“...
Pois bem, é hora de ir: eu para morrer, e vós para viver.
Quem
de nós irá para o melhor é obscuro a todos,
menos
a Deus....!”
Sócrates, citado em Platão.
Para muitos é
mais fácil morrer do que ver alguém morrer. Há semanas um ser muito especial me
diz: - “... escreva sobre a morte...!”.
Inicialmente
pensei na morbidez. Este ser especial deve estar triste. Ou simplesmente querendo
entender mais da vida. Não acredito em coincidência. Afinal a morte nos ronda
sempre.
Á nós, e aos
que estão ao nosso lado. Às vezes, bem do lado. Muito do lado. Uma ex-aluna,
uma pequena princesa, perdeu o pai, não faz muito tempo. E não sabemos o que
dizer em um momento destes.
Na ultima
semana, remeti aos meus amigos um texto do meu escritor preferido, da
atualidade brasileira, Rubem Alves – Um
Único Momento. O assunto: A morte.
Narrada, como
somente ele sabe fazer. Utilizando a metáfora de um rei se transformou em uma
crônica linda. Recebi centenas de respostas, que adoraram o texto de Rubem.
Mas, que continuavam não entendendo a morte.
”..
Nisto erramos: - diz Sêneca,
filósofo latino, do ano 4 antes da nossa era – em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento futuro, e quanto
grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence a
morte....!”.
Em meio a todos os e-mails, veio um, em especial. Também ex-aluna, amiga muito querida,
minha homônima, e que nos correspondemos muito. Ausente, das correspondências,
por um tempo, recebo dela:
“...A dor da saudade, do nunca mais, faz um nó sem
explicação na garganta, queima, arde... A sensação do corpo frente a tudo isso
é de morte também. Uma morte de uma pessoa viva, uma pessoa que morreu dentro
de mim....!”.
Com essa
morte, ela perdeu o grande amor que estava vivendo. Então está havendo outra
morte: Uma morte em vida, em suas próprias palavras.
Desde o
início dos tempos o homem tenta entender a morte. Ninguém o fez tão bem quanto
os Gregos. Deturpamos muito, nos séculos seguintes, com as religiões,
manipulando seus seguidores, com temores infundados de que, como forma, até de
educação dos filhos, Deus castigava e ate “matava”.
Antagônico
por origem. Quem cria mata? Em seu texto, Rubem Alves diz: “...Tudo que é belo tem de terminar. Tudo o que
é belo tem de morrer. Beleza e morte andam sempre de mãos dadas. Eternidade é o
tempo completo, esse tempo do qual a gente diz: "Valeu a pena”...!”.
Mas porque temos tanto medo da morte? Por que
ela nos apavora tanto? Minha amiga Josy, aqui do sul, classificou o ser humano
com dois tipos de egoísmo:
Um do tipo: quero somente para mim e o outro o
necessário, aquele que nos faz viver, aquele que temos que alimentar, só um
pouquinho, porem distinguindo do primeiro.
Sim somos
egoístas. Não choramos quem foi, choramos a nossa perda. Aquilo que não temos
mais.
Então
choramos diariamente. Um chefe que nos incomoda e nos tira do sério e mata
nossa luz diária, um amigo que nos trai a confiança depositada e nos deixa mais
pobre, morremos porque perdemos confiança em quem amávamos. Um amor que foi
embora, de uma forma ou de outra.
Muitos “mortos” continuam vivendo. Ora para um,
ora para outro. Sofremos igualmente. Mas quando for um amor e, ainda por cima,
não ter mais a vida ao seu lado, então, como diz minha mana, morremos um pouco
também, mesmo ainda continuando a respirar.
Em Poesie
Allá morte, no século dezoito, o poeta italiano Cardarelli disse:
“... Morrer sim / não ser agredido pela morte. /
Morrer convencido de que tal viagem seja o melhor. / E naquele ultimo instante
estar alegre / como quando se contam os minutos / do relógio da estação/ e cada
um vale um século...” .
