. Se assistirmos um acidente, um fato
trágico, ao conversarmos nos bar, na Igreja, no olhar vitrines. Estamos sempre
aprendendo. A diferença com o conhecimento proposto pela instituição escola, ou
pela universidade, é que a universidade procura conduzir o caminho de aprendizado,
com objetivos claramente pedagógicos. Ir ao cinema pode parecer mais agradável,
pois vamos quando queremos o que é importantíssimo: o afeto inicia qualquer
relação de aprendizado – o que não me afeta, não atinge minha mente, não
formará signo. Ir à universidade pode parecer obrigação, mas ali o sujeito é
exposto a conteúdos de uma área que escolheu para estudar e para agir
profissionalmente. É fundamental que haja algum afeto.
Na escola, portanto, procura-se o conhecimento sistemático, induzido.
Aqui os objetos estão disponibilizados para quem puder e quiser entrar em
processo semiótico, cada um de acordo com suas possibilidades, de acordo com
seus signos prévios. Quanto mais exposição ao processo, quanto mais aumenta o
capital de signos disponíveis, maior possibilidade de aprofundamento em
determinada área, maiores as possibilidades de estabelecer relações entre os
objetos. Entenda-se, contudo, que para a semiótica, onde ocorrer comunicação há
aprendizado. Há aprendizado onde houver ação do signo. Com esse entendimento,
podemos ampliar a noção de processo educativo, e talvez mudar alguns de nossos
parâmetros. Na sala de aula convencional, toda vez que ocorrer comunicação,
ocorre aprendizado, sempre de acordo com o capital disponível de cada um e
também de acordo com o afeto dado e recebido no processo. Com isso, nota-se que
há tantos ritmos de aprendizado quantos forem os posicionados como alunos –
professor inclusive. Por que insistir na importância do afeto? Porque o afeto
conecta-se à primariedade, categoria fundamental de todo processo semiótico.
Sem esse sentimento de algo que nos toca não se efetua o processo sígnico
completo. O professor tem grande responsabilidade na condução do processo
comunicativo/cognitivo, porém o aluno também é agente, é sujeito. O aluno não é
passivo, não deve ficar a espera de um conhecimento pronto. O professor atua
como um signo intermedeia os objetos do mundo ao aluno, ambos
produzindo conhecimento nesse processo semiótico. “Os três aspectos: mundo, aluno e professor estão envolvidos no
processo, em uma trilha de conhecimento”.
Das análises do mestre Nelson Valente
Prof. Universitário, Jornalista e Escritor
Santa Catarina – SC –
Exclusivo para a Sala de Protheus
Referência:
(SILVA,
A. C. T. da. A perspectiva semiótica da educação. Revista Teoria e Prática da Educação, Maringá,
v. 11, n.3, p.259-267, set-dez. 2008).
(VALENTE,Nelson.
Não adapte. Adote. O livro do professor. Intermedial Editora, 2009, São Paulo).
(______________.
Elementos de Semiótica – comunicação verbal e alfabeto visual. Panorama
Editora, 1999, São Paulo).
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