Limpe a Sua Geladeira!
“Os instintos, sob a grande
energia repressiva, volvem para dentro: isso é o que se chama interiorização do
homem; assim se desenvolve o que mais tarde denominar-se-á ‘alma’”!
Nietzsche –
Genealogia da Moral – 1886
-
Já aprendemos que de
nada adianta entulharmos o nosso “quartinho
dos fundos”. Aprendemos que ele está localizado em um cantinho de nossa
mente. Exatamente como os “quartinhos das
bugigangas” que existem em cada casa ou apartamento. Como a maioria se deu
bem neste “padrão de limpeza”,
devemos continuar para o resto da casa. Que tal? Vamos Lá?
“Viajando”, dia destes, com meu grande
amigo, psicólogo e filósofo, de Toledo, PR, Mauricio Mantovanelli, discorríamos
ora entre Freud e Jung, ora entre Nietzsche e outros seres que já tinham
descoberto que “Pensar não dói...” sobre
o que o ser faz, ou melhor, não faz, com ele e para ele mesmo.
A partir do “jogo” a respeito
do “quartinho dos fundos”, - artigo anterior- que todo o individuo
faz questão de manter, sujo, infecto, adornado de todo tipo de bichos
peçonhentos e a companhia de outros monstros horripelentos, que cada ser tem a “criatividade” de criar, alimentar e
alojar neste lugar situado entre o inconsciente e seu lado primitivo da mente
humana.
Dizia Mauricio que eliminar as
toxinas do organismo e soltar a tensão nos músculos são procedimentos
conhecidos na medicina holística. A necessidade de purificação física é tão forte
que, como conceito, tornou-se a principal meta tanto nos autotratamentos quanto
na medicina convencional. Um exemplo são as infinitas marcas de vitaminas e
suplementos nutricionais anunciados como “agentes
de limpeza” e purificação. Entre os adeptos de tratamentos alternativos as
opções vão do jejum a dietas ricas em fibras e alimentos crus, até banhos e
imersão com água salgada, exercícios de respiração, megadosagens de vitamina C
e terapias à base de litros e mais litros de água, para ficar no exemplo de Hugh Prather (2003; 27).
Na
abordagem corpo-mente-espírito, vale
tudo para eliminar as forças negativas. No ritual cotidiano, pela manha tomamos
uma chuveirada e escovamos os dentes e, ao longo do dia, lavamos as mãos depois
de cada ida ao banheiro – mesmo que, pessoalmente, discorde deste ponto, penso
que deveríamos lavar antes, já que principalmente o homem cuida tanto do que é seu
não é mesmo?-. Em vez de “água da bica”,
tomamos preferencialmente água mineral.
Os sabões em pó, que lavam nossas
roupas, contêm desinfetantes e usamos produtos antibacterianos para limpar a
cozinha. Muitas casas e até alguns carros possuem sistemas de filtragem do ar.
Estamos muito preocupados em “limpar”
nossos corpos e o ambiente em que vivemos de tudo que possa prejudicar a nossa
saúde e energia, porem, estranhamente, não sentimos a menor necessidade de
esvaziar nossas mentes de tudo o que possa “estragar”,
“azedar”, nossas atitudes, bloquear a
nossa intuição e arruinar nossos relacionamentos.
Que diferença
faz se o corpo está sempre limpinho, desintoxicado e livre de germe, se nenhum
ser vivo que este corpo encontra é confortado? Na verdade, acredita-se que
nossos corpos são mortais e nosso espírito é eterno. Ao menos a grande maioria
das religiões e até filosofias profundas, como o espiritismo, ensina isso.
Diariamente,
hora após hora, voltamos à atenção na manutenção exterior. Nossas roupas estão
limpas, cabelos lavados, enxaguados, e cremes especiais, contra o sol, contra o
excesso de umidade, contra o excesso do excesso do excesso, dentes escovados, e
ainda por cima mastigamos algumas gomas para que o hálito esteja sempre
fresquinho e cheiroso. Porem a mente como está?
