A Mestra em Língua Portuguesa Brasilesa
e Literatura a Mineira Claudia Carvalho traz mais uma preciosidade
literária para a Sala Protheus:
“A
Cerejeira e Seus Mistérios!”
“... Que é,
pois o tempo? Se ninguém me
pergunta,
eu sei; se quero explicá-lo a
quem me
pede, não sei...!”.
Santo Agostinho
Cerejeiras florescem na alma
desencantada do mundo. É a frase que ecoa incessantemente e me inquieta, ao
mesmo tempo em que me instiga a decifrar seu significado. Existe um só espírito
que rege e leva a humanidade a trilhar caminhos muitas vezes tortuosos e já sem
esperanças? Creio que sim! Sem esperança, sem amor, sem gentileza, sem tudo
aquilo que nos diferencia de meros matagais e espinheiros.
Mas,
mesmo diante deste quadro opaco, sem beleza alguma, sem esperança alguma, ainda
restam almas que acreditam e lutam e se doam! E quando tudo remete à morte, à
solidão, à rigidez, inflexibilidade, existem almas cerejeiras que, mesmo em
condições adversas, surgem lindas, esplendorosas, cheias de cor e encanto! O
que seria do mundo, se não fossem as almas cerejeiras?
Considerada uma metáfora para vida, a
cerejeira floresce brilhante, sem nunca falhar mesmo diante do inevitável
outono, outono no tempo, outono na alma. O florescer da árvore de cereja é a
mais pura manifestação de beleza. Flores de cerejeiras são constelações que
orquestram uma música oculta, de uma partitura que a muito se perdeu. São
sonhos com castelos, com límpidos riachos, brumas esvoaçantes. Enchem as tardes
de perguntas e respiram as noites nebulosas.
A alma desencantada do mundo deveria
deixar que seu ar enchesse seus pulmões de beleza e esperança. Deveria aproveitar
para gritar: - Eu estou viva e quero viver plenamente o tempo que for meu!
Deveria se reinventar, deixar que seus pés se transformassem em raízes que se
espalhassem por uma estrada luminosa que a levassem até o moinho da própria
vida.
Entretanto a flor enfraquece
rapidamente e é espalhada pelo vento, esta é a morte perfeita para um
verdadeiro guerreiro que viveu com consciência constante, a natureza
transitória da existência. A verdadeira alma guerreira vive aprendendo
diariamente. O lema samurai da cerejeira é, "Este é um dia bom para morrer”.
Os pensamentos ainda dormem, quando um
raio de luz, anuncia a chegada da primavera. As delicadas pétalas bailam no ar
e enfeitam o chão, morte linda, que perfuma e deixa seu precioso fruto. A alma
agora, meio encantada, metade gente, metade flor do mistério, metade cerejeira.
O que estaria trazendo esse novo despertar? Um milagre? Uma renovação na seiva
que é agora o próprio sangue do mundo? Belos frutos cor do pecado?
O mistério cintila, se desdobra e
liberta a alma sem esperança, as pétalas, agora asas, brilham e galopam
livremente como cavalos alados. Então saltam consciente rumo a morte certa, não
temida! Salta em um só impulso, em uma
dança louca e colorida, rumo a distantes galáxias, nos esconderijos dos ventos,
nos casulos do tempo, entre as páginas de um livro, flores secas no redemoinho,
na fumaça azulada dos sonhos, a alma
agora, totalmente encantada existe, a cerejeira existe, as estrelas existem, o
cavalo alado existe.
Nós existimos!
Entendimentos &
Compreensões
Dos pensamentos de minha
amiga
Cláudia
Ezídgia de Carvalho - Minas Gerais -
Licenciatura
em Língua Portuguesa Brasilesa
Universidade Federal de Ouro Preto
Mestrado
em Literatura Comparada
Unicamp
- SP
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