"Das Dores Da Alma!".
“... Deus é mais belo que eu.
E não é jovem.
Isto sim, é consolo...!”
Adélia Prado
Dos tormentos da alma, o ciúme talvez seja o mais avassalador.
Talvez, ainda, porque ele esteja sempre associado a outras emoções destrutivas como a dúvida, a angustia, a desconfiança, a mágoa...
Ou porque, ao contrário dos demais tormentos, ele germine tanto na ignorância quanto no conhecimento (o que é pior: a dúvida ou a certeza) e tende a crescer quanto mais se pense ou racionalize a respeito.
Há ciúmes de todas as espécies, ciúmes de coisas e pessoas... Há quem diga que um pouco de ciúmes esquenta os relacionamentos.
Há quem diga ser imune a ele. Será?
Pois há, também, o ciúme enlouquecedor.
Espiral, como um ralo, que a tudo draga e por onde tudo se escoa.
Como um trem que avança incessante, dia e noite, alimentando-se em cada estação.
Ruminado e regurgitando sobre trilhos que o impedem de se desviar do destino, este ciúme se instala e devora as entranhas de suas vítimas.
Assim foi detalhadamente apresentado por Tolstoi, na Sonata a Kreutzer. Vivido pelo Bentinho machadiano e sofrido pelo nobre Otelo.
Três clássicos ciúmes, completamente diferentes em suas razões e origens, mas todos os três aprisionando seus personagens numa enorme teia destrutiva.
Há remédio contra o ciúme?
A educação, com certeza, ajuda. O conjunto autoestima elevada e compreensão da alteridade preparam pessoas menos reféns desse monstro de olhos verdes.
A psicanálise também.
Mas, quando se trata de ciúme, só o desconforto é certo e esperado.
Por isso, compartilhando leituras, experiências e sentimentos, podemos começar refletindo sobre os versos de duas músicas brasileiras que falam do tema com bastante objetividade.
Primeiro, Lupicínio Rodrigues, em Nervos de aço.
"Você sabe o que é ter um amor, meu senhor"?
Ter loucuras por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Ao lado de um tipo qualquer ".
E depois, Ataulfo Alves e Mário Lago:
" Atire a primeira pedra, ai,ai,ai
Aquele que não sofreu por amor ". ··
Ah, ciúmes, ciúmes.... Ainda bem que não temos".
Ou então registrado nas letras, nos poemas de Miguel de Cervantes:
Se o ciúme é sinal de amor, como querem alguns,
é o mesmo que a febre no enfermo. Ela é sinal de
que ele vive, porém uma vida enfermiça, maldisposta.
E Rubem Alves:
O ciúme é aquela dor que dá quando percebemos
que a pessoa amada pode ser feliz sem a gente.
Mais Clarice Linspector:
O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes.
Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros.
Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
Por fim, Fernando Pessoa:
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.
Amar é vital... Já sentir ciúmes pode ser opcional!
Pode pensar.... Não dói!
Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
De um dia chuvoso de Outono
Publicado originalmente no Grupo Kasal
Konvenios – Vitória – ES.
http://www.konvenios.com.br/info/verArtigo.aspx?a-id=28703
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