Cheia de ansiedades mesquinhas, ressentimentos, mágoas, culpas,
perspectivas deterioradas, preconceitos venenosos e uma lista sem fim de autoimagens
gordurosas, ensebadas, sujas, pequenas. Não nos incomodamos em limpar o lixo
mental que produzimos, hora após hora. É como se o local que estocamos não
tivessem fim, nem sequer tamanho reduzido, visto a quantidade produzida. Sem
esquecer o que a grande maioria dos seres, ainda tem o quartinho dos fundos, para guardar a quinqualharia que vem trazendo
durante toda uma vida.
Assistimos filmes, viajamos
nas histórias da literatura – ao menos alguns -, passamos horas em outra viagem, a da internet, e sabemos outro
sem fim numero de histórias sobre a vastidão e o poder da mente humana. Contamos para as crianças sobre o fantástico,
fabuloso “poder da mente e da imaginação”,
e motivamo-as para que continuem neste caminho.
Adoramos seminários e palestras, principalmente, quando aparecem “encantadores de serpente”, com todas as
mágicas e fórmulas para que qualquer um mude sua vida, facilmente. No fundo isso
é somente um engenhoso trabalho de autoengano, no qual fingimos acreditar que
tudo o que está em nosso gigantesco cérebro é útil, vale a pena guardar, e está
excelente, conservado, em ótimo estado.
Se
pararmos um pouquinho, só um pouquinho, pensarmos, olharmos, verificarmos e
veremos que no lugar desta fabulosa “caixa
mágica”, que julgamos ser nosso cérebro cheio de sonhos, de maravilhas
desconhecidas, de um mundo fabuloso, provavelmente verá que ele se parece como
a maioria das geladeiras. Atulhadas.
“Uma ligeira verificação por
uma pequena prateleira qualquer vamos descobrir coisas tão velhas enfiadas lá
no fundo que nem conseguimos lembrar o momento exato que “compramos” e guardamos”
aquilo. De tão cheios de mofo, bolor, além de um odor repugnante, os
recipientes com todos os restos “guardados”
nos cantos parecem ter vida própria.
Os “cantinhos” de nossa geladeira mental
criaram seus próprios nichos, ou propriedades, azedos e pútridos. Como a cena é
horripilante, temos o impulso de colocar todas essas “coisas bolorentas” bem depressa de volta, nos seus devidos lugares,
para manter a ilusão de que, bem ali, na nossa amada geladeira, só existem
sucos gostosos de laranjas que tomaram todo o sol de suas vidas, maças que
vieram fresquinhas do sul, verduras dos melhores lugares paulistas, plantadas e
cuidadas por japoneses caprichosos – sim, ninguém cuida melhor de verduras que
os japoneses-brasileses-.
Limpar mentes
entulhadas, carregadíssimas não é tarefa pequena. Dr. Mauricio que o diga. É
sua prática diária. Mudou o nome claro, em vez de psicologia, hoje ele é um
agente de saúde e meio ambiente. Sim, pois a alma não é tão suja assim. Leva um
tempo, com toda a certeza do mundo, além disso, é necessária muita coragem, até
porque, sempre acontecerão descobertas não muito positivas. Mesmo assim, quando
as prateleiras de sua “geladeira”
mental estiverem limpas, ariadas, cheirosas, como novas e novamente
organizadas, você poderá colocar as novas maças, laranjas, verduras
fresquinhas, além de alimentos nutritivos. Neste aspecto você descobrirá que o
sacrifício foi pequeno em conseqüência do resultado que isto trará.
O filósofo britânico David Hume (1711-1776) afirma que alguns pensadores
consideram que o homem se guia mais à luz da razão em vez da ação, e buscam
para formar este entendimento em vez de lhe aperfeiçoar os costumes. De certa
forma o filósofo quer que usemos a razão, mas no sentido de aperfeiçoar nossos
sentimentos em consequência dos resultados que podem ser produzidos para a
nossa alma, ou a psique, como gosta o Dr. Maurício.
Uma pequena paradinha, assim como fazemos
para abastecer nosso carro, ou nos alimentarmos se faz necessário para a
limpeza da mente. Os resultados, além do perfume maravilhoso dos produtos fresquinhos
e nutritivos de nossa “geladeira mental”
certamente será uma nova alegria produzida. Afinal, pensar não dói... Não é
mesmo?
Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Publicado no Grupo Kasal – Vitória – ES –
www.konvenios.com.br/articulistas
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