“... Nossos pensamentos tem
apenas a energia
que tem nossas palavras...”
Protheus!
Declaro,
a partir de agora, para todos os fins, que estarei, constantemente, muito insatisfeito com o meu desempenho. Em
todos os níveis. Principalmente como Ser.
Também com os resultados, daqueles que precisam e dependem de mim,
necessitam ter.
Sim,
não estou equivocado!
Insatisfeito!
Compartilho,
assim, o belíssimo texto de Cortella, por sua vez citando Guimarães Rosa, no
qual inspirou minha meta:
A
insatisfação.
“... O animal satisfeito
dorme. Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais fundos alertas contra
o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na
indigência intelectual...”!
O
que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e
energia vital e confortável com a maneira como as coisas já estão rendendo-se à
sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A
advertência é preciosíssima:
Não
esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa
margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o
desdobramento. A satisfação acalma, limita amortece.
Por
isso, quando alguém diz: “fiquei muito
satisfeito com o teu trabalho”, é assustador.
O
que se quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja?
Que o ponto atual é meu limite e, portanto,
minha possibilidade?
Que
de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está?
Assim
seria apavorante; passaria a idéia de que desse jeito já basta.
Ora,
o agradável é quando alguém diz:
“... Teu trabalho, ou
carinho, comida, ou aula, ou texto ou música é bom, fiquei muito insatisfeito
e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas...!”.
Um
bom livro não é aquele que, quando termina deixamos um pouco apoiado no colo, absortos
e distantes, pensando que não poderia terminar?
Com
a vida de cada um também ter de ser assim; afinal de contas, não nascemos
prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é
considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento.
É
fundamental não nascermos sabendo, nem prontos; o ser que nasce sabendo não
terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter
nisso alguma dose de ambição, todavia, ambição é diferente de ganância, dado
que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer somente para
si próprio.
Nascer
sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e nunca a criar, inovar,
refazer, modificar.
Quanto
mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado;
aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações
que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Diante
dessa realidade, é absurdo acreditar na idéia de que uma pessoa que quanto mais
vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse mais velha ficasse,
teria de ter nascido pronto e ir se gastando...
Isso
não ocorre com a gente, e sim com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce
pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo.
Por
isso, a partir de agora, sou a minha mais nova edição (revista e, ás vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu
passado e não no presente.
Espero
que mais seres sintam-se insatisfeitos e
inacabados. Para que o nosso melhor aconteça sempre...!
Afinal,
ao menos, Pensar não dói...!
Baseado em Carta da Fonoaudióloga, amiga
e Prof.ª
Andréa Schiavetto -
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Publicado no Grupo Kasal – Vitória – ES-
Em 20.02.2013
http://www.konvenios.com.br/info/Articulistas.aspx
João Guimarães Rosa, o mestre das palavras. As palavras estavam lá, na prateleira, empoeiradas, insatisfeitas. O escritor mineiro fragmentou-as para que nova vida ganhassem, polindo-as com um novo sopro de verniz! "O sertão sozinho"! O ser tao - deixou de ser apenas uma região geográfica p ser o caminho ser... "Quantos caminhos se tem de andar antes de tornar-se alguém", hein, Bob Marley? Somos infinitos, sempre à procura do novo ou de algo que justifique a nossa existência mais bela. Insatisfeita, sempre, messieur Borto, a cada nascer do sol...Semeando à espera de novas e frondosas colheitas. Adorei e me identifiquei! Fabiana Ratis
ResponderExcluirconfesso que a ideia de não ter nascido pronta me deixa um tanto aliviada, Não há necessidade de perfeição em mim, não preciso me sentir tão cobrada por mim mesma, por inúmeros motivos, mas em contra partida me deixa uma responsabilidade dócil de ser melhor a cada dia, de reiventar.
ResponderExcluirAdoro seus textos, bjs