domingo, 18 de agosto de 2013


Limpe a Sua Geladeira!




“Os instintos, sob a grande energia repressiva, volvem para dentro: isso é o que se chama interiorização do homem; assim se desenvolve o que mais tarde denominar-se-á ‘alma’”!
Nietzsche – Genealogia da Moral – 1886 -



                                 Já aprendemos que de nada adianta entulharmos o nosso “quartinho dos fundos”. Aprendemos que ele está localizado em um cantinho de nossa mente. Exatamente como os “quartinhos das bugigangas” que existem em cada casa ou apartamento. Como a maioria se deu bem neste “padrão de limpeza”, devemos continuar para o resto da casa. Que tal? Vamos Lá?
                                 “Viajando”, dia destes, com meu grande amigo, psicólogo e filósofo, de Toledo, PR, Mauricio Mantovanelli, discorríamos ora entre Freud e Jung, ora entre Nietzsche e outros seres que já tinham descoberto que “Pensar não dói...” sobre o que o ser faz, ou melhor, não faz, com ele e para ele mesmo.

A partir do “jogo” a respeito do “quartinho dos fundos”, - artigo anterior- que todo o individuo faz questão de manter, sujo, infecto, adornado de todo tipo de bichos peçonhentos e a companhia de outros monstros horripelentos, que cada ser tem a “criatividade” de criar, alimentar e alojar neste lugar situado entre o inconsciente e seu lado primitivo da mente humana.
                               
 Dizia Mauricio que eliminar as toxinas do organismo e soltar a tensão nos músculos são procedimentos conhecidos na medicina holística. A necessidade de purificação física é tão forte que, como conceito, tornou-se a principal meta tanto nos autotratamentos quanto na medicina convencional. Um exemplo são as infinitas marcas de vitaminas e suplementos nutricionais anunciados como “agentes de limpeza” e purificação. Entre os adeptos de tratamentos alternativos as opções vão do jejum a dietas ricas em fibras e alimentos crus, até banhos e imersão com água salgada, exercícios de respiração, megadosagens de vitamina C e terapias à base de litros e mais litros de água, para ficar no exemplo de Hugh Prather (2003; 27).


                              Na abordagem corpo-mente-espírito, vale tudo para eliminar as forças negativas. No ritual cotidiano, pela manha tomamos uma chuveirada e escovamos os dentes e, ao longo do dia, lavamos as mãos depois de cada ida ao banheiro – mesmo que, pessoalmente, discorde deste ponto, penso que deveríamos lavar antes, já que principalmente o homem cuida tanto do que é seu não é mesmo?-. Em vez de “água da bica”, tomamos preferencialmente água mineral.
 Os sabões em pó, que lavam nossas roupas, contêm desinfetantes e usamos produtos antibacterianos para limpar a cozinha. Muitas casas e até alguns carros possuem sistemas de filtragem do ar.

                             Estamos muito preocupados em “limpar” nossos corpos e o ambiente em que vivemos de tudo que possa prejudicar a nossa saúde e energia, porem, estranhamente, não sentimos a menor necessidade de esvaziar nossas mentes de tudo o que possa “estragar”, “azedar”, nossas atitudes, bloquear a nossa intuição e arruinar nossos relacionamentos.

                       Que diferença faz se o corpo está sempre limpinho, desintoxicado e livre de germe, se nenhum ser vivo que este corpo encontra é confortado? Na verdade, acredita-se que nossos corpos são mortais e nosso espírito é eterno. Ao menos a grande maioria das religiões e até filosofias profundas, como o espiritismo, ensina isso.

                        Diariamente, hora após hora, voltamos à atenção na manutenção exterior. Nossas roupas estão limpas, cabelos lavados, enxaguados, e cremes especiais, contra o sol, contra o excesso de umidade, contra o excesso do excesso do excesso, dentes escovados, e ainda por cima mastigamos algumas gomas para que o hálito esteja sempre fresquinho e cheiroso. Porem a mente como está?

