domingo, 25 de janeiro de 2015


A Bucólica Vida No Campo!
- Bia & Bia –
"...Às vezes, é preciso um simples cão,
com péssimos modos
mas intenções puras, para
nos ajudar a ver o essencial...!"
Do filme Marley & Eu
                        Quando resolvi morar no Park Way vim preparada para enfrentar escorpiões, cobras e aranhas. Coloquei telas na casa inteira e rezei para que os “bichinhos” ficassem do lado de fora, mal sabendo o que me esperava...
                           Em um sábado ensolarado, do tipo produtivo, em que a gente descansa se esfalfando nas "duzentas coisas de casa" que aparecem durante a semana, meu filho do meio berrou da porta da frente, a caminho de um cinema com o pai:
- Mãe, tem uma galinha no jardim!
- ...
- Você ouviu Mãe? Tem uma galinha passeando no gramado da frente!
- Tá na panela, Pedro César?
- Claro que não, né?
- Então enxota.
                              Como a última coisa que ouvi do solidário mancebo foi o barulho do carro já na rua, achei que o assunto estivesse resolvido. Continuei minha arrumação até às quatro da tarde, hora ideal, segundo todos os jardineiros de plantão, para se regar o jardim.
                           Abri a porta da frente, olhei cuidadosamente para os dois lados, fui até o portão da casa e nada de galinha. Mais tranquila, comecei a regar minhas plantinhas que estão crescendo que é uma beleza, como se a jardineira até soubesse o que está fazendo.
Rega daqui, rega de lá, olhei para o canil e vi a Bia – pois é, ganhei um labrador, preta de quatro anos, chamada Bia. Por quê?
                           Como o seu pedigree é algumas vezes melhor do que o meu fiquei com pena de mudar. Além do mais, meus filhos estão amando, por motivos óbvios –, olhando para ela vi que estava com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança e resolvi soltá-la.
                             A moça é meio desengonçada e, depois de demonstrar sua alegria quase decepando meu dedão do pé, passou a me acompanhar enquanto eu continuava a rega, um quadro lindo, quase uma pintura...
De repente ouvi um cocoricó e Bia enlouqueceu. Uma peste de uma galinha surgiu do nada e começou um escândalo digno de um filme de Fellini. Berrava eu, para que a cadela parasse, berrava a galinha, tentando escapar, só quem não berrava era a Bia, muito concentrada em não perder o lanchinho.
Passamos uns dez minutos nesta agonia: penosa na frente, Bia quadrúpede no meio, Bia bípede atrás, até que consegui trancar a xará na cozinha da churrasqueira.
                             Perigo temporariamente afastado, passamos uns três minutos nos encarando, galinha e eu, as duas à beira de um enfarto. Simpatizei com a coitada, tem cara de galinha paupérrima, magra, escanifrada, parece saída das páginas de Vidas Secas?
Quando achei que estávamos perigosamente perto de criar um elo afetivo resolvi sair pelo condomínio, procurando o dono da bichinha.
Soube pelo meu vizinho de muro – testemunha ocular, sadicamente divertida, de todo o meu tormento – que Magali (batizada por ele, depois que a filha entendeu “A Magali está no quintal”, em vez de “tem uma galinha no quintal”) não é de ninguém. É uma “Gení” das galinhas, desculpem a redundância, que vive nos jardins alheios desafiando a sorte. Perguntei se ele não gostaria de me ajudar a retirar Magali do meu terreno e fui gentil, mas fragorosamente rechaçada.
                                  Telefonei para meus filhos, ambos no cinema, o jardineiro não atende o celular e eu nunca segurei uma galinha viva. Não pretendo começar agora, o que é que eu faço?
Tranquei Bia no canil, Pingo e Morgana, que são menores, fechei comigo dentro de casa. Magali, neste momento, rodeia a churrasqueira, que estuda com olhos críticos...
Enquanto eu entro no Google, para saber quanto custam às telas à “prova” de galinhas...
 
Cenas da Vida Real
Beatriz Ramos
Jornalista & Cronista
Brasília - DF -
 

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