Do Ato de Escrever!
– Seus Costumes e
Estilos –
#SOSEducação!
“... Um discurso é um
texto oralizado. Demétrio costumava
dizer que não existe
nenhum diferença entre as palavras
e a voz dos
inexpertos ignorantes e os sons e
estrépitos
causados pelo ventre
repleto de supérfluo vento. E dizia
isso não sem razão
uma vez que não julgava haver diferença
entre a parte de onde
emitiam a voz (ou escreviam), as partes
inferiores ou a boca,
pois tanto uma quanto outra tinham
o mesmo valor e
substância...!”
Leonardo da Vinci, em
Pensieri, 102.
Tenho circulado, ou melhor, utilizando a
linguagem virtual, “navegado” em meio
a textos, escritos, artigos, crônicas, pensamentos ou simplesmente
escrivinhações (sim, aquele verbo
transitivo que quer dizer escrever
sem arte, nem gosto, coisas sem grande importância; rabiscar, rascunhar). E tenho conhecido maravilhas escritas,
transpiradas. Gente talentosa que faz das palavras uma vocação verdadeiramente
pura para a educação – o que mais necessitamos no Brasil -.
Utilizei no
inicio o pensamento de um italiano, artista e cientista, citando o pensador
cristão do século quatorze, Demétrio. Cerca de duzentos anos depois, outro
italiano, se manifestava parecido. Este L. Pirandello, escritor, deixou na
primeira parte de Seis Personagens à
Procura do Autor:
“... Frases! Frases! Como se o conforto de todos,
diante de um fato que não se explica, diante de um mal que nos consome, não
fosse encontrar uma palavra que não diz nada e na qual nos tranquilizamos...!”
Porém para esta
grande maioria falta, literalmente, estilo. Sim, aquela maneira particular de
escrever, de exprimir o pensamento. Aquele conjunto de características de uma
obra, de um autor, de um momento ou época. Inserindo um modo de vida, um
procedimento, uma atitude, uma maneira de ser. Sim estilo de escrever. Não
estou me referindo ao Estilo internacional, que é a arquitetura funcional, de
formas cúbicas e sem ornamentos, criada por Le Corbusier, Gropius, Mies van der
Rohe, por arquitetos do grupo De Stijl, e que foi adotada em numerosos países a
partir de 1945.
Talvez a forma mais clara disso, seja buscar
Sobre o Oficio do Escritor e o Estilo. Da Leitura e dos Livros. Da língua e das
palavras – 1851, 28 (295a ), do filósofo alemão Arthur Shopenhauer cuja
primeira edição chegou ao Brasil em 2003
pela Martins Fontes.
Retirei alguns trechos, exatamente, sobre
este estilo e sobre o ofício da escrita. E prestem atenção, estou falando de
escrever e de estilo. Longe de chegar perto da linguagem e nela me referindo a Língua
Portuguesa Brasilesa. Esta sim causa verdadeira dor de cabeça nos grandes
escritores clássicos desse País. E uma espécie de “dorzinha de barriga” nos professores de Língua Portuguesa.
Shopenhauer referia-se a esse estilo afirmando:
Há dois tipos de escritor: os que escrevem
por amor do assunto e os que escrevem por escrever. Aqueles tiveram ideais ou
fizeram experiências que lhes parecem dignas de serem comunicadas; estes
precisam de dinheiro, e por isso escrevem, por dinheiro.
Podem ser reconhecidos pela sua tendência a
prolongar ao máximo seus pensamentos e expô-los com meias verdades, obviedades,
de maneira forçada e oscilante, em geral também por seu amor pelo claro ou escuro,
a fim de parecer o que não são, por tal razão, faltam precisão e clareza
completa ao seu texto. Sendo assim, pode-se logo notar que escrevem para
preencher o papel.
Textos são escritos ora a respeito deste, ora
a respeito daquele grande espírito do passado, e o publico que os lê, mas não
lê as obras escritas por eles, porque quer ler apenas as obras que acabaram de
ser impressas, e a bisbilhotice fútil e insípida de uma cabeça superficial
hodierna lhe é mais homogênea e agradável do que os pensamentos de um grande
espírito.
Oh, como se assemelham as cabeças comuns da
mesma espécie! De fato, todas elas foram produzidas a partir do mesmo molde! É
incrível, como a cada uma vem em mente a mesma ideia na mesma ocasião, e nada mais!
Acrescente-se a isso suas baixas intenções
pessoas. E a bisbilhotice indigna de tais sujeitos e é lida por um público
estúpido, basta que tenha sido estampada naquele mesmo dia, enquanto os grandes
espíritos descansam na prateleira dos livros.
É realmente inacreditável a tolice a e improcedência
do público, que deixa de ler aqueles que, em todos os gêneros, são os espíritos
mais nobres e raros de todos os tempos e países, para ler as escrivinhações
diárias dessas cabeças comuns, que todo ano surgem em quantidade imensuráveis, como as moscas – meramente porque foram
estampadas naquele mesmo dia e ainda estão úmidas de tinta.
Tais produções deveriam, antes, permanecer
abandonadas e desprezadas já no dia do seu nascimento, como de fato o serão
após poucos anos e depois para sempre, um material sem valor que servirá apenas
para rir dos tempos passados e de suas patranhas.
Para o argentino Jorge Luis Borges – a quem
todo iniciante na arte de escrever deveria ler – (...)é no espaço do texto onde
tudo pode acontecer inclusive o despertar para a vida, inclusive o entendimento
perante o dilema da morte, genitora de outros nascimentos...!”.
Ótimo.
Escrevinhe, treine. Mas depois escreva. Junte a emoção, pois como afirmava
Borges: Não existe leitor ruim, existem
péssimos escritores.
Continue e Pense...
Afinal, ainda não dói!
Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Publicado no Grupo Kasal
- Vitória – ES –
Do ato de escrever: a temática é vasta se pensarmos que o fio da meada para alguém se tornar um bom escritor começa na infância...As primeiras leituras, as visitas a museus, a interação pais-escola, as músicas, a percepção da natureza como fonte de inspiração. Tudo põe a imaginação numa engrenagem mágica; não fora da realidade, mas fazendo parte dela como força motriz do processo de criação. Quem escreve por obrigação quer logo 'se livrar' da incumbência, diferente de quem sente o prazer das letras formando palavras e gerando significados. Para muitos, escrever dói, porque pensar dói mais ainda. O estilo, que não é a retórica vazia de conteúdo, revela a personalidade e a elegância do autor ao produzir conteúdos deliciosos para se degustar, como um bom vinho. A obra de qualidade decantada no tempo é preciosa... Tem força e substância para atravessar décadas sem perder a pujança orginal do autor.
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