Cheia de ansiedades mesquinhas, ressentimentos, mágoas, culpas, perspectivas deterioradas, preconceitos venenosos e uma lista sem fim de autoimagens gordurosas, ensebadas, sujas, pequenas. Não nos incomodamos em limpar o lixo mental que produzimos, hora após hora. É como se o local que estocamos não tivessem fim, nem sequer tamanho reduzido, visto a quantidade produzida. Sem esquecer o que a grande maioria dos seres, ainda tem o quartinho dos fundos, para guardar a quinqualharia que vem trazendo durante toda uma vida.

                            Assistimos filmes, viajamos nas histórias da literatura – ao menos alguns -, passamos horas em outra viagem, a da internet, e sabemos outro sem fim numero de histórias sobre a vastidão e o poder da mente humana.  Contamos para as crianças sobre o fantástico, fabuloso “poder da mente e da imaginação”, e motivamo-as para que continuem neste caminho.

Adoramos seminários e palestras, principalmente, quando aparecem “encantadores de serpente”, com todas as mágicas e fórmulas para que qualquer um mude sua vida, facilmente. No fundo isso é somente um engenhoso trabalho de autoengano, no qual fingimos acreditar que tudo o que está em nosso gigantesco cérebro é útil, vale a pena guardar, e está excelente, conservado, em ótimo estado.

                          Se pararmos um pouquinho, só um pouquinho, pensarmos, olharmos, verificarmos e veremos que no lugar desta fabulosa “caixa mágica”, que julgamos ser nosso cérebro cheio de sonhos, de maravilhas desconhecidas, de um mundo fabuloso, provavelmente verá que ele se parece como a maioria das geladeiras. Atulhadas.
“Uma ligeira verificação por uma pequena prateleira qualquer vamos descobrir coisas tão velhas enfiadas lá no fundo que nem conseguimos lembrar o momento exato que “compramos” e guardamos” aquilo. De tão cheios de mofo, bolor, além de um odor repugnante, os recipientes com todos os restos “guardados” nos cantos parecem ter vida própria.

                          Os “cantinhos” de nossa geladeira mental criaram seus próprios nichos, ou propriedades, azedos e pútridos. Como a cena é horripilante, temos o impulso de colocar todas essas “coisas bolorentas” bem depressa de volta, nos seus devidos lugares, para manter a ilusão de que, bem ali, na nossa amada geladeira, só existem sucos gostosos de laranjas que tomaram todo o sol de suas vidas, maças que vieram fresquinhas do sul, verduras dos melhores lugares paulistas, plantadas e cuidadas por japoneses caprichosos – sim, ninguém cuida melhor de verduras que os japoneses-brasileses-.
                         Limpar mentes entulhadas, carregadíssimas não é tarefa pequena. Dr. Mauricio que o diga. É sua prática diária. Mudou o nome claro, em vez de psicologia, hoje ele é um agente de saúde e meio ambiente. Sim, pois a alma não é tão suja assim. Leva um tempo, com toda a certeza do mundo, além disso, é necessária muita coragem, até porque, sempre acontecerão descobertas não muito positivas. Mesmo assim, quando as prateleiras de sua “geladeira” mental estiverem limpas, ariadas, cheirosas, como novas e novamente organizadas, você poderá colocar as novas maças, laranjas, verduras fresquinhas, além de alimentos nutritivos. Neste aspecto você descobrirá que o sacrifício foi pequeno em conseqüência do resultado que isto trará.
O filósofo britânico David Hume (1711-1776) afirma que alguns pensadores consideram que o homem se guia mais à luz da razão em vez da ação, e buscam para formar este entendimento em vez de lhe aperfeiçoar os costumes. De certa forma o filósofo quer que usemos a razão, mas no sentido de aperfeiçoar nossos sentimentos em consequência dos resultados que podem ser produzidos para a nossa alma, ou a psique, como gosta o Dr. Maurício.
Uma pequena paradinha, assim como fazemos para abastecer nosso carro, ou nos alimentarmos se faz necessário para a limpeza da mente. Os resultados, além do perfume maravilhoso dos produtos fresquinhos e nutritivos de nossa “geladeira mental” certamente será uma nova alegria produzida. Afinal, pensar não dói... Não é mesmo?

Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Publicado no Grupo Kasal – Vitória – ES –

www.konvenios.com.br/articulistas

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