sábado, 12 de abril de 2014


A Mestra em Língua Portuguesa Brasilesa
e Literatura a Mineira Claudia Carvalho
É a convidada da Sala Protheus:

 
 

Intacta Flor!

 

 

 
“... Só sei que somos jardim...
Ao se sentir cuidado, até o capim
nasce bonito... Imagine então seres humanos...!”.
 
R. Miranda

  

Em toda sua plenitude, formosa e exótica, a misteriosa flor, em sua profusão de cores e formas, permanece intacta. Acessível somente aos olhos, espelho d'alma, portal mágico do desejo! O que as torna ainda mais belas e preciosas

 O fato de permanecer intocável a torna majestosa. Só se pode sentir seu esplendor com o olhar. O desejo aflora os sentidos, torna-se a flor da pele, mas há uma angústia: ninguém tocará sem se ferir a intacta flor do sertão! A Flor de Cacto!

Existem amores de orquídeas, amores de lírios, amores de rosas, de todas as cores, amores de flores do campo e o ininteligível amor da flor de cacto. È um amor tão sincero e legítimo quanto os outros. Porém, é um amor que resiste que se protege que se defende. Para ele só serve a delicadeza, a sabedoria e a sutileza! Mãos indelicadas jamais colheram esse amor!

 Esse amor flor de cacto é sui generis, perspicaz como só ele pode ser. Chama a atenção com sua beleza  multicor e multiforme. Despertam seu desejo, mas só aquele desejo vindo da alma, fruto da delicadeza consegue se aproximar, pois esse amor é espinhoso e fere quem inadvertidamente o tocar de forma abrupta ou sem cuidado. Esse amor jamais será esmagado por mãos ávidas de qualquer tipo de amor, para apenas satisfazer o desejo do olhar!

Contudo, há quem com mãos zelosas e gentis, toquem, colham e até cultivem, a selvagem beleza  da intocável e por isso, intacta flor de cacto. Por traz de sua beleza exótica e de seus espinhos, a intacta flor possui um enigma que só o silêncio, com sua musicalidade oculta, conseguem penetrar.

 Um ser especial e sábio, encosta seu ouvido ao chão para perceber o silêncio misterioso da intacta flor. E o que ouve é um majestoso tropel de cavalos selvagens, selvagens como os cactos, que desde  sempre lhe atravessam os sonhos de amor! E então, no final da tarde, o céu azul escuro, recolhe a flor, no silêncio da rotação da terra que em seu interior é o próprio galopar de cavalos, pescador do tempo, pescador de ilusões, pescador do amor da intacta flor!

A flor respira com avidez a morte ardente, mas seu pulmão se enche de estrelas e seu grito é meu nome ao vento! Reinvento-me, eu, a própria flor de cacto, então me pergunto: - Quem sou eu? Uma tempestade? Um tropel de cavalos? Ou simplesmente uma selvagem flor de cacto. A resposta é imediata: existo dentro de um cacto, em seu oco, sou sua seiva que mata a sede. E meus pés se confundem às raízes e caminham dentro da terra, reconhecem a vibração do som da noite subterrânea. Meus braços são pequenas adjacências que brotam em torno de mim.
 
 

 
Eu cacto, um só pensamento me aflige. Minha imobilidade perdura a séculos! Sinto medo da solidão, medo do meu próprio medo, medo de meus espinhos! Então clamo pelas raízes já apodrecidas na terra e meu grito são notas dissonantes e distorcidas, acordes estridentes de um violino quebrado. A canção fala do medo e a melodia infernal, repete sem parar: “Flor Mortal”.

Em cada beira de abismo me sento e um anjo vem até mim e me sussurra aos ouvidos: - As encruzilhadas, os caminhos desconhecidos, atenta! Então, quero sair da minha estabilidade estática e coloco todos os meus anseios e medos em suas delicadas mãos. Seu hálito me acalma. E ele continua sussurrando, - Durma bela flor, não sinta medo, descansam às sombras de minhas asas, não temas seus sonhos. E em algum lugar no firmamento, enfim repouso! 

 

 
Entendimentos, Compreensões, Sensibilidade
e pensamentos de minha amiga
Cláudia Ezídgia de Carvalho  -  Belo Horizonte – M. G. -
Licenciatura em Língua Portuguesa Brasilesa .
 Universidade Federal de Ouro Preto  - M.G.
Mestrado em Literatura Comparada
Unicamp – SP.
 
 

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