“Amizade!”
- A Partilha do Melhor
de Nosso Ser –
“... A amizade, às vezes,
tem um valor incalculável
para umas pessoas, mas
para outras, tem apenas um valor.
Valor este que só existe quando se precisa
desse amigo...!”
Eça de Queiroz
No século IV a C, em
Siracusa, na Sicília, havia dois amigos inseparáveis. Nada havia que um não
fizesse pelo outro. Certo dia o rei de Siracusa, Dionísio, aborreceu-se ao
tomar conhecimento de certos discursos que Pítias vinha fazendo.
O jovem pensador andava
dizendo ao público que nenhum homem devia ter poder ilimitado sobre outro. E
que os tiranos absolutos eram reis injustos. Presos ambos os amigos, Pítias
reafirmou perante a autoridade real as suas ideias. O que dizia ao povo era a
verdade e, portanto a sustentaria, custasse o que custasse.
Acusado de traição,
Pítias foi condenado à morte. Como seu último desejo, pediu ao rei que o
deixasse dizer adeus à sua mulher e filhos e por os assuntos domésticos em
ordem. Dionísio riu do desejo do condenado.
"Vejo
que além de injusto e tirano, você também me considera um tolo. Se sair de
Siracusa, tenho certeza que nunca mais voltará", disse o rei.
Foi nesse momento que
Damon adiantou-se e ofereceu-se como garantia.
Ficaria em Siracusa
como prisioneiro, até o retorno do amigo. "Pode
ter certeza de que Pítias voltará. Nossa amizade é bem conhecida. Eu ficarei aqui."
Ainda um tanto
desconfiado, Dionísio examinou os dois amigos. Alertando Damon que, se Pítias
não voltasse, ele morreria em seu lugar, aceitou a oferta. Pítias partiu e
Damon foi atirado na prisão.
Muitos dias se passaram. Pítias não voltava e
o rei foi verificar como estava o ânimo do prisioneiro. Estaria arrependido de
ter feito o acordo?
"Seu
tempo está chegando ao fim", sentenciou o rei de Siracusa. “será inútil implorar misericórdia”.
Você foi um tolo em confiar em seu amigo.
Achou
mesmo que ele voltaria para morrer?".
Com firmeza, Damon
respondeu: "É um mero atraso. Talvez
os ventos não lhe tenham permitido navegar. Talvez tenha tido um imprevisto na estrada.
Guardo a certeza que, se for humanamente possível, ele chegará a tempo." Dionísio
admirou-se da confiança do prisioneiro.
Chegou o dia fatal.
Damon foi retirado da prisão e levado à presença do carrasco.
Lá estava o rei,
sarcástico, gozando sua vitória.
"Parece
que seu amigo não apareceu. Que acha dele agora?" Perguntou.
"É
meu amigo. Confio nele", foi à resposta de Damon. Nem terminara de falar
e as portas se abriram, deixando entrar Pítias cambaleante. Estava pálido,
ferido e a exaustão lhe tirava o fôlego. Atirou-se nos braços do amigo.
"Graças
aos céus, você está vivo!" - falou soluçando. "... parece que tudo conspirava contra nós. Meu navio naufragou
numa tempestade. Depois, bandidos me atacaram na estrada. Recusei-me, contudo,
a perder a esperança e aqui estou. Estou pronto para cumprir a minha sentença
de morte."
Dionísio ouviu com
espanto as palavras. Era-lhe impossível resistir ao poder de tal lealdade.
Emocionado, declarou: "a sentença
está revogada”.
“Jamais
acreditei que pudessem existir tamanha fé e lealdade na amizade.
Vocês
mostraram como eu estava errado. É justo que ganhem a liberdade.
Em
troca, porém, peço um grande auxílio."
"Que
auxílio?"
Perguntaram os amigos.
"Ensinem-me
a ter parte em tão sólida amizade."
Pensar não dói... A
amizade também não...
Histórias Contadas
Entendimentos & Compreensões
Publicado no Grupo Kasal – Vitória – ES –
www.konvenios.com.br/articulistas
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