sexta-feira, 11 de março de 2016


#SOSEducacao:

Umberto Eco - À Frente
de Seu Tempo!
(1932/2016)

“...Certas coisas se sentem com o coração.
Deixa falar o teu coração, interroga os rostos,
não escutes as línguas...!”



                                                                                                             Umberto Eco


                             Professor, ensaísta, romancista, cronista, linguista, semioticista? Como qualificá-lo. Nascido em 1932, Umberto Eco nunca abandonou sua principal ocupação, a pesquisa da linguagem, impondo-se como mestre inconteste da semiótica (estudo dos códigos e dos signos). Umberto Eco penetrava no mundo das palavras como se entrasse num mosteiro: com devoção, quase obsessivamente. Ele falava com convicção e clareza, como do alto de sua cátedra, gesticulando as mãos em bom italiano. Sempre à cata de uma referência erudita ou de uma metáfora mais apropriada. É pouco dizer que ele foi um erudito. Il professore era um curioso do tipo patológico, acrescido de um perfeccionismo obstinado. Esse homem brilhava por trás da barba!
                         Umberto Eco, afirmou: “A questão fundamental para mim é a seguinte: será que o mundo existe mesmo?” E acrescentou: -“Estou cada vez mais convencido, da possibilidade de que o mundo não existe, de que ele nada mais é do que um produto da linguagem. Em vista de tantos idiotas que rodeiam, ia sentir-me culpado de tê-los imaginado. Prefiro acreditar que eles existam independentemente de minha responsabilidade pessoal”.


                           Cada língua propõe um modelo de mundo diferente. A diversidade das línguas é uma riqueza. Esse é um fato indiscutível, ligado, provavelmente à natureza humana. Durante séculos, não desfrutamos desse tesouro, porque sempre houve uma língua que predominava sobre as demais: o grego, o latim, o francês, o inglês. O conhecimento torna-se, então, um elemento de irritação ou de rejeição, do mesmo modo que um marido e sua mulher podem acabar brigando cada vez mais a medida que vão convivendo. A língua tem razões que a própria razão desconhece. Umberto Eco: "Minha filha, que é bilíngue, pediu à sua mãe uma noite dessas: “Mamãe, conte-me uma Geschichte.” Para ela, Geschichte é o conto, a história de Chapeuzinho Vermelho. Para nós, é História em 12 volumes".

                           Nem sempre foi esse o caso. A linguagem de Pascal ou de Descartes é simples e corriqueira. O próprio Bergson que trabalha com conceitos difíceis, fala sem tecnicismos. Na segunda metade do século passado, as coisas mudaram. Por que o francês de Lacan parece difícil? Porque sua sintaxe não é francesa, é alemã! De fato, nos anos 60 houve uma verdadeira invasão alemã na filosofia francesa. Daí a ruptura entres os dois continentes. Isso criou uma barreira enorme entre a filosofia insular e a continental. Os anglo-saxões, Locke e Berkeley, falam como todo mundo. Wittgenstein, quando começou a pensar em inglês, utilizava uma linguagem simples. Eis a razão por que os americanos gostavam tanto de Gramsci - porque ele não se valia do jargão alemão - e por isso eles não se deixaram contaminar pela fenomenologia, por Heidegger, que lhes é incompreensível. Todavia, cederam diante dos franceses germanizados, que influenciaram sua literatura e, depois, sua filosofia. Já é difícil traduzir Lacan em “francês”, imagine em inglês. No Brasil também aconteceu a mesma coisa: basta que um termo seja alemão para que seja considerado com seriedade.

                        Houve momentos, no decorrer do século passado, que a filosofia se recusou a falar do mental sob o pretexto de que não podia vê-lo.
                   Hoje em dia, com as ciências cognitivas, as questões do conhecimento - o que quer dizer conhecer, perceber, aprender! - tornaram-se centrais. Os progressos da ciência permitem tocar naquilo que antigamente era invisível, o que obriga a Semiótica questionar: como é que a linguagem estrutura a percepção que temos das coisas?
Enfim, como disse Umberto Eco (1984): vivemos em uma sociedade construída num complexo “sistemas de signos”. Em um sitio, diferentes signos podem entrar na composição do documento como o signo linguístico (o texto), signo icônico (a imagem, a metáfora, o sinal) e signo sonoro (um barulho, uma fala, uma música). Os signos de ordem plástica, como o desenho (fixo ou animado), a fotografia, o jogo de cores, também constituem esse complexo sistema de signos.




  Das Percepções & Entendimentos.
E dos diálogos com Nelson Valente.
Professor Universitário, Jornalista e Escritor.
Santa Catarina – SC – 
 Arquivos da Sala de Protheus!    


 Obs.:
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O  editor

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