Mas não ajuda
minha amada amiga. Não ajuda a entender a não
vida. Não ajuda a entender a ausência, o não ter mais. O nunca mais abraçar, beijar, ou poder dizer “te amo”... Não ajuda. Não.
Nietzsche, em
seu Zaratustra, disse: “... Atinge-se a
verdade, através da descrença e do ceticismo, e não do desejo infantil de que
algo seja de certa forma. O desejo da maioria dos seres de estar na mão de Deus
não é verdade. É simplesmente um desejo infantil e nada mais. É um desejo de
não morrer, um desejo do eterno mamilo intumescido que rotulamos de Deus.“.
É nossa eterna carência.
Quem sabe
seja esta a imortalidade que Rubem fala em seu texto. Mas como explicar para
quem perdeu alguém e vive em nossa cultura ocidental? Que não preparou ninguém
para a vida, muito menos para a morte? Como dizer para minha amiga que perdeu
sua paixão e uma vida, que ela está só?
Mas dizendo
reconfortantemente? Sabe a resposta? Não. Precisamos aprender a viver para
entender a morte. E este é o mais difícil dos jogos. Gosto do que Ronald Laing
disse sobre isso:
“... Todos estão jogando um jogo. Todos estão
jogando de não jogar um jogo. Se eu mostro a eles que eles estão (jogando), eu
posso quebrar as regras e ser punido. Eu preciso jogar o jogo deles, de não ver
que eu vejo o jogo...!”. Esta é nossa única
aceitação para a morte. Um jogo para ver quem vence. E jogamos conosco mesmo.
Esqueço as
horas passarem... À noite esta quieta. É como se ela descesse seu manto por
sobre as horas perdidas e do cristal das retinas brotassem pétalas de orvalho
que pelo catre se espalha fecundando despedidas...
Mas, vem
Nietzsche, novamente: “... A recompensa
final dos mortos é não morrer nunca mais...!”.
Para meus
amados seres pensantes, os que querem entender um pouco mais e os que perderam
algo, digo como diria um poeta, do sul:
Mirando a escuridão que me emociona e me faz
retornar a mim mesmo, donde a saudade se aconchega e a lembrança já não pede
licença, donde o amor é eterno e a angústia passageira faz morada eternamente
junto do coração eu espero a morte. A minha morte.
Enquanto isso
se vive. Ou melhor, tenta-se viver, entendendo-a mais. Quem sabe assim a morte
não nos choque mais tanto, o tempo todo.
Vou pensar.
Não dói! Afinal, não quero perder a ocasião de aprender a morrer.
*Em homenagem aos sentimentos
de Elizete Nobre – Rainha de Ébano
Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da
Madrugada
Publicado no Grupo kasal –
Vitória – ES –
twitter.com/profeborto
Belíssimo texto, Borto!!!!!!!!!!! Ótimo como empre!
ResponderExcluirMeu querido Mestre....que texto precioso!! Uma explanaçao clara e objetiva sem ser triste ou mórbida! Sem lamentos ou murmúrios pela perda. Registros de um gênio, um ser com um coraçao gracioso e criativo! Muitíssimo obrigada pela linda homenagem.....aos poucos a dor vai dando lugar a saudade e as belas lembranças! Vc é um querido!!
ResponderExcluirBjos em seu coraçao
Eliz
O carinho de uma amizade não tem distância...
ResponderExcluirela vem por linhas, vem através da nossa telinha e pelos olhos de quem tem a felicidade de enxergar...
Parabéns Mestre...seu texto realmente um presente lindo para uma joia preciosa de amiga, em um momento tão delicado.
BeiJaness no coração dos dois amados amigos.
Jane Di Lello.
Parabéns pelo texto "significou muito pra mim.
ResponderExcluirExcelente sexta-feira; Paz e Amor