A Bucólica Vida No Campo!
- Bia & Bia –
"...Às
vezes, é preciso um simples cão,
com péssimos modos
mas intenções puras, para
nos ajudar a ver o essencial...!"
Do filme Marley
& Eu
Quando resolvi morar no Park Way vim preparada para
enfrentar escorpiões, cobras e aranhas. Coloquei telas na casa inteira e rezei para que os “bichinhos” ficassem do lado de fora, mal sabendo o que me
esperava...
Em um sábado ensolarado, do tipo produtivo, em que a
gente descansa se esfalfando nas
"duzentas coisas de casa" que aparecem durante a semana, meu filho do meio berrou
da porta da frente, a caminho de um cinema com o pai:
- Mãe, tem uma galinha no jardim!
- ...
- Você ouviu Mãe? Tem uma galinha
passeando no gramado da frente!
- Tá na panela, Pedro César?
- Claro que não, né?
- Então enxota.
Como a última coisa que ouvi do solidário mancebo foi o
barulho do carro já na rua, achei que o assunto estivesse resolvido. Continuei
minha arrumação até às quatro da tarde, hora ideal, segundo todos os
jardineiros de plantão, para se regar o jardim.
Abri a porta da frente, olhei cuidadosamente para os
dois lados, fui até o portão da casa e nada de galinha. Mais tranquila, comecei
a regar minhas plantinhas que estão crescendo que é uma beleza, como se a
jardineira até soubesse o que está fazendo.
Rega daqui, rega de lá, olhei para o canil e vi a Bia –
pois é, ganhei um labrador, preta de quatro anos, chamada Bia. Por quê?
Como o seu pedigree
é algumas vezes melhor do que o meu fiquei com pena de mudar. Além do mais,
meus filhos estão amando, por motivos óbvios –, olhando para ela vi que estava
com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança e resolvi soltá-la.
A moça é meio
desengonçada e, depois de demonstrar sua alegria quase decepando meu dedão do
pé, passou a me acompanhar enquanto eu continuava a rega, um quadro lindo,
quase uma pintura...
Passamos uns dez minutos nesta agonia: penosa na frente, Bia
quadrúpede no meio, Bia bípede atrás, até que consegui trancar a xará na cozinha da churrasqueira.
Perigo temporariamente afastado, passamos uns três
minutos nos encarando, galinha e eu, as duas à beira de um enfarto. Simpatizei
com a coitada, tem cara de galinha paupérrima, magra, escanifrada, parece saída
das páginas de Vidas Secas?
Quando achei que estávamos perigosamente perto de criar
um elo afetivo resolvi sair pelo condomínio, procurando o dono da bichinha.
Soube pelo meu vizinho de muro – testemunha ocular, sadicamente divertida, de todo o meu tormento –
que Magali (batizada por ele, depois que
a filha entendeu “A Magali está no quintal”, em vez de “tem uma galinha no
quintal”) não é de ninguém. É uma “Gení”
das galinhas, desculpem a redundância, que vive nos jardins alheios desafiando
a sorte. Perguntei se ele não gostaria de me ajudar a retirar Magali do meu
terreno e fui gentil, mas fragorosamente rechaçada.
Telefonei para meus filhos, ambos no cinema, o
jardineiro não atende o celular e eu nunca segurei uma galinha viva. Não
pretendo começar agora, o que é que eu faço?
Tranquei Bia
no canil, Pingo e Morgana, que são
menores, fechei comigo dentro de casa. Magali,
neste momento, rodeia a churrasqueira, que estuda com olhos críticos...
Enquanto eu entro no
Google, para saber quanto custam às telas à “prova” de galinhas...
Cenas
da Vida Real
Beatriz
Ramos
Jornalista
& Cronista
Brasília - DF -
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